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Executivo afirma que Traffic quer “consolidar presença” do Estoril no futebol português

Dia 01/03/2016
04:38

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A Traffic dá um novo passo no que diz respeito ao mercado de jogadores. Gestora de dois clubes separados pelo Oceano Atlântico, o Desportivo Brasil (São Paulo/BRA) e o Estoril Praia (Lisboa/POR), a empresa acaba de fazer a primeira transferência entre eles. O volante Douglas, de 18 anos, deixou a base do clube brasileiro para integrar o elenco profissional do Estoril, na próxima temporada.

Com isso, a Traffic abre uma nova possibilidade para negociações: em vez de formar e revelar jogadores no Brasil, e depois vendê-los para times de fora, como faz no Desportivo, ela quer levar brasileiros ainda na base para a equipe na Europa e revelá-los lá mesmo. O Estoril estreou na temporada 2013/14, neste fim de semana, na primeira divisão do Campeonato português,

Além de ampliar as suas opções de negócios, a empresa enxerga neste formato uma oportunidade de fortalecer o Estoril, cuja estreia na elite do futebol português aconteceu na temporada passada. Em entrevista ao L!Bizz, o executivo da Traffic e atual presidente do Estoril, Tiago Ribeiro, conta como foi o trabalho de recuperação financeira do clube e os próximos desafios.

LANCE!Bizz - Como está a situação do clube agora?

Tiago Ribeiro - A gente pegou o clube em uma situação muito precária em 2009. Passamos a primeira temporada e parte da segunda com um trabalho fora de campo muito árduo, para sanar as dívidas e renegociar os passivos. Enquanto isso, dentro de campo, o time tentava desenvolver uma adaptação do mercado futebolístico. O clube hoje só tem um plano de pagamento de impostos que é coisa pequena. Todo o resto foi zerado. A saúde financeira do clube é uma das melhores entre todas as equipes de Portugal.

L!Bizz - Como foi o processo de quitação de dívidas?

T.R. - Foi um processo complicado. A gente teve de assumir um passivo imediato de pressupostos, para fazer a inscrição na Segunda Liga, na época, se não o time poderia fechar ou cair para as divisões amadoras. A gente chegou com um valor relativamente alto para pagar, mas isso foi parte do risco que a gente assumiu, quando decidimos entrar. Já na primeira temporada a gente fez uma auditoria minuciosa, porque os processos contábeis estão muito confusos. Aos poucos a gente foi sanando, pagando algumas coisas. Foi um trabalho de formiguinha.

L!Bizz - O valor era de 4 milhões de euros, é isso?

T.R. - Aproximadamente isso.

L!Bizz - A diretoria do Flamengo quando assumiu, constatou que o clube estava sendo processado por uma pessoa que queria pagar, mas não conseguia. Vocês encontraram esse tipo de coisa?

T.R. - Guardada as devidas proporções, foi mais ou menos isso. A gente passou pelo mesmo processo que o Flamengo. A gente não sabia onde estavam as dívidas. A gente fez uma chamada pública de credores, houve muito pagamento em duplicidade, gente que já tinha recebido e se aproveitava para cobrar de novo. A gente tinha um plano de pagamento na Receita Federal, de impostos atrasados, e fomos notificados para fazer um depósito. Quando a gente foi fazer o pagamento, percebemos que o pagamento já havia sido feito. Havia processos que a gente não fazia ideia que existiam e outros que tinham desaparecido.

L!Bizz - Quanto os direitos de transmissão representam no balanço de vocês?

T.R. - Representam pelo menos 60%. É um dinheiro importante. Esse ano melhorou ainda mais, porque conseguimos ir para a Liga Europa. Depois vem patrocínio, algumas permutas e bilheteria de 3 ou 4 jogos que enchem a casa. Mas a televisão responde pela maior parte desse valor, e tem também prêmios de competição.

L!Bizz - Essa melhora na gestão gerou novos contratos de patrocínio?

T.R. - A última temporada, que terminou agora, foi nossa primeira na primeira divisão. A gente fez apenas o mínimo do que a gente gostaria. Esse ano melhorou bastante. Temos a Hyundai, a Samsung, marcas legais. Trocamos nosso material esportivo para a Hummel. Ass empresas já olham diferente para o Estoril e enxergam possibilidades. Isso é gratificante.

L!Bizz - O que isso pode deixar de lição para o time brasileiro?

T. R. - Eu acho que nosso caso é um verdadeiro 'case' de gestão corporativa no futebol. Acho que essa é a grande lição. Com preparação, com conta, com cumprimento das obrigações. Temos que manter os pés nos chão para não dar um passo maior que a perna. É uma lição corporativa mesmo, com 'business plan', orçamento controlado, sem loucuras.

L!Bizz - Qual o próximo objetivo de vocês?

T.R. - Nosso objetivo é consolidar nossa presença na Primeira Liga. Que o Estoril tenha um desempenho esportivo cada vez melhor, com o aumento das receitas. No lado esportivo, ter sempre uma rotatividade dos atletas, sabendo captar tanto no Brasil quanto lá. Ter jogadores novos para poder explorar e para que o projeto tenha um ganho financeiro, que isso é fundamental.

L!Bizz - O mercado de jogadores é um objetivo para vocês?

T.R. - Sim. Nós não conseguimos cobrir nossas despesas apenas com as receitas ordinárias. A negociação de jogadores é uma lógica inevitável e no nosso caso mais ainda. É uma empresa investidora que quer colher frutos nisso. Isso é muito importante, sem nunca deixar de lado o aspecto esportivo. Não podemos cair na tentação de só fazer negócio.

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