Importante por onde passou, esperto em campo e experiência: a carreira de Kalou, reforço do Botafogo
Marfinense teve passagem essencial em todos os clubes que passou, sendo querido e lembrado pelas torcidas; L! fala com jornalistas de diferentes países sobre o atacante
Salomon Kalou chega ao Botafogo para ser a esperança ofensiva da equipe de Paulo Autuori. Ao lado de Keisuke Honda, o marfinense é um dos jogadores de renome mundial no elenco alvinegro. Contratado pelo Glorioso no começo do mês, o atacante de 34 anos estreará no Campeonato Brasileiro.
O marfinense tem uma carreira consolidada na Europa e chega para a primeira experiência profissional longe do Velho Continente. Apesar de nunca ter garantido um lugar entre os grandes jogadores do continente, sempre foi importante por onde passou. O LANCE! traça um panorama sobre a carreira de Salomon Kalou.
Clubes: essencial em todas as camisas
Revelado pelo Feyenoord, da Holanda, em 2003, surgiu, ao lado de Dirk Kuyt, de maneira promissora como um atacante de lado. Foi comprado pelo Chelsea três anos depois. Em Londres, nunca foi dono de grandes holofotes, mas sempre se mostrou como uma peça importante no elenco da equipe durante os seis anos que passou na Inglaterra.
Kalou, inclusive, foi campeão da Liga dos Campeões em 2012, a única conquistada pelo Chelsea até hoje. O marfinense não foi titular, mas entrava regularmente na equipe comandada por Roberto di Matteo - o atacante jogou todas as partidas decisivas da campanha.
Após o sonho europeu, foi jogar no Lille. Na França, pegou o período pós-Eden Hazard - negociado justamente com o Chelsea - nos Dogues e deu conta da responsabilidade. Colocou a equipe na Liga dos Campeões novamente e foi o principal expoente técnico do elenco.
O último clube que atuou antes do Botafogo foi o Hertha Berlin. Nos cinco anos que atuou na Alemanha, foi um dos jogadores mais importantes da equipe da capital em quatro. Na última temporada, se envolveu em uma polêmica com um vídeo revelando os testes de coronavírus da federação alemão e acabou perdendo espaço.
Seleção: o peso do título continental
Pela seleção da Costa do Marfim, a relação não é muito diferente: Salomon Kalou é um dos grandes nomes da história dos Elefantes. Apesar do desejo de atuar pela seleção da Holanda no começo da carreira - o que não foi possível pelo fracasso na tentativa de naturalização -, o atacante tem o nome marcado na história do país africano.
Kalou jogou as Copas do Mundo de 2010 e 2014 e foi campeão da Copa Africana de Nações em 2015 - marcando um dos gols de pênalti na decisão contra Gana -, dando o primeiro título para a Costa do Marfim desde 1992. O atacante é o terceiro maior artilheiro da história da seleção, com 28 gols, e o sexto atleta com mais jogos, 97.
O LANCE! ouviu jornalistas que acompanharam a carreira de Salomon Kalou em diferentes países. Confira:
Liam Twomey - Jornalista do portal "The Athletic" (Chelsea)
"Kalou é lembrado com carinho por grande parte da torcida do Chelsea. Ajudou o clube a vencer troféus importantes como um jogador de elenco de impacto, mesmo que não iniciasse jogos com frequência. Ele venceu todos os torneios domésticos nos seis anos que passou em Stamford Bridge e sua última partida foi a final da Liga dos Campeões, em Munique. Os torcedores guardam boas memórias dele.
Kalou foi um jogador muito flexível. Foi utilizado em toas as posições de ataque, até mesmo como centroavante. Na maior parte das vezes, foi um ponta esquerdo, onde sempre aparecia em diagonal para finalizar com a perna direita.
Ele teve sucesso no Chelsea mesmo nunca sendo uma estrela. Ele não foi consistente como finalizador, mas marcou gols importantes em partidas grandes, como na partida contra o Benfica, na Liga dos Campeões de 2012. Em Londres, era um atacante rápido, um driblador direto, além de forte o suficiente para prender a bola de marcadores. Ele marcava gols com as duas pernas e com a cabeça e fazia corridas inteligentes para a entrada da área sem a bola. Era muito bom em fazer coisas pequenas que acabavam ajudando a equipe a conquistar uma vitória."
François Launay - Jornalista francês (Lille)
"Kalou foi um jogador muito marcante para o Lille, especialmente na sua última temporada na França. No segundo ano que jogou nos Dogues, em 2013/14, atuou como centroavante e marcou muitos gols, o Lille terminou em terceiro no Campeonato Francês, ele foi muito bem nessa posição. Quando chegou ao clube, geralmente jogava pelo lado esquerdo do ataque, mas não fez grandes atuações por lá. Ele não queria deixar o clube para ir ao Hertha Berlin, mas o Lille precisava de dinheiro e Kalou era o melhor jogador da equipe naquela época."
Javier Cáceres, jornalista no portal "Süddeutsche Zeitung" (Hertha Berlin)
"Ele esteve cinco anos no Hertha. Chegou como um grande jogador e teve bom rendimento. Sempre esteve acima dos dez gols por temporada. Era um cara muito querido pela torcida. Sempre foi muito querido por todos, mesmo que nunca tenha falado alemão, apenas inglês.
Nos últimos anos sempre jogou pelos lados, sempre acompanhando Vedad Ibisevic, um 9 clássico. Kalou sempre aparecia no lado esquerdo do campo. Não é um grande driblador, mas sempre soube conduzir bem a bola. Não é muito vistoso, mas ele sabe o que faz com a bola. Fazia muitos gols e criava espaços para os companheiros.
Essa temporada foi difícil para o Hertha. Nos últimos anos, o time jogava muito defensivamente, com o Pal Dárdai. Ele foi substituído no começo da temporada passada por Ante Jovic com a promessa de jogar mais ofensivamente, mas não funcionou. Um investidor comprou parte do clube e pouco a pouco foi caindo na classificação. O Jovic foi demitido e substituído por Jürgen Klinsmann. Ele foi mais defensivo que Dárdai, muito conservador. Desde o começo, ele não contou com o Kalou. Desde a metade da temporada, estava claro que ele deixaria o Hertha. Parecia que ele ia para a MLS, mas apareceu a pandemia.
Ele fez uma live no Facebook. Viralizou imediatamente, foi um momento muito complicado para o Hertha e para o futebol alemão, porque foi dois dias antes da decisão do governo de voltar com o futebol. O Hertha foi rigoroso com ele. O suspendeu de treinamentos e ele só voltou pela pressão dos companheiros. Ele cumpriu o contato, mas estava bem claro que ele iria embora.
Não foi do tamanho do Marcelinho Paraíba, a figura mais importante do Hertha nos últimos 25 anos, mas foi muito importante. Ele atuou bem. Gostava muito da cidade."
Nuhu Adams - Jornalista especializado em futebol africano (Seleção marfiense)
"O maior momento de Kalou com a seleção foi em 2015, quando eles venceram a Copa Africana de Nações, o torneio de maior prestígio no futebol africano. Ele também jogou nas Copas do Mundo de 2010 e 2014. Ele geralmente jogava pelos lados do ataque, já que Didier Drogba era o atacante pelo centro. Ele foi essencial em praticamente todas as competições que jogou, definitivamente é uma inspiração para muitos jogadores jovens da Costa do Marfim. O currículo dele é impressionante, com muitos títulos pelo Chelsea e ele é considerado um dos maiores jogadores vindos da África nos últimos anos."