O Bahia surpreendeu no começo desta semana ao convocar os próprios torcedores a boicotarem os bares da Arena Fonte Nova na partida da última quarta-feira, vencida por 2 a 0 sobre o Botafogo. Mais do que isso. No dia da partida, ainda vendeu, em parceria com a Ambev, cerveja por R$ 1 do lado de fora do estádio. Mas o que começou com uma discordância em relação a um contrato, acabou virando uma luta, por parta do Bahia, em defesa do seu torcedor, contra a elitização do estádio e para mostrar a força do clube, que vive um bom momento dentro e fora dos gramados e que quer se colocar em outro patamar.
Isto porque a Fonte Nova decidiu aumentar, recentemente, na renovação do contrato feito anualmente, o preço da cerveja de R$ 6 para R$ 8. O clube não concordou. A Fonte Nova, então, comunicou que, para manter o preço, teria que cortar o desconto de 50% que os sócios do clube tinham na compra da bebida. A diretoria do Bahia bateu o pé e, então, decidiu pelo boicote.
- Ao longo da nossa gestão, fizemos um movimento muito forte de inclusão do torcedor de baixa renda. Fizemos plano de sócio popular, camisa oficial a preço popular. Esse aumento seria um movimento na contra-mão do que estamos promovendo. Essa nossa posição é um movimento necessário – disse Guilherme Bellintani, presidente do Bahia, ao LANCE!, antes de completar:
– É uma luta simbólica contra a elitização dos estádios. É tudo muito caro nos estádios. O torcedor gasta dinheiro no ônibus, no metrô, comprar um lanche pro filho, ingresso, plano de sócio... Em uma cidade como Salvador, nós temos essa missão grande de não tentar gerar um aumento de 33% no meio de uma
temporada - concluiu Bellintani.
Além da defesa do seu torcedor e a luta contra a elitização do futebol, o que também está em jogo para o Bahia é possibilidade de mostrar que o clube está cada vez mais estruturado e tem poder de negociação. Com mais de 40 mil sócios, o clube tem visto sua arrecadação crescer nos últimos anos, enquanto as dívidas são pagas. Com a sexta maior média de público da Série A (26.974 pagantes por jogo), o clube sabe que pode contar com o apoio da torcida para bancar o cabo de guerra com a administração da Fonte Nova.
- Se você quer um Bahia mais forte, que sabe negociar, que quer discutir os problemas de forma justa, participe do boicote - publico o clube ao anunciar a ação em seu site.
E a torcida aderiu mesmo ao movimento proposto pelo clube. No dia do jogo, a cerveja (lata de 269ml) foi colocada à venda em um depósito próximo a Fonte Nova por R$ 1. Em, em acordo com a Ambev, para não prejudicar os ambulantes, eles poderiam adquirir as latinhas por R$ 0,50 - e as revender pelo mesmo 1 real. Não deu outra. Duas horas antes do jogo o depósito já havia vendido todas as 45 mil latas disponíveis. E, segundo relatos, os ambulantes respeitaram o acordo e mantiveram o preço de R$ 1 para o consumidor final.
De acordo com estimativa publicada pelo site Metro1, da Bahia, a Arena Fonte Nova teve prejuízo de cerca de 85% no dia do jogo contra o Botafogo, e comercializou apenas 15% do que é vendido normalmente.
Em contato com a reportagem, a Arena Fonte Nova se limitou a dizer que "não tem como atividade fim a revenda de cerveja", mas que participa da definição dos preços dos bares em conjunto com o Bahia e a Food Team, empresa terceirizada responsável pela operação dos bares nos jogos. A Food Team foi procurada mas não retornou até o fechamento desta reportagem.
Depois do jogo de quarta, o clube e a administração do estádio ainda não voltaram a conversar. Mas o Bahia garante que não vai retroceder e, se necessário, manterá o boicote aos bares da Fonte Nova. Quanto a nova venda de cerveja por R$ 1, a diretoria do clube disse que ainda precisaria conversar novamente com a Ambev, mas a tendência é que ocorra novamente. O Tricolor volta a jogar na Fonte Nova no dia 5 de outubro, contra o Athletico-PR.