Impecável! Entenda o sucesso do Cruzeiro no Brasileirão em 10 passos

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Com sete pontos de vantagem para o vice-líder Botafogo, o Cruzeiro caminha rumo ao título do Campeonato Brasileiro, o que coroará um planejamento que começou há dois anos e que é um sucesso porque conta com a interatividade da torcida: ela comprou o produto Cruzeiro lotando estádios e ingressando no programa sócio-torcedor. Vejam alguns dos tópicos que fazem da Raposa o time nota 10 do Brasileirão.

1 – Casa arrumada
Presidente eleito em outubro de 2011, no lugar de Zezé Perrela, Gilvan de Pinho Tavares passou a temporada 2012 arrumando as finanças de um clube que chegou a atrasar salário, não tinha estádio para jogar em Belo Horizonte (Mineirão e Independência em obras) e quase foi rebaixado no Brasileiro. Em 2013, o presidente, já com o caixa equilibrado, começou a virar o jogo trabalhando em várias frentes.

– O Cruzeiro conseguiu se organizar e voltar às suas raízes, ter um time competitivo, de ponta, brigando para ser campeão, elogiado na Europa e com jogadores de seleção. Conseguimos dar um pouco de dignidade ao torcedor, que estava desacreditado nos últimos anos – disse o diretor de futebol Alexandre Mattos.

2 – Vender bem...
Em 2012, Gilvan bateu o pé e não negociou Montillo, o que poderia aliviar as finanças. Manteve o astro por mais uma temporada e buscou recursos de outras formas. Este ano fechou com o Santos: R$ 16 milhões mais o volante Henrique. Em julho, aceitou proposta do Metallist (UCR) por Diego Souza: R$ 18 milhões (sendo R$ 10 mi para o Cruzeiro) mais o empréstimo de Willian, que já é titular e um dos melhores do time.

3 ...Comprar melhor
Os R$ 16 milhões de Montillo compraram dois fortes reforços. Primeiro, em janeiro, chegaram o atacante Dagoberto (Internacional), por R$ 7 milhões, e o meia Everton Ribeiro (Coritiba), por R$ 4,5 milhões. Em seguida, o zagueiro Dedé (Vasco) teve 50% dos diretos comprados por R$ 14 milhões. A saída de Diego Souza gerou a chegada de Willian e a possibilidade de trazer um jogador midiático com salário competitivo: Júlio Baptista. Em miúdos: saíram dois de ponta? Chegaram cinco.

– O Cruzeiro tem que entrar em todas as competições para brigar pelo título, portanto precisa contratar grandes jogadores – diz Mattos.

4 – Novo time
Dos 15 jogadores mais utilizados, somente Fábio estava no elenco no Mineiro de 2012. Da atual equipe titular, só três terminaram o ano passado entre os 11 iniciais. E apesar de tantas caras novas, o time logo criou identidade.

5 – Treinador eficaz
Quando a torcida soube que Marcelo Oliveira, antigo ídolo do Atlético-MG, assumiria, se revoltou. Mas o Cruzeiro – que ficou em dúvida entre o atual treinador e Jorge Sampaoli – apostou no técnico que elevou o patamar do Coritiba nos dois anos anteriores. O trabalho dá frutos. Apesar de ter sido vice do Mineiro e da eliminação da Copa do Brasil, nesta temporada o Cruzeiro só perdeu cinco partidas e faz a melhor campanha da história dos pontos corridos até esta fase do Brasileiro.

6 – Sócio-torcedor alavancado
Ao assumir, Gilvan de Pinho priorizou a retomada do programa sócio-torcedor, prejudicado pelo time não jogar em BH. Com boa equipe e jogos no Mineirão, o programa cresceu.

– Apostamos num time competitivo. Se a equipe respondesse dentro de campo, o torcedor daria a resposta na bilheteria, como vem dando. Hoje nosso sócio torcedor tem uma adesão que o Cruzeiro não tinha experimentado – diz Marcone Barbosa, diretor de marketing do Cruzeiro.

A estratégia de marketing é a melhor possível: todo o dinheiro arrecadado vai para o futebol. Segundo Gilvan, esses recursos ajudaram na contratação de Dedé. Ao ver que seu dinheiro está sendo bem gasto, o torcedor ganha confiança. É um círculo virtuoso. Mais adesão, mais craques, e a adesão aumenta: em dezembro o clube tinha 7 mil sócios-torcedores. Em julho, festejou a marca dos 30 mil. Semana passada já contabilizava 34 mil.

– Em 2012 arrecadamos R$ 5 milhões com o programa. Até setembro deste ano já arrecadamos R$ 25 milhões – completa.

Quem aderir paga a partir de R$27,50 e usufrui de direitos que vão desde prêmios e acumulação de pontos a entrada gratuita no Mineirão. As outras modalidades (R$ 90 a R$ 200) dão direito a gratuidades nos jogos.

7 – Efeito Mineirão
Apesar de viver às turras com a Minas Arena (concessionária do Mineirão) por causa das taxas cobradas, a Raposa arrecada como nunca.

– O Cruzeiro hoje já tem o faturamento de R$ 25 milhões brutos em bilheteria. Em 2012 o faturamento fora de R$7,3 milhões. É claro que o Mineirão faz diferença. E a campanha ajuda – disse Marcone Barbosa, projetando que até o fim da Série A, com mais sete jogos em casa, a Raposa chegue a R$ 33 milhões, um aumento de 350%. O Cruzeiro tem direito a 54 mil ingressos mandando seu jogos no Mineirão. Sete mil são da Minas Arena.

8 – Pressão sob controle
O Cruzeiro mostra que trabalha bem a pressão. O time caiu na Copa do Brasil? Depois disso venceu todos os seus jogos. Viu o Atlético levar o Mineiro com a única derrota celeste na competição e ganhar a Libertadores? A resposta em campo é uma campanha exemplar na Série A.

9 – Elenco que não polemiza
O elenco mostra união e humildade. Mesmo com status de superastro, Julio Baptista não se importa com o banco. Dagoberto, outro astro, perdeu a titularidade para Willian. E eis o seu discurso após a vitória sobre o Bota, quando entrou na etapa final:

– Não importa se eu jogo um minuto, ou 30 ou o jogo inteiro. Estou aqui para ajudar e feliz por isso.

10 – Parceiros
O Cruzeiro tem uma diversidade de parceiros que ajudam nas contratações (e dividem participação nos direitos): Grupo Sonda, que ajudou nas contratações de Dedé e Souza; Traffic, que levou Borges, entre outros; BMG, parceiro no negócio com Ricardo Goulart; e os Supermercados BH, parceiro antigo e que auxilia no pagamento dos salários de Dedé. Além disso, conta com sete patrocinadores: BMG (master), que paga R$ 12 milhões/ano, e Olympikus (R$ 8 mi), além de Tim, Guaramix, Brahma, Gatorade, Alpi Medic e Volkswagen (valores não divulgados).

BATE-BOLA
Alexandre Mattos
Diretor de futebol do Cruzeiro

Qual a razão deste momento excelente do Cruzeiro no Brasileiro?
Vou resumir em uma frase: nada resiste ao trabalho. Fizemos investimentos ousados e isso é o reflexo do que o Cruzeiro está colhendo. Temos elenco forte, comissão técnica excepcional, time com bastante movimentação, jogadas pelas laterais, gols pelo alto. Essa mudança técnica foi o que a gente planejou.

E a injeção financeira que entrou também é um diferencial...
O torcedor viu o trabalho e correspondeu na adesão ao programa sócio-torcedor, no comparecimento ao estádio e na receita para o clube. O nosso fã percebeu que cada centavo que o Cruzeiro arrecada é colocado no futebol. O torcedor comprou a ideia e está movendo o time. A maior contratação do Cruzeiro até o momento é o torcedor e o Mineirão lotado. Triplicamos a receita e o ano ainda não acabou.

Qual o papel do presidente?
Foi a primeira grande mudança neste novo Cruzeiro. Gilvan foi arrojado na parcerias, inteligente na gestão. E audacioso. Organizou o clube e investiu no sócio-torcedor.

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