De comunidade, Joycinha lidera Flu e lamenta a falta de ‘garimpo’ no vôlei
Repatriada após seis anos no exterior, a vice-campeã mundial em 2010 diz que vê talentos desperdiçados por falta de olheiros, como na época em que foi descoberta, em Guarulhos <br>
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A dificuldade que o Brasil enfrenta para revelar talentos no vôlei é facilmente explicada por quem entende do assunto desde nova. Vice-campeã mundial em 2010, Joycinha lidera o Fluminense na Superliga feminina e lamenta a falta de olheiros pelo país para captar atletas com boa altura e potencial na nação bicampeã olímpica.
Nascida em uma comunidade carente de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, a atacante de 34 anos foi descoberta desta forma, quando jogava na escola. Aos 14, já chegava perto do 1,91m de hoje e despertou o interesse de um professor, que a levou para a Associação Atlética de Guarulhos.
Na época, a Seleção Brasileira ainda não havia chegado ao auge, mas o país começava a preparar uma geração promissora. Joycinha aproveitou o contexto para se inserir entre as apostas do momento.
– É triste, pois o investimento no esporte está caindo. Vejo muitos talentos perdidos, por falta de oportunidade. Não garimpam como antes. Saí de comunidade. O cara foi lá, me viu e falou: “nossa, você é alta”. Nem sabia se eu era coordenada. Tinha Educação Física. Era obrigado a fazer, senão tirava zero. Hoje, não buscam as meninas. O Fluminense e alguns times de São Paulo têm base, mas a minha cidade, por exemplo, não mais – disse Joycinha, ao LANCE!.
Após jogar nas categorias de base do São Caetano (SP), ela fez seus primeiros anos de adulto no Minas Tênis Clube (2003 a 2007), onde ganhou projeção para Pinheiros (2007 a 2008) e Rexona-Ades (atual Sesc-RJ), de Bernardinho, com quem foi campeã em 2008/2009 e 2009/2010.
A atleta celebra a maturidade. Nos últimos seis anos, jogou no exterior e aprendeu a ver seu país de outra forma. Em 2012, defendeu o Fakel Novy Urengoy (RUS). Entre 2013 e 2015, o desafio foi no Daejeon KGC, na Coreia do Sul. Depois, brilhou no Bursa BB (TUR), de 2015 a 2017, e Canakkale (TUR), até 2018.
A oposto conta que a experiência foi enriquecedora, sobretudo para se afastar das cobranças do Brasil, e se mostra preocupada com o futuro. Perto de parar, quer jogar mais um ou dois anos, mas gostaria de ver novas “Joycinhas” no país.
– Há meninas boas, mas, às vezes, falta uma disputa, alguém no pé para mostrar que, se ela vacilar, tem alguém no lugar, como eu tive.
O Fluminense volta a jogar pela Superliga feminina no dia 8 de janeiro, contra o Minas, no ginásio do Hebraica, no Rio.
Após retorno inesperado, felicidade por sentir o verão
Valorizada no exterior, Joycinha não pretendia voltar ao Brasil. O Fluminense, que ficou em sexto no ano passado e foi ao mercado disposto a elevar o nível do time, precisou aumentar os valores oferecidos à atleta para fechar o contrato. Ela comemora.
– Eu pensava em encerrar a carreira lá fora, mas aceitei o desafio e estou me surpreendendo. Está sendo mais legal do que imaginava. É bom reencontrar o pessoal e o clima é diferente. Eu só vinha pegando inverno, né? Chegava aqui com inverno e voltava para fora no inverno. Tive um pouco de dificuldade com esse calor, mas está sendo ótimo – diz Joyce.
Em novembro, a equipe foi vice-campeã carioca, após perder a taça para o Sesc-RJ. Na Superliga, fechou o ano em quarto (5 vitórias e 4 derrotas).
Joycinha já marcou 114 pontos nesta Superliga, em nove partidas do Fluminense. Sua melhor marca foi na derrota para o Pinheiros por 3 a 1, quando teve 24 acertos.
BATE-BOLA
Joycinha
Oposto do Fluminense, ao LANCE!
‘Aqui, somos muito cobradas desde novas’
Você passou por Rússia, Coreia do Sul e Turquia. Como foi isto?
Todos os lugares foram desafiadores. Na Rússia, é muito frio. Na Coreia, eles são muito certinhos, que até irritam um pouco (risos). E Turquia é um país muçulmano, com costumes completamente diferentes dos nossos. No início, foi difícil de me adaptar. Mas só o primeiro mês, quando eu ainda não os conhecia.
Qual foi a maior lição lá fora?
Lá fora, o jeito de jogar é muito diferente. Aqui no Brasil, é "vamos trabalhar a bola, se está ruim não força". Quando cheguei lá nos primeiros anos lá fora, eu era muito cobrada de ir firme nas bolas ruins, afinal eu era a jogadora de decisão e precisava colocar a bola no chão. Nos dois primeiros anos, na Coreia e na Rússia, eu trabalhava muito as bolas quando vinham ruins. E tinha dificuldade de pontuar. Com o tempo, aprendi a afinar o contra-ataque e a não sentir o jogo. Aqui, desde nova, somos muito cobradas. Entramos com aquela pressão. Lá, eu errava uma bola e falavam "calma, foi só uma bola, pensa na próxima, não acabou o jogo". Acho que todo mundo que tiver oportunidade deve jogar pelo menos um ano lá fora, longe dessa pressão, para se soltar mais.
Seu último time aqui foi o Vôlei Futuro, em 2012. O que mudou na Superliga?
Este ano, todas as equipes se reforçaram. A Superliga está melhor. O Fluminense se reforçou, mas Bauru, Osasco e Pinheiros também. Hoje, todos os times têm condições de chegar às quartas de final.
QUEM É ELA
Nome
Joyce Gomes da Silva
Nascimento
13/6/1984 - Guarulhos (SP)
Altura e peso
1,91m/70kg
Conquistas
Vice-campeã mundial com o Brasil em 2010, no Japão; campeã do Grand Prix de 2009; vice-campeã do Grand Prix em 2010; campeã da Copa Pan-Americana de 2009; prata na Copa dos Campeões de 2009; duas vezes campeã da Superliga com o Rexona (2009 e 2010); e campeã da Challenge Cup no Bursa (2017).
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