Após a última partida, a última entrevista coletiva. Vão chegando os últimos momentos de Jefferson como jogador profissional e as últimas palavras são de agradecimento. Uma das declarações mais importantes da noite desta segunda-feira foi sobre quando o Botafogo foi rebaixado em 2014 e a permanência do ídolo foi posta em xeque.
- Foi um ano muito complicado (2014), mas, mesmo o Botafogo sendo rebaixado, eu tive um ano muito positivo, pessoalmente até fui considerado o melhor goleiro do Brasileiro. Confesso que tinha tudo para deixar o Botafogo. Naquele momento, não vi como algo profissional, mas, sim, pessoal. Até mesmo pelos ensinamentos que eu tive. Hoje em dia tudo é encarado de forma muito descartável. Estava precisando muito da minha permanência. Coloco o Botafogo até mesmo acima da Seleção naquele momento e não me arrependo do que fiz - decretou o camisa 1.
Naquele momento, o então goleiro de Seleção Brasileira sabia que suas chances de ser convocado diminuiriam, e recusar propostas poderia ser o fim de disputar competições europeias. Mas o amor pelo clube venceu.
- Acho que minha história aqui é de mais que títulos. É de lealdade, caráter. Nem tudo na vida é dinheiro, emoção, Europa e Seleção. A lealdade vale muito - entende Jefferson.
São 18 anos de carreira que vão terminando. O sucesso mundial foi reconhecido. Algumas conquistas e mágoas podem ter ficado. Mas ele não se arrepende de nenhuma decisão.
- Arrependimento eu creio que não. Saio com a consciência limpa, muito tranquila. Eu me dediquei sempre, em todos os jogos. Durmo tranquilo, me doei ao máximo pelo Botafogo. Nos momentos mais difíceis eu estive presente. O Botafogo também estendeu as mãos para mim. Agradeço também à minha família, que sempre esteve do meu lado. Minha esposa, minha mãe. Sou muito grato e realizado neste final de carreira - afirma.
Um menino negro que saiu do interior de São Paulo e alcançou o topo do mundo do futebol. O menino que chorou por receber homenagens - teve até pedaço da rede do Estádio Nilton Santos entregue pelos preparadores físicos Flávio Tênius e Jorcey Anísio - também deixou recado aos sucessores. Os jovens meninos negros que sonham.
- Eu sei que no Brasil, em algumas áreas, há o preconceito. Sei que representei muito a nossa classe. Peço que não coloquem a cor (da pele) como empecilho. Com determinação, trabalho e foco a cor vai ficar para trás e o seu trabalho irá se sobressair. Eu tinha que matar dois leões por dia por isso. Nunca coloque as suas dificuldades na frente, busque, pois, aos que acreditam, a vitória é consequência - finalizou Jefferson.