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Ao L!, Melo diz: ‘Se eu for campeão em Wimbledon não sei o que faço’


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Conquistar um título de Grand Slam é o sonho de qualquer tenista. Imagine, então, ser brasileiro e ficar com a taça em Roland Garros (FRA), o lugar onde os atletas do Brasil sempre guardam boas lembranças. Marcelo Melo conseguiu isso no último sábado. E entrou para a história ao ser o primeiro do país a atingir tal glória nas duplas masculinas.

De volta ao país para descansar antes de outro grande desafio – Wimbledon –, Melo passou na redação do LANCE! para uma entrevista. Em um papo de quase uma hora, falou sobre a conquista em Paris, a parceria com Ivan Dodig, a amizade com Bruno Soares, a vontade de levar o título na grama londrina, entre outras coisas. Veja:

LANCE! - A final de Roland Garros foi a partida mais tensa da sua vida?
Marcelo Melo - Por incrível que pareça, não. Tivemos jogos anteriores, como na semifinal do Aberto da Austrália deste ano, quando saquei para ir à final (foram derrotados). Estava muito mais nervoso do que na decisão de Roland Garros, também sacando para fechar. E nem se compara o tamanho de um com o outro. Uma partida era para chegar em uma final de Grand Slam. A outra, para derrotar os irmãos Bryan e conquistar Roland Garros. Essa oportunidade só aparece uma vez. Se você não conseguir, dançou. Foi até estranho, mas não foi um jogo em que eu estava extremamente nervoso. Estaria mais ansioso se enfrentasse outra dupla que não os Bryans, que estão sempre lá.

L! - Como é a sua relação com o Ivan Dodig dentro de quadra?
MM - No início, era mais difícil para o Ivan entender esse conceito das duplas, até porque ele jogava em simples, então não tinha essa visão. Por exemplo, jogamos 80 jogos no ano e é impossível eu jogar muito bem em todos eles. É difícil manter o mesmo nível. Hoje, a gente se entende melhor. O Ivan, antes, não entendia como eu conseguia errar um voleio sendo que era minha especialidade. Você carrega aquele sentimento de que o cara errou. Em simples, quando o tenista erra, é ele mesmo ali. Mas outra qualidade nossa é poder falar abertamente. Hoje, ele pode chegar em mim e falar isso. Eu não levo pelo lado do “faz o seu que eu faço o meu”. Para formarmos uma dupla sólida, precisamos dessa abertura. Hoje, pode ser minha culpa, mas amanhã será dele. É como um casamento.

L! - Como você e o Ivan Dodig decidiram jogar juntos?
MM - Foi coincidência. Em um torneio nos Estados Unidos, em 2012, (ATP 500 de Memphis), o cara que seria meu parceiro, o Ivo Karlovic (CRO), não pôde ir, e o parceiro do Ivan machucou. Não o conhecia, mas como temos o contato de todos, escrevi e ele aceitou. A gente foi até a final. Depois, acertamos Roland Garros e Wimbledon, e fomos às quartas nos dois. Então, sentamos para conversar e vimos que fizemos três torneios importantes com uma final e duas quartas sendo que nunca havíamos jogado juntos. Aí, a gente resolveu tentar mais algumas vezes e preferimos deixar assim.



L! - Como funciona o processo para escolher uma dupla?
MM - Essa escolha depende do que você quer: um parceiro fixo ou para um torneio. No meu ponto de vista, para um fixo, não adianta ter um cara que você não vai nem olhar na cara fora de quadra. Isso acontece bastante. Mas, no meu caso, não funciona. Como casa o jogo, como funcionam juntos dentro de quadra também importa. Por exemplo, às vezes o jogo casa muito bem com o seu, mas o cara reclama de tudo. Como você convive com alguém assim o ano inteiro? Por outro lado, para jogar apenas um torneio, eu procuro alguém que vai casar melhor no piso, alguém que eu já saia de cabeça de chave, enfim, específico para aquele torneio.


Melo aproveitou para conferir a matéria do LANCE! sobre seu título na França (Foto: Reginaldo Castro)

L! - Fale sobre sua relação com o Bruno Soares e o tempo que jogaram juntos.
MM - Eu e o Bruno crescemos juntos. Nos conhecemos desde os cinco anos. Fizemos todo o juvenil juntos, ficávamos na mesma casa. Enfim, temos uma convivência de muitos anos. Então, cai naquele ponto de ter uma amizade a mais. Tanto que a gente sempre está muito bem na Copa Davis. Quanto à evolução, que acho que vínhamos tendo depois de dois anos de parceria, muitos me perguntam o motivo de pararmos de jogar. Foi por causa do Bruno, que achava que não alcançaria alguns resultados comigo. A decisão foi dele, por mim continuaríamos.

L! - O tênis é um esporte em que o psicológico importa muito. Na Olimpíada, em casa, vocês são favoritos. Como cuidar disso?
MM - No tênis, o lado mental às vezes é mais importante que o lado técnico. Você pega um cara que está como número 50 do mundo e tem nível técnico de um jogador 120, 130. Mas o cara tem um lado mental forte, e isso faz a diferença durante um jogo. Ainda não estamos vivendo o nervosismo da Olimpíada, está longe. Precisamos fazer a preparação e, quando chegar perto, isolar um pouco tudo isso e focar nos Jogos, para ter a recompensa. Logicamente, a pressão será enorme. No nível que estamos hoje, todos pensam que vamos ganhar tudo. Só porque fizemos uma final de Grand Slam, parece que virou normal, mas é extremamente difícil. Quando chegarmos na Olimpíada, vão pensar que temos, no mínimo, a medalha de bronze, e não é assim. Podemos pegar um (Roger) Federer e um (Stan) Wawrinka na primeira rodada, por exemplo. O importante é chegar muito bem preparado, fisicamente e tecnicamente, e psicologicamente trabalhar um pouco antes para tentar isolar isso.

L! - O Brasil caiu para a repescagem da Copa Davis e está em 16 no ranking. Essa posição é real?
MM - Acho que poderia ser melhor, especialmente pela maneira como o Thomaz (Bellucci) voltou a jogar. E agora temos o Feijão (João Souza). Tendo um número 1 forte, como é o caso do Thomaz, e o Feijão podendo bater de frente com todo mundo, dá para tirar nossa responsabilidade nas duplas. Se fôssemos com esse nível de hoje à Argentina, teríamos vencido (o Brasil caiu nas oitavas ao perder por 3 a 2). Na próxima Copa Davis acho que, se continuarmos nessa evolução, temos chance de seguir avançando. Não falo sobre ganhar a competição, mas em avançar para, quem sabe, vencê-la.

L! - Atualmente, o tênis brasileiro está na melhor fase técnica desde a época do Gustavo Kuerten?
MM - Sim, e até mesmo com o tênis feminino. Temos a Teliana Pereira, os resultados que ela vem tendo, a Bia (Haddad Maia), que é uma enorme promessa. Hoje, temos dois jogadores top 10 de duplas, o Thomaz que é um jogador top 20, mais o Feijão chegando, e o tênis feminino com a Teliana entre as 70. Temos o juvenil também, com o Orlando (Luz). Ou seja, existe uma cadeia desde o juvenil até nós, no profissional. Isso é o resultado do trabalho da CBT (Confederação Brasileira de Tênis) junto com o COB (Comitê Olímpico do Brasil). Temos um planejamento para a Olimpíada. Mas isso não colhe frutos só nos Jogos, e sim antes. Hoje, existe um apoio para dar resultado agora e, quem sabe, na Olimpíada. Para o juvenil é a mesma coisa. O apoio que a CBT e esses programas vêm dando desde lá debaixo até nós, é muito bom. Acho importante seguir assim para surgirem ainda mais Orlandos e Bias. Vivemos um momento bom.

L! - Como foi seu início no tênis?
MM - Minha família toda joga tênis lá em Minas Gerais. Nos fins de semana, como meus pais jogavam, eu ficava o dia inteiro jogando no paredão, sozinho, e gostava disso. Na época, com 14, 15 anos, como ainda treinava no Minas, por exemplo, no fim de semana às vezes faltava alguém no clube, e eu jogava dupla com meu pai ou até com minha mãe. Ficava ali de stand by. Na época, eu já tinha mais gosto pelas duplas do que por simples. Depois, minha estatura foi me encaminhando para esse lado. Comecei a jogar os dois, tinha dois irmãos que já eram profissionais, sendo que o Daniel jogou muito mais do que o Ernani. Em um certo momento, tive de decidir entre jogar simples ou duplas, já que meu ranking nas duplas começou a subir mais. Mas caí naquele negócio do apoio. Então, apareceu o Sebastião Bonfim, presidente da Centauro, que falou, até curiosamente: “Se você quiser continuar nas duplas, te apoio. Em simples, não”. Esse já é o nono ano de parceria. Por conta disso, passar para as duplas foi uma escolha bem fácil.

L! - Quem é o mais mala do circuito?
MM - Tem um monte. Mas o mais mala é o Leander Paes (indiano). Mala em todos os aspectos. Desde o lado folclórico das mentiras que ele conta, até dentro de quadra, fazendo coisas que não deveria.

L! - Já teve vontade de bater em algum adversário dentro de quadra por alguma atitude?
MM - Isso direto (risos). Um monte.

L! - E como fazer isso? Dá para rebater uma bolinha em cima do cara de propósito?
MM - Não diretamente. Não buscamos acertar o cara, mas buscamos uma energia a mais para ganhar daquela pessoa por esses motivos. Mas isso não ocorre tanto hoje, até porque essas pessoas saem do Circuito. Não é um cara como o Paes, com vários títulos, que fica dez minutos para amarrar o cadarço ou vai ao banheiro por 15 minutos. Um profissional não se leva por isso.

L! - Depois de tantos anos de carreira, dá para olhar para alguém e falar: Essa foi a minha melhor dupla?
MM - Hoje, não dá para não falar que foi o Ivan, pela maneira como a gente joga, pelos resultados que tivemos. Dentro de quadra, indiscutivelmente o Ivan. Fora, tenho um bom relacionamento com alguns, de curtir um jogo, um jantar, mas no geral, foi o Bruno. Dá para fazer uma mistura: 50% de cada um e eu teria um parceiro perfeito.


Melo e Ivan Dodig bateram os irmãos Bryan na final em Roland Garros (Foto: AFP)

L! - Se pudesse escolher um parceiro perfeito, quem você escolheria?
MM - Pergunta difícil. É complicado achar um. Mas um que tenho o sonho de jogar junto um dia é o Roger Federer. Se ele me desse essa oportunidade, ficaria mais nervoso do que em qualquer jogo que já tive na vida. Ele é um ícone. Já joguei com o Guga duas vezes e foi legal pra caramba, fiquei muito nervoso.

L! - Quem é melhor? Federer Djokovic ou Nadal?
MM - Indiscutivelmente o Federer. Em todos os aspectos. Todos. Dentro e fora de quadra, como pessoa...

L! - As duplas tem uma longevidade maior. Hoje, vemos os irmãos Bryan, com 37 anos, e voando. Você espera alcançar esse tempo de jogo também?
MM - Espero que sim. Se eu conseguir manter esse nível de jogo, em torneios ATP e outros grandes, com certeza vou continuar. Tem momentos que você precisa ter outras prioridades. Mas acho que mais seis anos estaria satisfeito.

L! - Como vocês chegam no Grand Slam de Wimbledon. O que dá para fazer no torneio?
MM - Chegamos no topo da confiança, como parceria e individual. Vamos ter uma pressão a mais. Tínhamos uma expectativa em Roland Garros, mas todos sabem que nosso piso ideal é o rápido ou grama. Temos de controlar isso e não criar uma expectativa tão grande. Temos de chegar bem preparados, usando coisas positivas de Roland Garros e sabendo lidar com um momento que, hoje, é fantástico. Espero que dê tudo certo. Se eu for campeão, aí não sei o que faço (risos).

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