Athletico-PR foi da queda aos títulos na última década e chega a outra final com DNA vanguardista
Clube disputa a decisão da Copa Sul-Americana diante do Red Bull Bragantino apostando na verve inovadora que conserva há mais de 25 anos, com Mario Celso Petraglia à frente
Nos últimos anos, tem sido recorrente a presença do Athletico-PR na disputa dos principais títulos nacionais e continentais. Neste sábado, às 17h, contra o Red Bull Bragantino, em Montevidéu, o clube disputa mais uma taça: a da Copa Sul-Americana. Tudo isso superando um rebaixamento no início da última década, mas mantendo seu DNA vanguardista, encabeçado há mais de 25 anos pelo seu homem-forte: Mario Celso Petraglia, atual presidente rubro-negro.
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A receita, que tem se tornado cada vez mais vencedora, inclui uma série de posicionamentos de vanguarda no futebol brasileiro, como uma gestão mais profissional, CTs de nível europeu, atenção para a base, uma arena moderna, e uma metodologia de trabalho definida. Além disso, o clube comprou brigas por direitos de transmissão e banca a utilização de times alternativos no estadual.
No meio do caminho, alguns percalços acabaram atrapalhando a ascensão do clube, como o rebaixamento no Brasileirão em 2011. No entanto, o susto foi um trampolim para conquistas posteriores como Copa do Brasil e Copa Sul-Americana. Dessa forma, o LANCE! foi atrás de personagens que viveram o Athletico nesse período, e contaram os "segredos" e vieses desse sucesso.
INÍCIO DA ERA PETRAGLIA E O CAMINHO PARA O PROTAGONISMO NACIONAL
Em 1995, quando disputava a Série B nacional, o Athletico-PR precisava de uma virada de chave para estar na elite do Brasileirão. Nessa toda chegou ao poder Mario Celso Petraglia, que até hoje segue no poder do clube. A partir dali, veio a volta para a Série A, a construção do CT do Caju, o início da construção da Arena da Baixada, a classificação para a Libertadores de 2000 e o título brasileiro de 2001, que não era algo esperado para acontecer tão rapidamente.
- Isso do Athletico-PR ser vanguardista e estar na frente, foi algo que começou há 26 anos, começou em 1995, porque basicamente foi a filosofia do seguinte: o Athletico precisava criar uma identidade própria, precisava ter um caminho diferente. Porque quando você tem 12 grandes clubes, já é difícil enfrentá-los dentro de campo, e fora dele não daria para usar as mesmas armas, teria que usar armas diferentes. E o que o Athletico se propôs em meados dos anos 90 foi fazer um planejamento e levar isso a sério, com uma liderança forte do atual presidente, mas isso foi muito importante, porque se planejou os primeiros cinco anos, depois os próximos cinco, os cinco seguintes e assim por diante, e a coisa sempre foi caminhando - contou Nelson Fanaya Filho, ex-diretor de marketing e comunicação do Furacão.
- Então essa história de se montar uma estrutura, de ser o primeiro a montar um centro de treinamento de excelência e nível Europa, em que o clube pudesse ser gerador de jogadores, buscar jogadores jovens no Brasil e na América Latina. Adriano Gabiru, Kleber Pereira, Kelly, todos esse meninos que vieram para cá super jovens, estouraram e saíram, ou seja, começou a fazer dinheiro com a venda. Isso começa com a venda de Oséas e Paulo Rink nos anos 90, aí passa pelo começo dos anos 2000 com Gabiru, Kelly, Lucas, depois vem o título de campeão brasileiro até antes do que se previa, e ali se revela o Kleberson, que foi pentacampeão jogando pelo Athletico. Paralelamente a isso construindo um estádio, você construir o próprio estádio é muito importante. Quando o clube começa a fazer a coisa certa, sanear suas dívidas, se organizar, parece que a coisa vai dando certo no campo também - completou Fanaya.
- Em qualquer instituição, tem que haver um grande líder, e um líder tem coragem, tem arrojo, ele pensa na frente, e a partir daí ele se estrutura, traz para próximo dele pessoas de muita competência, e o mais importante, para depois dar sequência, foi o que o Athletico-PR fez em tudo, até chegar até hoje, foi o planejamento, outra questão fundamental é planejar, se estruturar antes de tudo. O Athletico fez isso muito bem, desde a entrada do Petraglia, em 1995, investiu muito na estrutura física antes de tudo, com um centro de treinamento que sem dúvidas está entre os melhores do Brasil e do mundo, depois um investimento nas categorias de base, sempre revelando jogadores - relatou Cocito, ídolo clube desde a sua chegada no fim dos anos 90.
DÉCADA DE 2000 COMEÇA COM TÍTULO E RECONHECIMENTO NACIONAL
A partir do título brasileiro de 2001, com sua arena, seu CT revelando jogadores e as vendas acontecendo de forma cada vez mais constante, o poderio do Furacão passou a ficar maior e atingir níveis cada vez mais altos, como um vice do Brasileirão já na era dos pontos corridos, e um vice de Libertadores em 2005, quando não pôde mandar seu jogo em Curitiba e atuou no Beira-Rio.
- Não tem como o Athletico-PR não estar entre os maiores clubes por tudo o que conquistou desde então, Brasileirão-2001, vice em 2004, vice da Libertadores em 2005, quando o pessoal do São Paulo comemorou quando soube que o primeiro jogo não seria na Arena da Baixada, não tenho dúvidas de que as coisas poderiam ter sido diferentes - relembrou Cocito.
- Então, basicamente, o Athletico construiu seus títulos, suas conquistas esportivas, sem ser planejado, porque você não planeja ser campeão. Os galácticos do Real Madrid, contrata todo mundo, não fecha... Você planeja, dá oportunidade para disputar, dá condição, e o Athletico foi trabalhando nesse sentido nos anos 2000 - comentou Nelson Fanaya Filho.
NO MEIO DO CAMINHO HAVIA UM REBAIXAMENTO E SUAS LIÇÕES
As coisas caminhavam conforme um clube em ascensão conquista seu espaço, mas nessas trajetórias há sempre um ou outro obstáculo, como uma queda para a Série B, que aconteceu em 2011. Apesar da estrutura do clube, da gestão e dos resultados conquistados até então, os erros no departamento de futebol custaram a permanência na Série A do Brasileirão, mas o retorno veio logo.
- Realmente, naquele tempo as coisas não se encaixaram, o clube caiu, eu fiz questão de permanecer, pelo carinho, por tudo o que o Athletico passava eu precisava também ajudar a voltar, e conseguimos. Aí sim foi uma caminhada muito boa, foi um aprendizado para o clube, para todos, em relação a organização, a manter uma base, a trazer jogadores diferenciados em cada posição - contou Paulo Baier, jogador do clube entre 2009 e 2013.
- Começa a segunda década com a queda para a segunda divisão, que a gente não previa, volta em 2012 e a partir dali o Athletico dá uma releitura, porque já em 2013 vai para uma final de Copa do Brasil, sofre um pouco para terminar seu estádio para a Copa do Mundo, porque se a primeira Arena lá em 1999 foi um dos fatores que ajudaram o Athletico a ser campeão em 2001, a Copa do Mundo ajudou o Athletico a ter o seu estádio, primeiro com teto retrátil no Brasil, e vieram essas conquistas de agora - relatou Flanaya.
- Outra coisa que vem fazendo muito, depois de toda essa estruturação, começou a investir bastante no material humano, trazendo os melhores profissionais, porque não adianta nada ter uma super máquina, um jato, sem que você tenha bons pilotos, então trouxe pessoas competentes, pessoas capacitadas, para direcionar e guiar tudo o que foi estruturado em todas as áreas do clube, seja na área física, na área fisiológica, técnica, de mercado, de captação... O clube está sempre buscando trazer os melhores profissionais, até chegar no investimento nos atletas, algo que não costumava fazer, atletas que ainda possam render uma venda futura, que contribuam esportiva e financeiramente - completou Cocito.
ROTA CORRIGIDA, GESTÃO CONSCIENTE E BRIGA PELOS DIREITOS DE TV
Em 2013, no ano em que o Athletico-PR voltou para a Série A do Brasileirão, o time terminou a competição na terceira posição e ainda foi vice-campeão da Copa do Brasil. A resposta rápida e a manutenção da mentalidade foi fundamental para os acontecimentos seguintes, inclusive para brigar pelas mudanças nos direitos de transmissão, semeando a Lei do Mandante.
- Foi um ano espetacular, lembro muito bem que foi sob o comando do Vagner Mancini, em 2013, eu me tornei o melhor meia do campeonato com 39 anos, muito pela questão estrutural. O Athletico sempre foi muito organizado em relação a parte financeira, me lembro muito bem que eu fiquei cinco anos no Athletico e nunca atrasou um salário e hoje deve estar melhor ainda - afirmou Paulo Baier, que exaltou o time montado para a temporada de 2013.
- Vamos dizer que a curto prazo não é um bom negócio, mas a médio, o Athletico começou a fazer isso. Passou a Lei do Mandante, aqui na Arena ele já transmite seus jogos por conta própria. Eu era do marketing do Athletico quando a gente fez o primeiro jogo de streaming no Brasil, que foi um Atletiba, foi 2016, que a própria Federação mandou parar, acabou não tendo jogo, depois não teve jogo... Ali já era uma visão de "a coisa vai caminhar para isso". O contrato com a Globo de PPV gerava muito pouco para clubes como o Athletico, mas remunera muito bem com maior potencial de torcida. Então, para o Athletico, acaba sendo mais jogo fazer com que o torcedor pague esse PPV diretamente para o clube, do que para a Globo - disse Nelson Fanaya, profissional do marketing do clube quando teve a ideia do streaming próprio.
CAMPEÃO DA "SULA", DA COPA DO BRASIL E UM DOS MAIORES DO PAÍS
A partir de 2018, em meio a uma batalha de gigantes como Palmeiras e Flamengo, o Athletico-PR se meteu nessa briga e levou duas taças: a Copa Sul-Americana, em 2018, e a Copa do Brasil, em 2019. Ao mesmo tempo, o clube mudava seu escudo e seu nome, projeto capitaneado por Nelson Fanaya Filho, profissional do marketing do Furacão na época. Lá dentro, por essas e outras, ninguém tem dúvidas de que já se trata de um dos maiores do país.
- Eu tive o prazer, o privilégio de trabalhar nesse projeto do rebranding da marca nova do Athletico, que o identificasse efetivamente, então isso para mim foi uma grande felicidade poder trabalhar nisso. A gente faz uma marca que realmente traduz o que é o Athletico. O escudo tem os quatro ventos que formam o Furacão: entusiasmo, rebeldia, inovação e ambição - disse Fanaya.
- Eu digo que se as pessoas tiverem consciência, saberão que o Athletico está entre os maiores do Brasil, está sempre chegando. O que acontece com esses 12 maiores clubes, é que eles conquistaram mais títulos expressivos nacionais, internacionais, sul-americanos, até mundial, bem antes de o Athletico-PR ter o primeiro título nacional, esse é um dos motivos. Além da exclusão que se faz para o futebol paranaense, mas o Athletico sempre contra tudo e contra todos está conquistando esse espaço. Se parar para pensar nos últimos 22 anos, o Athletico-PR já está entre os maiores do Brasil - declarou Cocito.
- O Athletico evoluiu, a gestão sempre foi boa, e eu acredito que tem todas as condições daqui para frente para se tornar um dos maiores do Brasil, porque estrutura tem, está chegando nas conquistas, em títulos, chegando em finais, isso mostra que está se tornando um clube muito grande - afirmou Paulo Baier.
A IMPORTÂNCIA DE PETRAGLIA E O QUE SERÁ DAQUI PARA FRENTE
Homem-forte do Athletico-PR há mais de 25 anos, Mario Celso Petraglia é um dos mais importantes dirigentes esportivos do país. Nessa posição, sua postura acaba gerando aqueles que o amam e aqueles o odeiam. Foi da cabeça dele e por sua liderança que o clube chegou a tantas conquistas dentro e fora de campo. No entanto, essa centralização do poder gera a dúvida de como será o pós-Petraglia e como será esse legado para que o futuro seja ainda melhor.
- Eu vejo que muitas pessoas têm boas ideias, boas intenções, mas não têm coragem para executar, e um diferencial é que ele tem coragem para fazer, para executar o que ele pensa, mas ele faz sem medo de retaliação, sem medo do que os outros vão pensar, e por isso que ele é diferente, é um cara visionário, sem dizer a sua capacidade intelectual, que é fenomenal, super visionário, super antenado, super conhecedor do mercado, principalmente, em termos de negociações. El foi fundamental nessa virada, e digo fundamental em termos de liderança, porém eu vejo que ele tem que valorizar, como todos nós valorizamos, todos que contribuíram para que tudo isso acontecesse. Ele sozinho não adiantaria nada, ele com as ideias, com as lideranças, mas se os comandados não comprassem a ideia - argumentou Cocito.
- Ele com certeza é o grande líder que fez essa mudança do Athletico, é uma pessoa notável, é um gênio, uma pessoa que tem uma inteligência acima da média, muito dessa questão do Athletico hoje foi uma antevisão dele, que poucas pessoas acabam tendo e a coragem de aguentar toda essa pressão. O legado que ele tem que deixar, o que vai ser do Athletico daqui dez anos, essa é a questão que a gente tem aqui, como ele fez muito e eu acho que é uma das grandes virtudes, porque nem sempre ele foi presidente, exerceu vários cargos, mas é claro que ele acabava exercendo uma liderança dentro do cargo que ele estava, por ser uma pessoa excepcional, extraordinária, mas ele precisa preparar o Athletico para quando ele não estiver mais.
Neste sábado, no Uruguai, o Athletico tem mais uma prova de que está entre os maiores do clubes do país, além de alcançar uma nova oportunidade de colocar mais um troféus importante em sua galeria. Ser campeão ou não vai depender da imprevisibilidade do futebol, mas a certeza é de que o caminho traçado é feito justamente para que essas oportunidades sejam constantes.