Os capítulos mais recentes da política do futebol carioca colocaram lado a lado dois dos maiores rivais do estado: Vasco e Flamengo. Mas não faz muito tempo, no campo e nos bastidores, isso era impensável. Especialmente quando o presidente cruz-maltino era Eurico Miranda - antecessor do atual mandatário, Alexandre Campello.
Ao longo das décadas de serviços prestados ao Cruz-Maltino, Eurico, que morreu em março do ano passado, fazia questão de se posicionar, quase sempre, em lado diferente do que estava o Rubro-Negro. Fosse em pautas da Ferj, fosse sobre direitos de transmissão ou outros temas.
Com Campello as coisas são diferentes. Neste 2020, se faz nítido o alinhamento à diretoria de Rodolfo Landim, na política interna do futebol, ao quererem o retorno dos jogos mais rapidamente do que desejam Botafogo e Fluminense. Externamente, são os dois clubes que mais claramente se aproximam do governo federal. Os presidentes de ambos os clubes estiveram, inclusive, com o presidente da república, Jair Bolsonaro, em reunião no mês passado.
Mas a diretoria, hoje esvaziada, do presidente do Vasco tem uma relação de menos rivalidade e de mais exemplos do que outrora. A própria recuperação financeira da gestão Eduardo Bandeira de Mello, que plantou o que vem sendo colhido por Landim, é alvo de inspiração nos projetos que visam a reestruturação financeira do clube de São Januário.
A rivalidade que fez do Clássico dos Milhões um embate que foi dos gramados às declarações de jogadores e ações de dirigentes foi impulsionada por Eurico Miranda, como citado acima. O episódio do "chocolate de Páscoa", em 2000, é simbólico. Mas assim como há pacifismo hoje em dia, também houve antes.
Um dos nomes mais prestigiados da política vascaína, Antônio Soares Calçada morreu também no ano passado e foi presidente do clube cruz-maltino por seis mandatos seguidos nos anos 1980 e 1990. Embora obviamente ligado ao clube que comandou, ele tinha perfil conciliador tanto no clube quanto fora, e também era sócio do Flamengo.