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Inspirado nos EUA, time da Superliga coloca atletas de frente para os livros

Curitiba Vôlei sobrevive graças a apoio de universidade e esforço de ex-tenista para manter equipe na elite. Jogadoras contam com estrutura e bolsas para curso de inglês e graduação

Curitiba Vôlei - Feminino
imagem cameraCuritiba luta pela classificação para os playoffs da Superliga pelo segundo ano seguido (Foto: Diego Wladyka)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 18/02/2020
17:44
Atualizado em 20/02/2020
15:08

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Um time formado por atletas estudantes aposta todas as fichas na união entre esporte e educação para sobreviver em um cenário de dificuldades financeiras. Único representante do Sul na Superliga feminina, o Curitiba Vôlei, em parceria com a Universidade Positivo, oferece cursos de graduação e idiomas para jogadoras, que dividem a rotina árdua de jogos e treinamentos com os livros.

O projeto, idealizado pela ex-tenista Gisele Miró, uma apaixonada pelo vôlei, enfrentou cortes no orçamento em relação à última temporada, devido ao fim de um patrocínio direto do governo do Paraná.

A universidade não paga salários, mas disponibiliza, além das bolsas, uma estrutura de ponta. As atletas contam com ginásio, academia, piscina, salas de aula, quadras, atendimento das clínicas e suporte dos estudantes de fisioterapia, educação física, medicina, nutrição, psicologia e odontologia.

A dirigente admite que já tirou mais de meio milhão de reais do próprio bolso para manter a equipe. O orçamento é de R$ 1 milhão para a temporada, o que resulta em cerca de R$ 100 mil por mês. Boa parte do montante vem de premiações que ela conquistou como tenista.

O projeto inclui um trabalho de atendimento social a crianças, ao mesmo tempo em que incentiva as jogadoras a pensarem no pós-carreira. Oito delas dividem a Superliga com os seus cursos, que podem ser semipresenciais ou à distância.

– Acredito que seja um dos melhores projetos esportivos hoje no Brasil, por proporcionar a união do alto rendimento com a educação e inspirar novas gerações. Vemos muitas crianças nos jogos e damos a oportunidade para as atletas estudarem. Quem não faz graduação, ao menos está inscrita no curso de inglês – contou Gisele, ao LANCE!.

A viabilização da equipe aconteceu em 2017, depois de muitos estudos. O primeiro passo foi a conquista da Superliga B. No primeiro ano na elite, o grupo ficou em oitavo. A classificação para as quartas de final significou uma vitória diante do orçamento limitado.

A inspiração para o projeto atual veio do modelo de sucesso dos Estados Unidos. Os números do país impressionam. Enquanto o Brasil, em 22 edições de Jogos Olímpicos, conquistou 129 medalhas, só Stanford, que lidera o quadro das instituições americanas, soma 282 pódios no maior evento esportivo do mundo desde sua primeira conquista, em Londres-1908. Em seguida, aparecem a Universidade da Califórnia (UCLA), com 241, a California Berkeley, com 212, e Harvard, com 210.

Nos Estados Unidos, cerca de 480 mil estudantes praticam esportes e recebem bolsas em universidades associadas à National Collegiate Athletic Association (NCAA). O fundo de benefícios é avaliado em US$ 2,9 bilhões, verba destinada a cobrir mensalidades, alojamento e alimentação dos estudantes, com bolsas totais ou parciais.

Veteranas formadas nos EUA estimulam as novatas

A trajetória de quem viveu anos de estudos no exterior aliados ao esporte de alto rendimento serve de inspiração para as atletas mais jovens. Curitibana, a central Mariana Aquino, de 28 anos, se tornou a primeira atleta brasileira a vencer o campeonato universitário dos Estados Unidos (NCAA), em 2011.

Formada em Relações Internacionais e Ciências Políticas pela UCLA, Mari concluiu no ano passado a pós-graduação em gestão de marketing pela Positivo, enquanto se recuperava de uma lesão no joelho esquerdo. Ela já voltou a pegar na bola, mas não joga esta edição.

– Os estudos me deram tranquilidade no momento da lesão. Infelizmente, a união entre esporte e educação ainda não é realidade no Brasil. Sabemos que para chegar ao patamar dos americanos serão anos de trabalho, mas quando a universidade oferece bolsa integral às atletas, ela soma – avaliou Mari.

Outro destaque é a central americana Claire Felix, de 25 anos. Formada em Sociologia pela UCLA e mestre em Gestão de Negócios na Inglaterra, ela incentivou as brasileiras a correrem atrás do estudo.

– Quando a Claire chegou, quase todo mundo se inscreveu no curso de inglês por causa dela – lembra Gisele.

Em sua primeira temporada no comando de uma equipe da Superliga, o técnico Durval Nunes, o Duda, garante dar o apoio necessário para suas comandadas.

– Durante a Superliga, não é tão fácil focar o tempo todo nos estudos. Mas tudo é ajustado. Um curso de três ou quatro anos a atleta pode fazer em cinco, porque ela joga disciplinas para frente. Mas eu sou daqueles que as incentiva a fazerem, mesmo que demorem um pouco mais, para que, quando acabar a carreira nas quadras, elas tenham subsídios para suas vidas – disse o técnico, formado em Educação Física e pós-graduado em voleibol e fisiologia do exercício.

Curitiba faz ‘decisão’ 

O Curitiba Vôlei tem nesta quinta-feira um duelo decisivo para suas pretensões de chegar aos playoffs da Superliga pelo segundo ano seguido. Em nono na tabela (17 pontos), a quatro rodadas para o fim da fase classificatória, o time do técnico Durval Nunes recebe o Pinheiros, oitavo (18 pontos), no ginásio da Universidade Positivo, às 20h (de Brasília). Se vencer o rival direto, entra na zona de classificação para as quartas de final. Depois, encara Flamengo (11°), Fluminense (6°) e o São Paulo/Barueri (7°).

BATE-BOLA
Gisele Miró
Ex-tenista e dirigente, ao L!

‘Carrego o projeto nas costas, mas com esperanças de que dê certo’

A equipe venceu a Superliga B, lotou o ginásio, alcançou os playoffs e mesmo assim perdeu apoio. Foi uma surpresa?
Eu realmente achei que tudo fosse melhorar devido aos resultados. As meninas estão treinando bastante, são guerreiras e mereciam maior apoio. Estou carregando o time nas costas, mas com esperanças de que dê certo. Sou teimosa. Vou levar até onde der. 

Como você idealizou o projeto?
Minha filha Isabela joga tênis e estudou nos Estados Unidos. Quando eu era atleta, era impossível conciliar a rotina com estudos. Refleti muito. A Positivo nos deu uma estrutura incrível e a chance de proporcionarmos às jogadoras algo que eu não pude ter.

Quais são as perspectivas do futuro do projeto? Será mantido?
Continuo conversando tanto com a prefeitura como com o governo do estado. Tenho projetos aprovados que são fundamentais, mas as coisas no âmbito político são meio engessadas. Graças aos bons resultados e ao carinho enorme de Curitiba pelo projeto, temos grandes perspectivas de seguir em frente. Acho que estou conseguindo mostrar aos nossos governantes a importância do esporte como ferramenta para a educação e a saúde.

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