L!Net conta a incrível história do bicampeão do mundo achado na rua

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Noite de sábado, o longo dia de trabalho já tinha terminado. Jornalistas confraternizavam-se numa churrascaria de Brasília. A conta já estava sendo paga quando surgiu a notícia do desaparecimento de Altair Gomes de Figueiredo, de 75 anos, bicampeão do mundo com a Seleção em 1962.

Às 13h30 do mesmo dia, o ex-lateral, que sofre Mal de Alzheimer, perdeu-se do grupo que tinha outros campeões mundiais. Estavam em Brasília desde quarta-feira para homenagens e esperavam o ônibus para ir ao Mané Garrincha. Justo Mané, que Altair marcou com eficiência tantas vezes pelo Flu.

Um médico que acompanhava o grupo foi buscar um remédio. Altair então sumiu, fazendo os amigos entrarem em desespero.

Lá pelas 23h, ao saber do sumiço, o que fazer? Foi a pergunta que nós, jornalistas, fizemos. Não sabíamos. Pagamos a conta, cada um partiu para o seu hotel. Num mesmo táxi, entramos junto com os amigos Alexandre Lozetti e Leandro Canônico, do site "Globoesporte.com”. Não podemos esquecer de Celio Batista de Araújo, o taxista, que não sabia da história: só nos ouvia enquanto conversávamos sobre Altair na volta ao hotel.

E se a gente o achar na rua? Impossível sonhar com aquilo. Seguimos viagem. Sempre falando do drama de Altair, e sem a menor pretensão de encontrá-lo. Sinceramente. O destino era apenas o nosso hotel.


Após ser encontrado por reportagem, Altair foi conduzido de táxi até o hotel 


O carro entrou na Avenida das Nações, perto da Embaixada da Itália. Larga e escura. Vimos um senhor de terno andando como quem está sem rumo à beira da pista. Ele parou para urinar naquele instante. E se for o Altair? Um sentimento sem explicação tomou conta de nós por segundos. Celio, o taxista, pegou um retorno, chegou perto do senhor. Olhamos sem reação à pergunta: “Você é o Altair?” Mais incrédulos ficamos com a resposta: “Sou eu!”.

Era mesmo. Altair, encontrado por nós, às 23h40 de sábado. Mais de dez horas desaparecido. Sabe-se lá por onde andou. A distância para o seu hotel era de oito quilômetros.


Altair encontra-se com Roberto Dinamite já na frente do hotel

Atordoado, Altair dizia procurar ex-colegas do Fluminense. Procurava o ex-goleiro Castillho, falecido em 1987. Não fazia ideia que o Brasil tinha jogado naquela mesma tarde. Só não tinha dúvidas de uma coisa: “Sou bicampeão do mundo”.

Nós, jornalistas, sabíamos que tínhamos uma matéria, mesmo que aquilo fosse o de menos. Avisamos as redações ainda sem saber ao certo como agir. Altair nos pediu para levá-lo ao Barreto, bairro onde mora, no Rio de Janeiro. Nós já sabíamos que ele estava hospedado no Manhattan Plaza, Setor Hoteleiro Norte. Altair sentou na frente, falando baixo, lembrando do Flu e pedindo água. Nós quatro, atrás, apertados. Incrédulos. Emocionados ainda.

Outra emoção difícil de descrever tomou conta de nós quando o táxi chegou ao hotel. Amigos desesperados esperavam. “Estão todos aí”, festejou o campeão, em outro momento de lucidez. Um carro do Departamento de Repressão a Sequestro (DRS) também ali estava. Varreduras já tinham sido feitas em hospitais e delegacias, sem pistas nenhuma até aquela hora. Uma foto de Altair já estava na intranet da polícia civil. Três equipes acompanhavam o caso em busca de informações.


Campeões do mundo recebem Altair no hotel 

Amigos nos abraçaram, chorando. Aliviados. Nós, felizes. Pepe, Zito, Coutinho, Jair Marinho e Amarildo estavam no mesmo hotel. Roberto Dinamite, presidente do Vasco, apareceu para dar um abraço em Altair e, depois de perguntar sobre o Fluminense, mandou um recado: “Agora o senhor precisa descansar”.

Um dos amigos pediu uma foto de nós quatro, junto com Altair. Uma honra, antes de vê-lo ser levado ao quarto para o justo descanso. Nós ficamos, contando aos amigos como o achamos. Vários deles seguiam com lágrimas nos olhos. Voltaram a nos abraçar. Nos agradeceram de novo.

Após sumiço, ex-jogador é encontrado por jornalistas em Brasília

Como se fosse preciso. A gente é que agradece a sorte de achar Altair. O dia 15 de junho de 2013 ficará para sempre na memória destes jornalistas. Foi uma noite iluminada. No domingo, Altair voltou para casa, no Rio.

QUEM É 


Nome: Altair Gomes de Figueiredo

Nascimento: 22/1/1938, em Niterói (RJ)

Posição: Zagueiro

Clube: Fluminense (1955 a 1971)

Títulos: Copa do Mundo de 1962, Torneio Rio-São Paulo de 1957 e 1960, Campeonato Carioca de 1959, 1964 e 1969, Taça Guanabara de 1966 e 1969

Números: Tem 551 jogos e três gols pelo Flu; 22 atuações pela Seleção e disputou duas Copas (1962 e 1966)

ACADEMIA LANCE!

José Renato Bauab
Neurologista HCor

"A pessoa não reconhece o seu espaço

Mal de Alzheimer é uma doença denegerativa cerebral que ocorre nas pessoas idosas, principalmente a partir dos 65 anos, que acarreta como primeiros sintomas a deficiência de memória. Mas, com o tempo, leva à perda das outras funções intelectuais e a pessoa acaba tendo desorientação no tempo e no espaço. Eles se perdem mais no ambiente que antes era conhecido e leva alterações de pensamento, dificuldade de se expressar, e que acaba acarretando o declínio de todas as funções intelectuais, não só a memória.

A causa, por ser degenerativa, é a perda de neurônios com o tempo, só que a causa é todo um processo de envelhecimento cerebral alterado do ponto de vista funcional, um envelhecimento mais rápido, acentuado, com perda excessiva de neurônios.

A atividade esportiva até é vista de modo preventivo para a memória, não leva ao Alzheimer de modo algum. O que existe é se você tem trauma craniano, como no boxe, que é a demência traumática, que no boxe é chamada de demência pugilística. Mas no futebol, mesmo com os jogadores cabeceando, não se tem casos de Alzheimer em relação a isso.

A pessoa fica agitada, não reconhece mais o espaço em que se encontra. O motivo pelo qual sai de casa e se perde na rua é que quer ir ao supermercado, à banca de jornal, mas não sabe como voltar. Ela sai para fazer um ato corriqueiro e não sabe como voltar."

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