Atletas desgastados, excesso de convocações e calendário 2021: conflito à vista entre clubes e CBF
Com possibilidade de convocações desfalcarem equipes do país por 73 dias ou 19 jogos, próximo ano, que será de 'ajuste' com Eliminatórias e Copa América, sinaliza problemas
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A forma como o calendário do futebol nacional pode afetar os clubes em 2021 já é vista com ressalvas por quem acompanha o que acontece em campo. Prestes às equipes lidarem com uma temporada recheada pelas partidas da Seleção Brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo e na disputa da Copa América (que foi adiada devido à pandemia de Covid-19), o risco de dores de cabeça para atletas e clubes é visto como um sinal de alerta.
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Presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj), Alfredo Sampaio vê no risco "ajuste" de clubes brasileiros perderem atletas por até 73 dias e 19 jogos (conforme projetou o Blog do Marcel Rizzo, no UOL) um risco da qualidade do jogo cair, devido à maratona.
- Sabemos que estamos em um momento excepcional no mundo, mas a se confirmar esta projeção, os atletas vão ficar ainda mais massacrados. A CBF deveria repensar a maneira como lida com cada Data Fifa, porque já neste ano vemos jogadores massacrados - afirmou ao LANCE!.
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A solução encontrada para readequar o calendário também causa preocupação a Sampaio.
- Dias depois de acabar em campo a temporada de 2020, os atletas já começam o ano de 2021. Tem de ser considerada a parte física e emocional dos jogadores, em especial os que estão no Brasil - disse.
O presidente da Saferj também faz críticas à realização da Copa América na próxima temporada.
- É uma competição que devia ser repensada em função da pandemia. O ano de 2021 ainda será bastante tumultuado. A CBF devia falar com as demais federações e mostrar que talvez seja mais prudente postergar, pois teremos no mesmo ano jogos de Eliminatórias e Copa América, com as mesmas seleções! Vamos chegar de um 2020 no qual jogadores estão extenuados para um 2021 ainda complexo. Além deste desgaste, haverá um desnível técnico muito grande, pois quem não tem um elenco grande terá muitas dores de cabeça e escalar jogadores no limite - e frisou:
- Fizemos nossa parte, flexibilizamos de 66 para 48 horas o intervalo entre as partidas. Mas já temos jogadores estafados! - completou.
A preocupação com o aumento do desinteresse na Seleção Brasileira é vista também por quem acompanha os jogos. Comentarista da Super Rádio Tupi, Dé, o "Aranha", crê que são poucos os elencos que conseguem atenuar a sucessão de baixas devido às convocações da Seleção Brasileira.
- A situação está complicada para todos os clubes, especialmente pela sequência de jogos da Seleção. Equipes como o Flamengo têm um elenco capaz de trazer substitutos à altura, mas a maioria dos times da Série A não consegue isto - e ressaltou:
- A Seleção, por sua vez, só é unanimidade na época de Copa do Mundo. Já perdeu o encanto em torno dela, é inegável que hoje os times são mais importantes. O formato das Eliminatórias, com dez seleções disputando cinco vagas, acaba tornando tudo muito fácil. Com isto, o torcedor sente seu time mais prejudicado - completou.
Colunista da "Folha de São Paulo", Juca Kfouri crê que só haverá uma mudança de fato quando os clubes não dependerem da CBF.
- A imagem da Seleção Brasileira ficará como sempre, há décadas. Será assim, enquanto a CBF der as cartas e não houver uma liga de clubes. Os calendários seguem feitos para a CBF ter os votos das federações - declarou.
Comentarista das Rádios CBN e Globo e da emissora SporTV, Carlos Eduardo Eboli crê que a "antipatia do torcedor pela Seleção" se deve à postura irredutível de todos os lados.
- Os clubes não abrem mão de competição nenhuma, da redução dos Estaduais, aceitam quando a CBF diz que quem disputar a Copa Libertadores tem de entrar na terceira fase da Copa do Brasil e não mais nas oitavas - destaca.
Em seguida, Eboli vê o ponto de vista da Seleção Brasileira.
- A Seleção tem de trabalhar e, para isto, o Tite precisa ter à sua disposição quem considera ser os melhores jogadores. Ele quem será cobrado caso a Seleção não vá bem na Copa e, inclusive, já tem pouco tempo para se preparar. Praticamente só terá as Eliminatórias como referência de confronto. Afinal, não poderá medir forças com europeus, pois o calendário das seleções da Europa está inchado também pela Liga das Nações... - detalhou.
Aos seus olhos, este contexto abre espaço para um círculo vicioso no futebol nacional.
- Os clubes que fazem investimento, têm um elenco, que são os casos do Flamengo, Atlético-MG e Flamengo, pagam para jogadores atuarem na Seleção. Em seguida, os atletas voltam para os clubes lesionados, sem condição física, prejudicam o investimento e a roda fica toda prejudicada! - e é categórico:
- A Fifa pensa no calendário de seleções, a Conmebol e Uefa pensam no calendário de clubes, que por sua vez não se posicionam internamente quanto ao assunto. O calendário do ano que vem vai gerar muito conflito e não adianta reclamar depois. Sem contar que, além da Seleção Brasileira, muitos clubes do país são desfalcados nas Datas Fifa em virtude de convocações para seleções sul-americanas - complementou.
O comentarista crê que as competições de Data Fifa e a Copa América acabarão prejudicadas.
- Cada vez mais, os torcedores ficarão desconectados com o calendário de seleções. Nas Eliminatórias, pelo formato atual, é difícil pensar no Brasi eliminado.
Carlos Eduardo Eboli não esconde que a intensidade de jogos causa fortes reflexos.
- A maratona de jogos prejudica qualquer atleta ou treinador. Ao mesmo tempo, não há compreensão de que é mais fácil você oscilar devido a esta sequência. Há uma cobrança muito forte, na qual não há tolerância com a derrota. É uma constante panela de pressão - disse.
Assim como vem acontecendo em 2020, a temporada de 2021 vai requerer fortes desafios.
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