Maior artilheiro do Castelão, o irreverente Geraldino Saravá avisa: ‘Quero um gol do Fred’

Escrito por

O Castelão, onde o Brasil enfrenta o México nesta terça-feira em Fortaleza (CE), pode ser o ponto de partida para Fred fazer o seu primeiro gol na Copa das Confederações e alcançar a desejada artilharia da competição. E, para a alegria do camisa 9 da Seleção, um personagem que escreveu seu nome na história do estádio tem torcida especial pelo centroavante de Luiz Felipe Scolari.

Geraldino Saravá, o maior goleador do Castelão (98 bolas na rede), é convicto ao revelar quem ele deseja que faça o primeiro gol da Seleção Brasileira na arena desde que ela passou por reformulação total e foi reaberta em janeiro.

- Fred. Eu gosto muito do estilo do futebol dele. Não tem muita velocidade, mas tem boa presença de área e cabeceia bem. Queria muito que ele fizesse um gol - declarou em entrevista ao LANCE!Net.

Fred pode preparar a comemoração, porque Geraldino sabe muito bem o que é festejar em campos cearenses. Além do Castelão, ele também ostenta o topo dos marcadores (72 gols) do Romeirão, estádio em Juazeiro do Norte (CE), cidade a 530 km da capital, onde o ex-jogador de 62 anos mora e leciona educação física para as crianças de uma escola municipal.

Geraldino Saravá nos tempos de jogador (Foto: Divulgação)

Além de marcar época no Fortaleza na década de 70, ele atuou por Icasa-CE, Ceará, Ferroviário-MA, Tiradentes-CE, Guarany de Sobral, Sampaio Corrêa-MA e Campinense-PB. O ex-centroavante explica, em terceira pessoa, como se destacava com a bola nos pés.

- Geraldino não era craque, era homem-gol. Muita velocidade e chute forte. Raçudo, não tinha medo de cara feia. Fazia pouco gol de cabeça, porque chutava de longe. Dependendo do lugar que eu pegasse a bola, ela saía a 100 km/h (risos). Roberto Carlos chutava forte? Eu chutava forte daquele jeito com a perna esquerda e a direita. De todo o jeito. Imagine isso aí. Eu fiz gol em todo canto do Brasil.

Saravá, Fred!

Confira abaixo a entrevista completa com Geraldino Sarvá:

LANCE!Net: Qual a sua principal lembrança do Castelão? 

O Castelão foi inaugurado em 1973, e a lembrança que eu tenho do Castelão é que, no ano da inauguração dele eu fui campeão pelo Fortaleza. Em seguida, em 1974, fui bicampeão também pelo Fortaleza. Então a grande lembrança que eu tenho do estádio são estes títulos que eu conquistei lá. De 1973 até 1985 eu fiz 98 gols lá.

L!Net: Qual foi o dia mais feliz que você viveu dentro do estádio?

Foi em 1974. O Ceará seria campeão estadual pelo empate, e o Fortaleza, com o time mais fraco que o Ceará, que havia sido campeão dos dois turnos, tinha que ganhar três vezes consecutivas para ser campeão. Vencer três seguidas é uma coisa muito difícil num clássico.  No primeiro jogo nós ganhamos de 4 a 0, e eu fiz três gols. Na segunda partida, o Fortaleza venceu com um gol aos 44 minutos e meio com um gol de Geraldino. Eu fiz o gol de novo. E depois a gente meteu três, com gols de dois dos meus companheiros. Esse foi o momento mais feliz que eu vivi lá dentro: três vitórias, com quatro gols meus.

LNet!: Lembra-se de algum dia triste no Castelão?

De tristeza, não. Em 1978 nós perdemos o campeonato, mas não fiquei muito triste porque eu fui o artilheiro do certame com 28 gols.  Só fui artilheiro esta vez, porque em toda a minha carreira como jogador de futebol eu nunca fiz um gol de pênalti.

L!Net: Por quê?

Não queria cobrar, não cobrava de maneira alguma. Eu só queria fazer gol com a bola em movimento, eu tinha isso comigo mesmo.

L!Net: Você não cobrava bem?

Bater pênalti é para quem sabe: Zico, Sócartes...Eu chutava muito forte tanto com o pé direito quanto com o pé esquerdo, então não era para eu bater pênalti, não. Bater pênalti tem que ser colocado, para as pessoas que sabem mesmo.

L!Net: Conheceu o estádio novo? Gostou?

Há uns 15 a 20 dias mais ou menos. Está ótimo. Agora com aquela graminha maneira é que eu faria gol mesmo. Eu chutava muito forte. Roberto Carlos chutava forte?

L!Net: Chutava.

Pois é. Eu chutava forte daquele jeito com a perna esquerda e a direita. De todo o jeito. Imagine isso aí. Eu fiz gol em todo canto do Brasil.

L!Net: O senhor fez quantos gols na carreira?

Uns 800, contando com o tempo do amadorismo, não só o profissional. O pessoal que foi contar os gols deles juntaram tudo também...

L!Net: O senhor pretende assistir ao jogo contra o México no Castelão?

Só vou se eu for convidado, senão eu vou ver pela televisão mesmo.

L!Net: A Seleção está bem servida de atacantes?

Sinceramente, falta muita coisa para os atacantes brasileiros. Tem uma coisa muito que até me irrita. Nós tínhamos muito cobradores de falta aqui no Brasil: Zico, Sócrates, Rivellino...Por quê? Porque quando terminava um treino, eles pegavam a bola e treinavam falta, com 50, 70, 100 chutes. Antes nós lembrávamos muito mais facilmente quem cobrava falta. Cite dois hoje! É difícil! Hulk batendo falta? O que é isso? É um absurdo! Parece que os treinadores não pegam os jogadores e os coloca para cobrar falta. Se eu cobrasse pênalti e falta eu teria mais de 1000 gols.

L!Net: Qual a análise que você faz da Seleção do Felipão?

Felipão só errou em uma coisa, parece que quis aparecer, não é possível, rapaz! Como deixar o Ronaldinho, melhor jogador do momento, fora da Seleção? Isto não existe! Na Seleção não têm de estar os melhores? Então...No resto está tudo bem, mas Ronaldinho não era para estar fora de maneira alguma.

L!Net: E Ronaldinho jogaria no lugar de quem da sua Seleção?

Oscar, tranquilamente. Neymar é mais atacante. Estão fazendo muito bicho de Neymar. Para fazerem e falarem dele tanto assim ele tem que fazer muita coisa ainda pela Seleção, porque ele não fez nada. Não foi campeão nenhuma vez. É craque, mas para ele chegar ao nível de Ronaldinho, de Rivaldo tem de ser campeão de alguma coisa. 

L!Net: O que ele precisa melhorar?

Ele está jogando muito amarrado num setor só do campo. Tem de cair pela esquerda, pela direita, tem de jogar pelos quatro cantos do campo. Preste atenção! Ele alugou aquele pedacinho da esquerda e não sai de lá. Atacante tem que abrir de um lado, do outro, mas ele não cai uma vez na ponta direita. Jogador como Neymar, que tem habilidade, tem de cair em todos os cantos. Mas também pode ser o treinador que esteja amarrando ele ali.

L!Net: Por que o senhor acha que não tem nenhum jogador cearense convocado?

Teve um que foi recentemente, Osvaldo, mas não seguiu com a oportunidade. Se ele continuar jogando como ele vem jogando, pode ser que ele seja convocado de novo. As coisas são assim mesmo.

Siga o Lance! no Google News