A Superliga feminina de vôlei, que começa nesta terça-feira, com seis partidas, promete mostrar sinais importantes de renovação na modalidade no Brasil. O cenário se desenha no momento de convergência entre dois fatores: jovens talentos alcançam maior grau de maturação e grande parte dos clubes enfrenta dificuldades para contratar jogadoras consagradas.
O maior exemplo é o São Paulo/Barueri, comandado pelo tricampeão olímpico José Roberto Guimarães, que estreia contra o Fluminense, às 19h30, no Ginásio José Correia, em Barueri (SP). A equipe, com média de idade de apenas 21 anos, sagrou-se campeã paulista na sexta-feira, ao derrotar o favorito Osasco/Audax, e ergueu um troféu que antes parecia improvável.
Isso porque o time paulista, sexto colocado na última Superliga, sofreu um corte considerável em seu orçamento. A parceria com o Tricolor permitiu que o técnico e também dirigente mantivesse um grupo de potencial. Com a saída das bicampeãs olímpicas Thaisa, para o Itambé/Minas, e Dani Lins, para o Sesi Bauru, além da aposentadoria da polonesa Skowronska, um espaço foi aberto para as novas gerações.
– Temos três jogadoras da Seleção principal, mas também três da sub-20. É provável que vejamos algumas delas nas Olimpíadas de 2024 e 2028 – diz Zé Roberto, em referência à oposto Lorenne (23 anos), à ponteira Tainara (19 anos) e à central Mayany (22 anos), que fizeram parte da Seleção Brasileira adulta na temporada, além da central Diana (20 anos), da oposto Kisy (19 anos), da levantadora Jacke Moreno (19 anos), das divisões de base do time nacional.
No topo da tabela que deve se desenhar ao final da fase classificatória, em março, cinco clubes prometem se manter nas primeiras posições, embora seja difícil apontar favoritos: Itambé/Minas, atual campeão, Dentil/Praia Clube, atual vice, Osasco/Audax (3º), Sesi Bauru (4º) e Sesc RJ (5º), que mantiveram o poderio financeiro e terão nos elencos uma mescla de experiência e juventude. Oito campeãs olímpicas estão concentradas nestas equipes. Veja mais abaixo.
Acostumados com o trabalho de base, São Cristóvão Saúde/São Caetano (de onde saíram parte das atletas do São Paulo/Barueri), Pinheiros, Fluminense, Flamengo, de volta ao torneio após 13 anos, e Valinhos também deram espaço aos novos valores, em meio às restrições financeiras.
– Nossa função é justamente atuar no intervalo entre o juvenil e o adulto. Não temos um investimento que nos permita brigar pelas primeiras posições, mas contamos com um volume maior de atletas novas do que a média das equipes e podemos dar oportunidades para elas se destacarem. A classificação entre os oito é difícil, mas se o grupo der liga, tudo é possível – falou Fernando Gomes, técnico do São Caetano, ao LANCE!.
Geração forte tenta preencher hiato
A aparição de atletas jovens de potencial nas grandes equipes do Brasil e nas Seleções mostra que o país dá passos para sair de um buraco aberto pela redução de investimentos na sua base nos últimos tempos.
Em 2019, a Seleção Sub-18 conquistou o bronze no Mundial, no Egito, ao derrotar a China, e retornou ao pódio da categoria depois de sete anos. Já na Sub-20, enfrentou dificuldades e terminou em sexto. O alento é a aparição, em ambas as categorias, de jogadoras altas e de boa qualidade técnica.
– Não temos os intercâmbios de antes e tivemos um hiato, mas, aos trancos e barrancos, estamos trabalhando. Tenho acompanhado e recrutado atletas de 2004. É uma geração especial. Lá para 2024, teremos um grupo de meninas acima de 1,90m e tecnicamente muito qualificadas – afirmou Hairton Cabral, técnico da Seleção Sub-20 e assistente técnico do São Caetano, ao L!.
O comandante celebra a ascensão de Ana Cristina Souza, de 15 anos e 1,92m, melhor ponteira do Mundial Sub-18, no Egito, com participação na Sub-20 e atleta da base do Pinheiros. Filha da ex-jogadora Ciça, campeã mundial juvenil em 2000, a jovem é apontada por treinadores como uma atleta "fora da curva". Mas também cita barreiras que ainda prejudicam o processo de renovação.
– As jogadoras hoje têm uma longevidade maior. Antes, muitas se aposentavam aos 28 anos. Hoje, jogam até 35 ou mais. Isso dificulta para as jovens. E há um problema sério de transição. O estado de São Paulo ainda dá vida mais longa às juvenis, pois tem estadual até Sub-21. No resto do país, eles terminam no Sub-19. Nesta idade, as meninas não estão prontas para serem aproveitadas na Superliga. No máximo, ficam no banco. Muitas desistem. Existe uma guilhotina. Quem não passa, é degolado – completou Cabral.
Mais cinco jogos agitam a rodada
Além do duelo entre São Paulo e Fluminense, outros cinco jogos ocorrem nesta terça-feira, na primeira rodada do turno: Flamengo recebe o Itambé/Minas, às 20h30, no Tijuca; o Valinhos encara o Dentil/Praia Clube, às 20h, no Municipal de Valinhos; o Osasco/Audax enfrenta o São Cristóvão Saúde/São Caetano, às 20h, no José Liberatti; o Pinheiros pega o Sesi/Bauru, às 21h, no Henrique Villaboin; e o Curitiba duela contra o Sesc RJ, às 20h, em seu ginásio.
AS EQUIPES DA SUPERLIGA FEMININA
Itambé/Minas
Atual campeão, tem as bicampeãs olímpicas Thaisa e Sheilla como destaques, e tentará lidar com as perdas de Gabi e Natália, agora na Turquia. Para seus lugares, trouxe a americana Deja McClendon e a venezuelana Roslandy Acosta.
Dentil/Praia Clube
Atual vice-campeão, é o time mais “rico” da Superliga e promete brigar pela taça. Conta com as campeãs olímpicas Fernanda Garay e Walewska.
Osasco/Audax
Reforçada pela campeã olímpica Jaqueline e pela sérvia Ana Bjelica, campeã mundial, a equipe de Luizomar tentará voltar à final após três anos. A cubana Casanova, de apenas 18 anos, é outro destaque.
Sesi Bauru
Quarto colocado na última edição, promete brigar pelo título. Tem a campeã olímpica Dani Lins, a ponteira/oposto Tifanny, a azeri Polina Rahimova, a americana Sarah Wilhite e uma base forte para tentar a taça inédita.
Sesc RJ
Sob comando de Bernardinho, tem a campeã olímpica Tandara e as jovens Drussyla (23 anos) e Natinha (22 anos) para tentar voltar ao topo do pódio após ficar fora da semi. A experiente levantadora Fabíola é outro destaque.
São Paulo/Barueri
Campeão paulista na última semana, tem a levantadora Juma como a atleta mais velha, com 26 anos. Lorenne, de 24, é o grande destaque. A média de idade do grupo é de apenas 21 anos.
Fluminense
Sétimo na última edição, teve redução de orçamento, mas manteve peças importantes e aproveitou da base Letícia, de apenas 16 anos, Pâmela Sanabio, de 20, e Júlia Moura, de 21. Paula Borgo foi o grande reforço.
Pinheiros
Após ficar fora dos playoffs, o clube apostou em reforços, como Edinara e Saraelen, e aproveitou atletas de sua base para compor o adulto, como Karina, Lorena e Lorrayna, todas com 20 anos.
Curitiba
Com a campeã olímpica Valeskinha, o time também teve cortes no orçamento e aposta em jovens após o oitavo lugar.
São Cristóvão Saúde/São Caetano
Com um dos menores orçamentos da Superliga, o clube abre espaço para atletas que buscam espaço no mercado e nomes da nova geração. Sobrinha da ex-levantadora Fofão, a líbero Paulina (20 anos) é uma das atrações da equipe.
Flamengo
De volta à Superliga após 13 anos, mescla experiência e juventude. A argentina Mayer, de 18 anos, Gabi Dutra, de 20, Bia Flávio, de 20, e Natália Monteiro, de 21, são os destaques da nova geração que defenderão o Rubro-Negro.
Valinhos
Campeão da Superliga B, resistiu aos cortes e apostou em um grupo jovem. Camila Mesquita, de 19 anos, é a grande aposta da equipe.