O fato do presidente da Fifa, Gianni Infantino, ter manifestado, em entrevista ao "GE", sua preocupação com a sobreposição de datas que vem marcando o futebol brasileiro não passou em branco expôs o panorama delicado que os clubes do país enfrentam. Presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj), Alfredo Sampaio crê que a discussão sobre o calendário requer um debate bem mais complexo.
- É uma discussão antiga que culmina em uma série de desdobramentos. A maioria só olha sob o ponto de vista dos 20 clubes, que jogam cinco ou seis competições no ano. Mas aqui no Brasil, há alguns clubes que jogam demais e outros que jogam de menos - pontuou, ao LANCE!.
Aos seus olhos, as equipes que estão na Série A são submetidas a uma rotina de jogos bem desgastante.
- Costuma-se ir pelo lado econômico. Há o interesse da TV que faz uma equipe disputar ao mesmo tempo Copa do Brasil e, caso seja eliminada de uma competição internacional, pode entrar na Sul-Americana. Não tem como o jogador não ficar estafado - disse.
Em seguida, Sampaio alertou sobre a maneira como as competições estaduais são vistas.
- Muita gente se apega de que os Estaduais têm de reduzir, por não terem relevância para estes clubes de elite. Porém, estas competições são importantes para muitos clubes manterem suas respectivas cadeias produtivas. Além dos jogadores, há roupeiros, massagistas de demais funcionários que podem ficar desempregados. Mas enquanto falam em só acabar com Estaduais, aumentam o desgaste dos jogadores em outras competições - declarou.
O presidente da Saferj detalha que a sucessão de situações culmina em um desequilíbrio técnico.
- Há o interesse financeiro dos clubes em se manterem nas competições mais rentáveis. Isto recai sobre todos os envolvidos e a sobreposição de datas culmina em jogadores estafados, em técnicos que têm pouco tempo para treinar e se perder duas ou três partidas consecutivas, são demitidos. Com isto, o clube vai trabalhando no vermelho. São problemas antigos - disse.
Alfredo Sampaio já projeta um ano de 2021 mais conturbado.
- Teremos uma Copa América no meio do ano ano que vem, o que vai causar ainda mais problemas. O que isso tem de interesse se a competição será realizada com as mesmas equipes que jogam atualmente nas Eliminatórias? Estas situações só fazem o lado esportivo sucumbir ainda mais perante o lado comercial - e emendou:
- Os clubes brasileiros precisam faturar, pois boa parte deles está com dívidas astronômicas, e há o risco de terem maior desnível técnico diante deste cenário. Cabe à CBF e à Conmebol terem bom senso - completou.
Sampaio falou sobre jogadores atuarem por dois dias consecutivos. O meia Everton Ribeiro atuou na vitória por 2 a 0 da Seleção Brasileira sobre o Uruguai pelas Eliminatórias da Copa do Mundo na última terça-feira e, no dia seguinte, entrou em campo no decorrer do revés do Flamengo para o São Paulo por 3 a 0, pelas quartas de final da Copa do Brasil.
O meia Thiago Galhardo, que esteve entre os convocados da mesma partida da Seleção mas não entrou em campo, atuou pelo Internacional contra o América-MG. O Colorado venceu por 1 a 0, mas foi eliminado nos pênaltis.
- Nossa ação original é de que os atletas não podem jogar em um intervalo inferior a 66 horas. Entretanto, devido aos impactos causados pela pandemia, aceitamos a redução para um intervalo de 48 horas. Claro que se um atleta entender que pode jogar duas partidas em um intervalo de 24 horas, temos de respeitar. O que não pode é ser imposto pelo clube. Não é um exemplo ideal, mas se ele se propõe a jogar, é uma opção dele - declarou.