A reversão da punição do Manchester City no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) gerou muita discussão a respeito do Fair Play Financeiro adotado pela Uefa desde 2011. A entidade havia banido o clube inglês de participar de competições europeias por dois anos por ter, supostamente, inflacionado os valores de seus patrocínios entre 2012 e 2016. No entanto, a Corte não encontrou provas sólidas para manter o castigo.
Desde o início da punição imputada pela Uefa, o time de Guardiola, através do CEO Ferran Soriano, afirmou que iria até a última instância junto de seus advogados para reverter a decisão e as alegações que foram tratadas como irreais. Na última segunda-feira, os Sky Blues puderam comemorar, apesar de ter sofrido uma pena com o pagamento de 10 milhões de euros (R$ 60 milhões) por não cooperar com as investigações.
No entanto, além do Manchester City, o Paris Saint-Germain também conseguiu escapar de um castigo do Fair Play Financeiro da Uefa, embora clubes tradicionais como Besiktas e Galatasaray tenham sofrido suspensão de competições europeias por burlarem regras que deveriam ser cumrpidas.
O comentarista da ESPN, Leonardo Bertozzi, conversou com o LANCE! e afirmou que é normal o público ter a sensação de injustiça e impunidade para com os novos ricos do mundo do futebol e questiona a fiscalização da entidade em relação às regras que impõe.
- Tanto City quanto o PSG já escaparam (de punição) por tecnicalidades. A principal dúvida é: a Uefa cria as regras, mas ela tem condições de fiscalizá-las? Ela não tem poder de polícia, ela pode se basear nas declarações dos clubes e que percebemos que nem sempre vão corresponder a realidade. O City ter sido anistiado não muda o fato de que o “Football Leaks” mostrou que havia e-mails comprometendo a declarar investimentos dos donos como se fosse um contrato de patrocínio.
Confira outras respostas:
LANCE!: Você acredita que a interferência do TAS acaba gerando descrédito em relação as decisões que a Uefa toma?
Bertozzi: Que há um descrédito é evidente, porque sempre que se tem a sensação de que nem todos estão sendo tratados da mesma forma você questiona a eficácia do mecanismo, embora ninguém queira acabar com o Fair Play Financeiro, porque é importante até para os clubes. O ponto é que neste momento se faz necessário uma reforma que ataque os principais problemas. Primeiro, a sensação de impunidade para alguns clubes. E segundo, a imobilidade desse sistema de castas, porque você acaba tendo um bloco de times na Europa que é muito mais forte que outros.
LANCE!: Qual imagem sai mais arranha: a do Manchester City ou da Uefa?
Bertozzi: Claro que a da Uefa, pois ela teria a responsabilidade de montar um caso sólido e claramente isso não aconteceu. O TAS não pode julgar com base no “eu acho”, mas sim com base no que ele tem. Se ele julgou que não havia motivo para suspender o City, apenas multá-lo por não colaborar com as investigações, ele está trabalhando com base em provas.
LANCE!: As críticas de personagens como Klopp e Mourinho podem impulsionar uma mudança nas aplicações da regra da Uefa?
Bertozzi: As críticas eram esperadas. O Liverpool, em especial, é um exemplo de clube que conseguiu subir muito as suas receitas e sempre respeitando o Fair Play Financeiro. Mas independentemente disso, já havia uma discussão sobre como melhorar o mecanismo e como fazer com que ele tenha mais credibilidade. O ponto é que isso vai levar tempo e até lá, a gente deve ter decisões que serão consideradas incoerentes com esse resultado do City. Até que se complete essas reformas, haverá um descrédito, isso é inevitável.
LANCE!: Essa polêmica pode servir como motivação para o Manchester City nesta Liga dos Campeões ou pouco deve interferir?
Bertozzi: A motivação já existiria de qualquer maneira. Acho até que poderia ser maior se o time fosse punido. Ganhar a competição da Uefa tendo perdido a batalha legal seria uma resposta. Mas me parece claro que o Guardiola poderia ter adotado uma postura mais neutra e ele defendeu totalmente a direção do clube nesse caso. Ele adotou uma postura desafiadora.