Após quase um ano fora, Jefferson avisa: ‘Vou voltar mais forte ainda’
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, goleiro do Botafogo revela detalhes da recuperação, fala sobre a expectativa para o retorno aos jogos, o convívio com a família crescimento do time
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O ídolo maior do atual elenco do Botafogo está longe dos holofotes há quase um ano. Foi no dia 12 de maio do ano passado que Jefferson percebeu que não poderia dar sequência ao jogo contra o Juazeirense, pela Copa do Brasil. A lesão no tendão do tríceps do braço esquerdo exigiu duas cirurgias, a perda de todo um Campeonato Brasileiro, distância da briga pela Seleção Brasileira e uma recuperação dolorosa. Mas o fator pessoal foi um alento neste período em que o goleiro esteve ausente dos jogos. Nunca antes ele havia estado tanto tempo com a família. E após poder - não pelas melhores vias - ser mais presente em casa, ele recebeu o LANCE! para uma entrevista exclusiva. Ao lado da esposa Michele, o camisa 1 contou detalhes do período de fisioterapia e treinos. Mas lembra que a evolução está correndo bem. É questão de pouco tempo até todos voltarem a vê-lo debaixo das traves.
- Creio que vou voltar mais forte ainda. Tudo que eu passei, eu e a minha família, de deixa mais forte, mais esperançoso. Não fico olhando para as coisas do passado, olho para frente, para as coisas positivas. Não vejo a hora de voltar, entrar em campo e lutar. O Sassá fica brincando, dizendo: "Estou com saudade dos seus gritos: 'Volta, Sassá! Volta!'". Estou com saudade disso também - afirma o goleiro.
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Como foi, para você, esse período sem jogar?
Nesses dez meses eu pude ficar com a família: esposa, filhas. Pude ficar um pouco mais dentro de casa. Elas estavam até estranhando. Quando eu voltar a jogar vai ser bem diferente. Mas deixei de fazer o que mais gosto, que é jogar. Ver pela televisão doía bastante. E foram etapas diferentes: quando machuquei, tinha o prazo de três meses. A expectativa era curta. Não deu nem tempo de sentir saudade. Quando soube que ia fazer outra cirurgia, aí bateu um pouco de tristeza, angústia de saber que ia ter que passar tudo de novo. A recuperação da cirurgia é muito difícil. Sabia do apoio da família, da minha esposa principalmente. Mas agora é reta final. Estou a poucos dias e meses de voltar a treinar com bola (com o grupo. Já faz atividades leves). Mas temos cautela, para conter a euforia e eu não sentir nada demais. Disseram que da primeira cirurgia para a segunda eu estou mais motivado. Até porque vemos que está evoluindo. Hoje, chego em casa mais contente.
Tem prazo para a torcida te ver jogar novamente?
O prazo para treinamentos (mais intensos) é no começo de maio. Depois tem a adaptação, ritmo de jogo e treinamento. Quando estiver liberado, mais ou menos duas ou três semanas. Ou seja, do meio para o final de maio.
O que você leva de positivo deste período atípico?
O carinho de todos, a gente vê quem nos apoia, principalmente do Botafogo. A comissão técnica, diretoria, jogadores, torcedores em geral. Onde eu saía, me davam força. Não só do Botafogo, mas de outras torcidas também me davam força. Eu fiquei praticamente um ano sem jogar um jogo oficial, antes de voltar ao Botafogo, em 2009. Chegou uma época lá na Turquia em que eu não treinava. Não consegui me adaptar aos treinamentos. Achei que tinha desaprendido a jogar futebol. Fiquei dois meses treinando sozinho lá em São José do Rio Preto. Voltei numa época difícil, de luta contra o rebaixamento. Falei que precisava de dois meses, treinar em dois períodos... eles me deram três semanas. Graças a Deus, em três semanas eu estava em forma. Contra o Fluminense eu estreei e fechei o gol. Pego essa experiência e já estou bem das pernas, treinando muito forte fisicamente. Vai ser, quando liberado, pegar com as mãos e ritmo de jogo.
Em que nível você quer voltar?
Em nível técnico de poder voltar à Seleção. Tenho expectativa de voltar bem para o Botafogo, e para ter uma vaga na seleção. Claro que fiquei muito tempo parado, mas me cobro muito. Sou muito intenso. Creio que só vou voltar a jogar quando sentir que estou dando conta do recado. Não vou voltar para ser mais um, por marketing, não. Quero voltar para ajudar, fazer diferença e, se Deus quiser, voltar à Seleção Brasileira.
Então, se precisar adiar a volta...
Sem dúvida. A primeira lesão, para ter ideia, não que deveria jogar, pois estava lesionado, mas, meia-boca, um goleiro até poderia. Só que eu não poderia fazer as defesas que estava acostumado. Aí falei: "Não posso, preciso estar 100%." A cobrança é em alto nível. Quero voltar bem para ajudar o Botafogo.
Michele, nesse período atípico na vida de vocês, no que vocês mudaram?
Eu estou menos cansada (risos). Havíamos nos preparado para um tempo e é tudo psicológico. A tristeza é pelo tempo dele parado. O que mais quero é vê-lo realizando o sonho dele. O sonho dele é o meu sonho. Mas como mãe, dona de casa, brinco que, agora, quem viaja (gestão da cafeteria recém-inaugurada em São José do Rio Preto-SP) sou eu, e ele fica com as crianças. Não me surpreendeu, mas ele dá conta das quatro crianças (três filhas e um sobrinho) em casa. Voltei e estava todo mundo vivo. É um misto de querer que ele volte, mas, por outro lado, ele mostrou lados que eu nunca havia visto. E ele não é nada do que vocês veem. "Homem de gelo"... é brincalhão! Um pouco sério, mas quando está em casa, todo mundo junto, ele se transforma. As crianças entendem que é a profissão e ele é muito sério mesmo em campo: quando a nossa mais velha tinha um aninho, apareci no jogo sem ele saber. Ele ia entrar no campo, pegaram a Nicole, botaram no colo dele. Chamei ele, mas não ouviu. Ele entrou em campo sem saber que era a filha dele. Só no meio do campo que ele foi ver.
Michele, houve momentos ruins e algum muito bom nesse período?
Tê-lo em casa é muito bom. Desde que nos casamos, ele, às vezes, na Seleção, ficava em casa uma vez no mês. Eu me desacostumei, acho. Houve momentos mais difíceis, como após as cirurgias, Ele sentia dor, batia a chateação. Esses dias foram mais difíceis mesmo. Mas temos mais dias bons do que ruins.
Jefferson, de fora, como você explica o crescimento do time?
O comprometimento e a inovação do trabalho do Jair Ventura. Ele soube passar para o Botafogo uma filosofia e o Botafogo soube entendê-la. Treinador moderno, joga com o time. Costumamos dizer que o Botafogo precisa ter aplicação e comprometimento em todos os jogos. Não temos uma estrela que vai resolver, mas enquanto estivermos entendendo essa filosofia, vai ser difícil parar o Botafogo. Quando passarmos o pé em cima da bola, vamos sofrer.
Foi o que houve na virada sofrida para o Fluminense?
Sem dúvida. Todos os jogadores sabem disso. Todos falaram: “Demos mole”, desatenção nossa, e por isso perdemos (3 a 2, após abrir 2 a 0). Mas aconteceu agora para não acontecer lá na frente.
Você tem apoiado o grupo antes de jogos mais importantes?
Tenho estado junto, mas é difícil, para quem está fora da relação motivar. A adrenalina não é a mesma. Você sente a conectividade entre os jogadores. Qualquer jogador, mesmo o capitão, é diferente. Sei até onde posso chegar, cobrar dos jogadores. Procuro falar nos treinamentos, motivar antes do jogo do que na hora lá. Pode sair como um tiro no pé.
E a conta de número de jogos, precisou mudar?
Nunca fui de quero jogar tantos jogos, mas quando vi que estava perto dos 500 (atualmente 429), eu criei no meu coração a vontade de completar 500 jogos. Não para passar fulano ou ciclano. Independentemente de passá-los. eles vão ter a história, mas é uma meta pessoal. Quero continuar, não é todo dia. E minha ideia é aposentar aqui. Independentemente se for para jogar, dois, três cinco anos. Mas quero me aposentar aqui.
O que mudou no Botafogo da Libertadores de 2014 e agora?
Vejo o time, hoje, mais solto. Naquela, estava todo mundo muito tenso. Fazia muitos anos (18) que não disputava. Era uma pressão como a Copa do Mundo do Brasil foi para os jogadores brasileiros Era uma grande responsabilidade. Desta vez está mais leve. Jogadores mudaram, mas os torcedores são os mesmos, muitas pessoas no Botafogo são as mesmas. Sinceramente, eu não quero voltar apenas para jogar a Libertadores. Eu seria egoísta. Tenho que estar bem para, quando jogar, não importa se for contra o São Paulo, Independiente, Bangu... não importa, não faço meta. Quero estar bom e falei com o Jair, ano passado: "Quero voltar para ajudar o Botafogo." Não quero atrapalhar, quero ajudar. Não penso em Libertadores, Brasileiro. Penso em voltar bem. Se eu voltar, não estiver 100% e o Botafogo estiver classificado para as oitavas da Libertadores, que continue quem estiver no gol. Quero que o Botafogo se dê bem.
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