"Vamos subir, Vasco". Durante os dois últimos anos, esse foi o mantra repetido pela torcida do time da Colina. Mas quando enfim veio o sonho tão almejado, o torcedor cruz-maltino mandou às favas os festejos. E partiu até para a cobrança após a vitória por 1 a 0 sobre o Ituano, no domingo (6), no interior paulista, resultado que sacramentou a volta do clube à primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
O carrossel de emoções que se tornou o Vasco desde que teve sacramentado seu quatro rebaixamento na história mostra que pelo menos o Cruz-Maltino criou uma espécie de casca.
De Niterói, de onde saiu na própria manhã de domingo e cruzou os quase 800 km de distância de carro, sozinho, o dentista Maurício Farias, 42 anos, era um exemplo desse sentimento à flor da pele que cai sobre São Januário. Antes do jogo, "o sentimento não pode parar". Depois da volta à Série A, como em um estalar de dedos, se descobre o óbvio: comemorar o quê? Isso na visão dele:
- Estive nos 19 jogos em casa e, por mais que quando chegamos aqui, depois de uma viagem tão longa, bate aquele orgulho de pertencer ao único pedaço mais bonito de nossa história. Quando o apito final toca você percebe que não adianta ficar soltando confete.
Maurício não era um pensamento isolado. Como ele, muitos queriam ir embora logo após o apito final. Havia quem chorasse. Acabou o pesadelo? E aí os olhos marejados relembram a trajetória vivida. E o tom muda.
- Espero que seja o último acesso. Chega. Eu choro porque estou emocionado. Mas tem que se criar vergonha na cara de todo mundo, da diretoria, dos jogadores - disse um torcedor que se limitou a se identificar como João e que vinha de Minas Gerais. O motivo pelo qual correu foi subir no alambrado para gritar o nome de Figueiredo.
Mas como explicar a psicologia vascaína? Nem mesmo nos altos patamares. Nas tribunas de honra e no gramado após o apito final sintomas distintos. Os donos do papel e da caneta com um claro semblante de alívio por não somar mais um fracasso na conta. Os de chuteira e os que cercam a satisfação de cumprirem o objetivo diante de tantos contratempos.
E não há ninguém que tenha mais autoridade para falar do que o lateral Léo Mattos. Há três anos na Colina, viu o rebaixamento, o fracasso do ano passado e a redenção atual.
- A gente devia para o torcedor. Simples assim. A gente devia. Eu mais do que os outros. Estava aqui na queda, no ano passado... Nunca falhamos porque queríamos. Esse acesso deveria ter vindo muito antes, mas falhamos de novo. Felizmente está aí e podemos entrar para a história do Vasco por páginas bonitas - comentou.
Qual o Vasco que deixou Itu? Pergunta sem resposta, enfim. Tudo mudará em 2023. E motivos não faltam para que a torcida continue cismada, os dirigentes com medo e os jogadores temerosos. O Gigante da Colina, antes de tudo, precisa se reencontrar. Pela quinta vez.