Não são os valores, os princípios humanitários e o espírito cidadão dos dirigentes que estão, ainda que timidamente, engajando o esporte no combate ao racismo, à homofobia, à xenofobia e às diversas formas de preconceito. É, tão simplesmente, o poder do dinheiro.
O episódio do vôlei deixou isso claro. Não fosse a pressão de patrocinadores como a Fiat e o Grupo Gerdau e o caso acabaria numa retratação fajuta e covarde do jogador e numa advertência simbólica do clube. O próprio, aliás, admitiu isso. Saiu chamando os cartolas mineiros de "homens de verdade'' - mais uma provocaçãozinha barata, diga-se de passagem - e atribuindo sua demissão aos lacradores de internet que influenciaram os patrocinadores.
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No fundo o cara apostava, tinha certeza de que, como tantos outros, ficaria impune.
Se é lamentável que ainda hoje comportamentos como esse sejam tolerados pela cartolagem, é alvissareira a mobilização das empresas. Os patrocínios, mais do que as convicções, podem de fato ser um fator de mudança no esporte.
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Quando as denúncias de assédio moral e sexual contra Rogério Caboclo vieram à tona foi a pressão dos parceiros comerciais da CBF que cortou pela raiz as articulações de bastidores que visavam jogar o lixo para debaixo do tapete e preservar o cargo do cartola. E foi o medo da reação desses mesmos patrocinadores às curtidas imorais do filho e auxiliar de Tite, Matheus Bachi, que levou a CBF a apressar-se, agora, em condenar a atitude do seu funcionário. Mas será que isso basta e encerra o caso?
Associar uma marca à Seleção Brasileira - assim como a um grande clube ou a um ídolo atleta sempre foi e continuará a ser uma vitrine desejada. Mas hoje em dia a linha é tênue entre o bônus e o ônus que isso oferece. A vigilância é grande, as redes sociais demolidoras e um passo em falso pode jogar para o espaço mais do que o investimento, a credibilidade de um patrocinador - o que é infinitamente mais grave.
Na Copa América da pandemia, que o Brasil sediou, não foram poucas as marcas que retiraram seu apoio diante da saraivada de críticas que por todo o continente se fazia à realização do torneio com a vacinação engatinhando e as mortes ainda em alta. E essa tendência de posicionar-se, de tomar partido, é irreversível no mundo da publicidade e do marketing.
Preconceito de raça, sexo, nacionalidade ou o que quer que seja nada tem a ver com liberdade de opinião. É crime. O discurso de ódio, da discriminação, está longe de ser exclusividade de uns poucos - quantos não foram os que como Bachi aplaudiram o comentário do jogador de vôlei? Mas, de muitos brasileiros mais, é a indignação e a reação que esse tipo de gente provoca. E o risco de estar do lado errado pode causar a uma marca prejuízos imensuráveis quando se pesa os dois pratos da balança.
Essa história do filho de Tite não chegou ao fim, podem acreditar. Novos capítulos virão por aí. Afinal, espera-se que como na seleção brasileira de vôlei, onde o técnico Renan Dal Zotto decretou não haver lugar para a homofobia, na Seleção Brasileira de futebol, que um dia já foi um orgulho da Nação, as vozes do preconceito e do ódio também sejam caladas. Um bom começo para reconquistar o respeito!