Luiz Gomes: ‘Com Mattos e Sampaoli, barco do Galo pode afundar mais rápido na tempestade’
Dívida do Atlético somente com a União já ultrapassa os R$ 365 milhões, segundo dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) levantados pelo jornal Valor Econômico
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Alexandre Mattos, agora diretor de futebol do Atlético-MG, deu entrevista essa semana dizendo que a situação do Galo é desesperadora. Assim como, segundo ele, de todos os clubes do Brasil por conta da paralisação do futebol no rastro da epidemia do coronavírus.
Não resta dúvida de que os prejuízos desse período sem receitas são pesados. Mas, convenhamos, a situação do Atlético já não era nada boa antes mesmo disso tudo começar, independentemente das consequências da epidemia. O problema é que, ao contrário de outros clubes, que vinham buscando equilibrar suas contas e estabilizar as finanças, o Galo optou por um caminho oposto, abrindo os cofres para gastar um dinheiro que não tinha.
A dívida do Atlético somente com a União já ultrapassa os R$ 365 milhões, segundo dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) levantados pelo jornal Valor Econômico em fevereiro último, via Lei de Acesso à Informação. O clube é o segundo maior devedor - atrás apenas do Corinthians, com R$ 737 milhões – num conjunto de quase R$ 5,3 bilhões que somam as dívidas totais de entidades esportivas, federações e confederações incluídas.
Ainda assim, a sucessão de eliminações vexatórias, na Sul-Americana e na Copa do Brasil, levou o presidente Sérgio Sette Câmara a fazer aquilo que a maior parte dos cartolas tupiniquins sempre faz quando a pressão da torcida aperta e seus projetos pessoais ou eleitorais se veem ameaçados: pensar com a emoção e o estômago mais do que com a razão e a cabeça. É fácil fazer isso, diga-se de passagem, é fácil gastar, fazer demagogia, quando o dinheiro não é da gente.
A própria chegada de Alexandre Mattos vai na contramão da austeridade de que o Galo precisa. É sabido que Mattos é um dos mais caros executivos de gestão esportiva na atual geração. Mais do que isso, além de ganhar muito tem um perfil gastador, é adepto, desde os tempos de Cruzeiro e ainda mais notadamente no Palmeiras, de contratações a baciadas, nem sempre alinhadas com as necessidades de formação do elenco e as propostas dos treinadores. É um caçador de oportunidades de negócio que, por vezes, não rendem em campo, ou na revenda, o que se espera deles. E tudo isso tem um preço. Bem alto.
Quando saiu do Santos, no final do ano passado, Jorge Sampaoli chegou a ser cogitado por outros clubes brasileiros - o Palmeiras, inclusive. As exigências de salário e outros benefícios barraram as negociações. Mas, frustrado com a aventura em que se meteu com o venezuelano Dudamel, o Atlético de Sette Câmara se curvou aos desejos do argentino. Ainda que a pedida do treinador tenha baixado em relação ao devaneio que ele alimentou um dia, e que haja suporte de patrocinadores, pagar R$ 1 milhão a uma comissão técnica é algo claramente fora da realidade atleticana.
Estourar o orçamento, por mais que o presidente e agora seu diretor de futebol tenham um discurso contrário, não parece ser aliás uma preocupação do Atlético. Embora a previsão de gastos com contratações em 2020 fosse de R$ 20 milhões, só a chegada do lateral Guilherme Arana, no fim de janeiro, custou ao clube cerca de R$ 23 milhões em valores do euro da época. Com outros três reforços – Alan, Mailton e Borrero – o Galo já havia gasto outros R$ 20 milhões até então. Novamente, claro, passando o pires entre os patrocinadores.
E deve vir mais por aí: ao assumir, Sampaoli entregou uma lista com possíveis reforços: quer a contratação de um goleiro, um zagueiro, um meio-campista e dois atacantes. Distante da realidade, como sempre, o treinador sugere nomes como o goleiro Everson, os defensores Dedé, Cacá e Lucas Veríssimo, o meia Carlos Sánchez e o atacante Eduardo Sasha. É esperar para ver.
Na mesma entrevista dessa semana, Alexandre Mattos fala em medidas emergenciais de contenção de despesas para segurar as pontas da paralisação. Férias coletivas até 20 de abril, a polêmica redução de salários de 25% dos jogadores, comissão técnica e funcionários do departamento de futebol com ganhos superiores a R$ 5 mil. Nada muito diferente do que se tem feito ou que se tenha proposto em outros clubes. Mas não é verdade que o Atlético esteja no mesmo barco de um Palmeiras, um Flamengo ou um Grêmio, por exemplo. Todos atravessam a mesma tempestade, sim. Mas o risco de naufrágio, quando a irresponsabilidade financeira e a megalomania andam juntos, e muito maior para uns do que para outros.
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