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Especialista não vê eficácia em protestos de torcedores sobre atletas

Em entrevista ao LANCE!, psicóloga que trabalha com atletas de alto rendimento opina sobre os efeitos da invasão do treino do Botafogo no estado mental dos jogadores

General Severiano Muro
(Foto: Divulgação)

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A invasão do espaço dos clubes por torcedores que desejam cobrar empenho dos jogadores e técnicos tem sido uma cena comum no Brasil na temporada de 2019. E a bola da vez foi o Botafogo, que durante a semana teve os muros da sede pichados e o treino invadido por torcedores. A eficácia deste tipo de manifestação, no entanto, é contestada por especialistas. Consultada pelo LANCE! sobre o tema, a psicóloga e coach esportiva Aline Saramago acredita que aumentar a pressão sobre atletas mais atrapalha do que ajuda. 

– Esse tipo de pressão não funciona para os jogadores melhorarem o desempenho em campo. É uma tentativa falha dos torcedores e que só coloca mais pressão em uma profissão que é pública e já tem bastante cobrança, seja durante os jogos, pela torcida, pelos técnicos, da família. O ideal seria que os torcedores fossem mais nutritivos. Há o mito de que as pessoas que funcionam melhor sob pressão. Existir, até existem. As pessoas que conseguem se controlar, não entram no estresse e administram bem, lidar com as emoções de maneira mais equilibrada. Ao meu ver, muitas pessoas se acostumam a viver estressadas, o que não faz bem para a saúde de maneira alguma – explica Aline.

Para a psicóloga, que tem experiências anteriores com atletas de diversas modalidades como vôlei, triatlo, crossfit, lutas e até mesmo de xadrez e games, não existe qualquer garantia de que as cobranças vão gerar um maior empenho dos atletas em campo. 

– Os jogadores podem enxergar como falta de respeito, humilhação e se perguntar que tipo de torcedor é esse, que deveria apoiar, mas que chega para agredir e xingar. Isso é um comportamento aprendido, infelizmente, na nossa sociedade. Isso não leva a bons resultados. Deveriam ser mais apoiadores, nutritivos. Não é para agredir, da forma que for, isso acontece muito nas redes sociais também, o ideal seria as pessoas darem conta que elas têm um impacto sobre o outro e, por isso, é preciso ter cuidado com a forma que se comunica. As palavras são muito poderosas. É preciso consciência de que as palavras podem machucar e que isso pode piorar a moral do time.

Aline explicou ainda que um ambiente estressante pode fazer com que o desempenho piore, em razão da diminuição da capacidade de pensar e tomar as melhores decisões.

– O nervosismo e a pressão fazem o rendimento cair muito. O desempenho nos jogos e treinos não é o mesmo. O estresse e ansiedade fazem com que ativemos o modo de luta e fuga, que fazem com que a pessoa não pense direito. Isso pode prejudicar a visão de jogo dos atletas. O ideal seria que os jogadores buscassem o equilíbrio emocional para lidar com esse tipo de pressão de uma forma mais tranquila, mas isso não acontece naturalmente e sim é aprendido em sessões de coaching ou de terapia – opinou a especialista.

O Botafogo vive o seu pior momento no Campeonato Brasileiro com uma sequência de quatro jogos sem vencer, sendo três derrotas consecutivas. A queda no desempenho em campo aliada à crise financeira vivida pelo clube nos bastidores fizeram a paciência da antes compreensiva torcida se esgotar. A invasão do treino da equipe por um grupo de cerca de 15 torcedores fez a diretoria fechar as atividades para a imprensa até o clássico com o Fluminense no domingo. 

A partida, válida pela 23ª rodada, é encarada como ares de decisão no clube, uma vez que pode definir a permanência do técnico Eduardo Barroca no cargo. Os três pontos também são cruciais para que a equipe volte a brigar na parte de cima da tabela, conforme planejado pela comissão técnica no início do torneio. 

Desde o retorno da pausa da Copa América, o Alvinegro não consegue ter a mesma regularidade do primeiro turno. Em setembro, o Botafogo teve um aproveitamento de apenas 26,6%, enquanto em maio, melhor mês de Barroca à frente da equipe, o índice foi de  71,4%, com cinco vitórias e duas derrotas em sete jogos feitos.

TABELA

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Virou rotina

As cenas vistas no Nilton Santos e em General Severiano não são novidade no Brasil este ano. No último final de semana, torcedores do Fluminense derrubaram o portão do CT do clube e também invadiram o treinamento para cobrar o elenco. Os jogadores foram cercados pelos membros de organizadas e os seguranças do clube precisaram intervir.

Situação semelhante foi vivida pelo Cruzeiro, dias depois, quanto torcedores invadiram a Toca da Raposa. Integrantes de uma torcida organizada derrubaram o portão principal, soltaram foguetes e exigiram uma conversa direta com os jogadores.

No começo de setembro o clima foi tenso no Corinthians. A Gaviões da Fiel, principal organizada do clube, fez um protesto na porta do CT Joaquim Grava enquanto a equipe comandada pelo técnico Fábio Carille treinava. Os torcedores pediram mais raça e uma postura menos defensiva. O ato durou pouco mais de uma hora e teve a participação de aproximadamente 150 torcedores uniformizados.

Em Minas Gerais, o presidente do Atlético-MG recebeu integrantes de uma organizada antes da partida contra o Vasco, na última quarta-feira, para escutar reclamações. Em Goiás, vidros da loja oficial do Esmeraldino, amanheceram quebrados depois da derrota do clube para o Grêmio por 3 a 0, na última rodada do primeiro turno do Brasileirão.

Em julho, o elenco do Flamengo foi alvo da fúria de torcedores durante embarque no Aeroporto do Galeão. Na ocasião, o meia Diego se irritou, discutiu e tentou encarar alguns torcedores, mas foi contido por seguranças.

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