Vasco, La U, Flamengo, Libertadores… Rafael Vaz abre o jogo ao LANCE!
Antes de retorno a São Januário para estreia da Libertadores, zagueiro relembrou passagem marcante no Rio de Janeiro e revelou expectativas na chegada ao Chile
Se foi boa ou ruim, cada torcedor considera da maneira que quiser. A verdade é que a passagem de Rafael Vaz pelo Vasco foi marcante. Durante três temporadas com a camisa cruz-maltina, o zagueiro acumulou gols decisivos, meses afastado por indisciplina e, a cada jogo, fortes emoções nos vascaínos. Nesta noite, vestindo a camisa da Universidad de Chile, ele volta ao estádio onde ganhou nome no futebol brasileiro. Talvez não seja tão bem recebido em São Januário, mas não se incomoda com as possíveis críticas.
- Torcedor é assim, é o papel deles. Espero que me recebam bem (risos). Até hoje chegam mensagens, alguns me pedem para voltar e outros me xingam. Jogador tem que estar acostumado com isso. Passei o pior momento da minha carreira lá, quando treinei sete meses em separado, desanimado, mas também fiz gol que deu o último título ao Vasco. Independente de tudo que passei, felicidades e tristezas, o clube abriu as portas e me acolheu. Não guardo mágoas - afirma Vaz ao LANCE!
Aos 29 anos, Rafael Vaz tem a oportunidade de pela primeira vez jogar por um clube do exterior. Com a camisa da La U, espera se afirmar no Chile e acabar com as dúvidas que o cercam sobre sua qualidade em campo. A grande oportunidade de ganhar confiança na nova casa é justamente na estreia, contra o clube que o projetou. Ele revela conversa com os novos companheiros sobre as dificuldades que encontrarão na Colina.
- Vai ser muito difícil, além do time a torcida do Vasco costuma ajudar muito. Falei super bem para meus companheiros, disse que é um clube que está crescendo novamente, voltando a ser da elite no futebol, buscando títulos mais uma vez. Mas nós só temos jogadores experientes, que sabem se adaptar muito bem a essas ocasiões - garante o zagueiro, que despista sobre a reação se balançar as redes logo na estreia.
- Não sei, não sei (se vou comemorar). Deixa para hora do jogo. Nem vou pedir para bater falta (risos). Mas se sobrar alguma bola na área, quem sabe.
Um dos seus jogos mais marcantes em São Januário foi contra o CRB, na Copa do Brasil, quando você entrou de centroavante e fez o gol da vitória. Acha que pode ser utilizado assim na La U?
De atacante? Não, esquece. Já está difícil fazer a minha posição (risos). Foi uma ocasião, naquele momento Jorginho pensou em me colocar porque poderia ir pra disputa de pênaltis. Ele já tinha me falado que, um ano antes, na última partida contra o Coritiba quando fomos rebaixados, pensou em me colocar de centroavante. Foi só uma oportunidade. Jogar de atacante de novo não dá.
Jorginho foi quem te reintegrou ao elenco do Vasco. Como foi para você ser afastado do grupo por quase sete meses?
'Foi um momento muito difícil na minha vida. Logo depois que me afastaram, fiquei sabendo que minha esposa estava grávida. Pensei: 'E agora?'. Não sabia o que poderia acontecer. Quando cheguei em casa, rezei para que abrisse uma porta porque achei que nunca mais ia vestir a camisa do Vasco. Passaram meses, a oportunidade chegou. Futebol tem dessas coisas, hoje a gente está por baixo e basta uma partida para que tudo mude'
INÍCIO NO CHILE
Sair da elite do futebol nacional para um clube do Chile não é lá um caminho muito comum para os brasileiros. Até o próprio jogador estranhou quando recebeu o convite da Universidad de Chile. Ao LANCE!, ele contou os bastidores da negociação e como lida com as expectativas na 'grande chance da carreira'.
- Um grande amigo me ligou e disse que um time do Chile estava atrás de mim. Acertou com meu empresário falando que estava nas minhas mãos. Fui atrás de informações e me surpreendi. Vi que era a grande chance da carreira, e está dando certo. Ainda tenho idade para arriscar e apostei tudo nesse desafio.
Em menos de um mês, Rafael Vaz já recebeu elogios dos companheiros, dos técnicos e da imprensa chilena. A recepção foi melhor do que esperava - e a humildade das estrelas da equipe também o motivou para assinar o contrato.
- Adaptação é complicada, idioma é diferente. Entendo, mas não consigo falar muito (risos). Até estranhei, todos me receberam muito bem, como uma família. Alguns falam português e me ajudaram, como Beausejour que jogou no Grêmio. O Pizarro e o Pinilla, grandes jogadores, foram os primeiros a me mandar mensagem. São pessoas humildes, mesmo sendo atletas de nome, de seleção. Só tem a acrescentar na minha carreira jogar ao lado deles. Estou muito feliz aqui - garante Vaz, que fala sobre a cidade.
- Ainda não peguei frio, está um calor gostoso. É uma das melhores cidades da América, não é falar mal do Rio, mas em termos de seguranca é o melhor lugar. Fui com a família, esposa e filha pra lá.
Como é a sensação de jogar a Libertadores por um time de fora do Brasil?
- Para mim é gratificante, uma honra. Tenho certeza que poucos jogadores brasileiros tiveram esse prazer. Estou muito feliz, ainda mais de ter ficado só um mês fora e já voltar (risos). A responsabilidade só aumenta, eles gostam de jogador brasileiro, futebol campeão. Expectativa é grande.
Acha que é a maior oportunidade da carreira?
É a maior oportunidade. Ainda mais vestindo uma grande camisa que você sabe que vai ser um time competitivo, que não vai só participar do torneio. A minha passagem por clubes pequenos no início da carreira serviu de aprendizado. Tive o prazer de só jogar em equipes de grande camisa, renomadas, de uns anos pra cá. Esse é o momento de afirmação na carreira.
FLAMENGO
No 'grupo da morte' da Libertadores, conquistar pontos fora de casa é fundamental. E Rafael Vaz sabe bem disso. No ano passado, vestindo a camisa do Flamengo, era titular de uma equipe que investiu alto no mercado, mas viu tudo ir por água abaixo contra o San Lorenzo, na Argentina, onde a equipe perdeu a vaga nas oitavas nos últimos minutos.
'Em dez minutos fomos do céu ao inferno. Se a gente passasse, a história daquela Libertadores seria outra. O peso da eliminação é até hoje'
- Para gente foi muito frustrante. Torcedor acha que jogador não tem sentimentos, não liga. Mas foi um baque. Estava comentando hoje com meus companheiros, em dez minutos estávamos no céu e fomos pro inferno. Se passasse, a história da Libertadores seria outra. A partida era perfeita, sofremos um apagão nos últimos dez minutos. O peso da eliminação está até hoje. Você pode ver que hoje a torcida não tem paciência. Grande parte é por isso, não conseguimos o objetivo naquele momento - revela Rafael Vaz, que enxerga de outra forma.
- Temos que pensar do lado positivo, quanto tempo o Flamengo não ia para Libertadores? Foi novamente agora...
Daquele time eliminado, muitos deixaram o elenco ao fim da temporada. Além de Vaz, nomes como Alex Muralha, Márcio Araújo, Gabriel, Mancuello e Matheus Sávio perderam espaço. Se a pressão da torcida atrapalhou?
- Não vejo assim, são jogadores rodados, sabem o que fazem. Jogamos com uma responsabilidade que sempre tem que vencer, mas do outro lado tem onze pessoas que também querem vencer. Nem sempre vamos conseguir. Foi a eliminação, Copa do Brasil, Sulamericana... Torcedor cria expectativa, como nós criamos. Temos a emoção, mas é o nosso trabalho. O povo acha que é fácil, mas é difícil.
Como foi o processo de saída do Vasco e chegada ao Flamengo?
- Minha mudança foi um pouco delicada, mas não teve nada na Justiça. Meu contrato acabava no final de junho, no Vasco eu era reserva. Não queriam renovar comigo. Eles só se movimentaram porque fiz o gol do título, fiz o gol da classificação e a torcida pediu a renovação. Mas infelizmente não chegamos a um denominador, não sei os motivos, mas eles tinha outros pensamentos. Respeitei. Quando percebi que as negociações estavam encerradas, procurei novos ares. Flamengo já tinha mostrado interesse antes de dar a resposta pro Vasco. Foi tudo às claras. Sempre me trataram muito bem, não tem o que falar mal do Vasco.
E a chegada ao Flamengo, como foi?
- Rodrigo Caetano me conhecia bastante. O Zé Ricardo tinha acabado de subir para o profissional. O Fred Luz e o presidente falaram que eu viria pra cá para ajudar, buscando espaço, como opção. Não me prometeram ser titular. Tive que trabalhar, deu tudo certo. Zé ricardo deu muita força. Foi uma série de fatores. Não é sorte, mas tive a felicidade de chegar num momento em que o Juan estava machucado, o Léo Duarte tinha acabado de subir, o Réver chegando. Deu certo a dupla, e o professor foi nos ajudando. O Zé Ricardo para mim foi um paizão, tudo que ele fez na minha carreira, me ajudou profissionalmente e extra-campo dando conselhos maravilhosos.
Você treinou nestes dias no Ninho do urubu e joga nesta noite em São Januário. Qual destes lugares te traz mais recordações?
- (Risos) Estou tranquilo, nem penso nisso. Minha cabeça está agora na La U. Meu colega brincou: 'Você não está mais no Rio, agora é nosso'. E é verdade.
Tenho que viver e respirar aqui. Encontrar amigos no Vasco e Flamengo é maravilhoso mas hoje estou representando uma bandeira totalmente diferente. Até mesmo um país. Como chile não foi à Copa, o país inteiro está voltado para Libertadores. É uma responsabilidade gigante. Não vim para passear, o trabalho está em primeiro lugar.
Você surgiu para o futebol brasileiro quando chegou ao Vasco, mas rodou bastante por clubes menores antes disso. Como foi seu início de carreira?
- Comecei a jogar no Corinthians com nove anos de idade. Joguei até os 14, mas não tive oportunidade. Quando é jovem, é mais dificil engrenar. Era zagueiro. Fui para o Paulista de Jundiaí, onde fiquei pouco tempo e fui pra o Barueri onde fiz meu primeiro contrato com 16 anos. Fui emprestado ao Palmeiras onde fiquei ate os 18. Virei volante, joguei mais de dois anos e meio assim até acabar meu contrato. Jogava no time B com Emerson Leão que me deu muitas oportunidades. Saí do Palmeiras, fui pro Gama... você não acredita quantos clubes passei. Teve o Bahia, que o técnico Roberto Cavalo me levou com 19 anos para jogar uma Série B. Comecei a rodar por times menores. Passei no Paraná, até que a carreira engrenou no Vila Nova-GO, na Série C. Fiz dez gols como zagueiro e comecei a decolar. Cheguei no Ceará, joguei 5 meses e fui campeão cearense. Até que o Paulo Autuori me trouxe para o Vasco.
O Paulo Autuori, inclusive, pediu sua contratação para o Fluminense no mês passado, segundo o LANCE! apurou. Como foi essa conversa?
- Falei pouco com meu empresário, estava focado no Flamengo. Sabia que tinham algumas possibilidades e ele comentou que teria essa oportunidade no Fluminense, perguntou o que eu achava. Seria meu terceiro clube seguido no Rio, não é fácil. Sei o que sofri quando vim do vasco para o Flamengo. Não que eu não jogue lá, mas pular direto de um para o outro é complicado. Ele nunca me confirmou que teve uma porposta formal, mas que poderia ser, que teve uma conversa, uma sondagem. Nada no papel.