Opinião: Lembranças da queda vascaína (daqui a 30 anos)

Sem entender a complexidade do ano de 2015, será difícil entender o rebaixamento

imagem cameraNenê foi o principal jogador do Vasco, mas não teve companhia (Foto: Rodolfo Buhrer/Lancepress!)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 07/12/2015
20:35
Atualizado em 08/12/2015
11:27
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Daqui a 30 anos, o mundo terá mudado muito, mas a paixão do torcedor pelo seu time permanecerá inabalada. Mas ninguém terá tão fresco na memória tudo o que aconteceu neste terceiro rebaixamento do Vasco em oito anos. Agora imagine um diálogo de você, cruz-maltino que terá seu filho daqui a 15 anos, com este mesmo herdeiro:

- Pai, eu estava pesquisando aqui: aquele Brasileiro de 2015 tinha Chapecoense, Ponte Preta, Avaí... como que o Vasco conseguiu ser rebaixado?

- Ah, filho. Faz parte. Coisas do futebol - você dirá, querendo mudar de assunto.

- Mas o time era ruim? Disseram que conseguiu uma arrancada no segundo turno.

- Os caras que começaram o campeonato não passavam a menor confiança, mas depois chegaram outros que deram uma sobrevida.

- Mas... Vamos lá: quem era o goleiro?

- Martin Silva. Pegava muito. Era da seleção uruguaia.

- Laterais?

- Na direita era o Madson, que corria muito no ataque e não comprometia na defesa. Na esquerda, o Julio Cesar foi um dos que encaixaram no meio do campeonato, e até fez gols importantes.

- Zaga?

- Tinha o Luan, que era muito promissor, passou por Seleção Sub-20, quase foi pra Olimpíada, e o Rodrigo, um xerifão. Fazia gol de cabeça e de falta. Mesmo com 35 anos, a diretoria renovou o contrato dele.

- No meio-campo, tinha quem?

- Ah, mudou bastante. Mas quando o time se acertou, foi com o Diguinho, bicampeão brasileiro no Fluminense, tinha também o Andrezinho, que pegava muito bem na bola, e o Nenê, que comeu a bola no segundo turno.

- Nenê?

- É. Ele jogou no Brasil no início e no fim da carreira. Muito técnico, amigo do Falcão do futsal, sabe quem?

- Ouvi falar...

- Mas tinha outros caras de nome também no banco. Julio dos Santos, Guiñazú...

- Quem?

- Um foi artilheiro de Libertadores, o outro roubava bola como ninguém.

- E esses caras eram banco?

- Sim.

- Como?

- Não rendiam.

- Mas e o ataque, não convencia? Não tinha ninguém de nome?

- Até tinha. Jorge Henrique, Herrera, Dagober...

- O Dagoberto foi do Vasco?!

- Foi. Você sabe quem é?

- Claro, o cara foi pentacampeão brasileiro, pô! Ele fez muito gol?

- Não. No Brasileiro, nenhum. Em agosto ele já nem treinava com o grupo mais, vai entender...

- Como que pode?

- Sei lá, filho. Um outro atacante era o Rafael Silva, que tinha uma estrela danada. Era "caçador de urubu"!

- É um que aparece nessas reportagens de véspera de final?

- Isso. Que nem o Cocada, de décadas antes.

- Mas peraê, pai. Você fala de um jeito que parece que esse time era bom. Como que caiu?

- Sei lá, p... Chega!

- Arbitragem atrapalhou?

- Ah, c... Sim, mas o primeiro turno foi horrível. Fizemos só 13 pontos.

- É, aí não há o que dê jeito. E quem era o presidente?

- (respira impaciente) Eurico.

- Eurico Miranda?

- Primeiro e único.

- Não sabia que ele tinha essa mancha no currículo de dirigente.

- Tem, tem sim. E chegou a garantir que o Vasco não cairia. Ele tinha um jeitão meio garantido, mas nada resolveu.

- Pai... você falou tudo isso e eu continuei sem entender.

- Eu disse que era complicado entender. Agora, o que eu não consigo entender é por que você não foi dormir ainda.

- Depois dessa que eu não consigo dormir mesmo.

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