Luiz Gomes: ‘Barroca é o passaporte do Botafogo para a Segundona’
Mais amadora e inconsequente do que a demissão de Ramón Diaz no Botafogo, só mesmo a opção pela volta de Eduardo Barroca ao comando do time para a sequência do Brasileiro
O Botafogo inventou uma nova categoria de treinador: o que foi sem nunca ter sido. A demissão de Ramón Díaz, em recuperação de uma cirurgia de emergência teve requintes de crueldade. Aconteceu depois da diretoria ter declarado que, mesmo com o atraso inesperado na apresentação do argentino, havia decidido manter a aposta no seu trabalho, num projeto de longo prazo.
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O clube tem motivos de sobra para se preocupar com a situação. À deriva, sem comandante, amargou três derrotas consecutivas e despencou com a velocidade de um meteoro na zona de rebaixamento do Brasileirão. Isso é um fato. Mas o problema é outro e, aliás, o mesmo de sempre: a forma amadora, irresponsável, inconsequente e desprovidas de qualquer projeto mais sólido como a cartolagem dirige os clubes no futebol brasileiro.
Era previsível, afinal, o hiato provocado pela doença do treinador. Se isso seria um problema, como se mostrou, a direção alvinegra poderia - e isso seria mais correto do que o papelão de agora -, agradecer o contato, desejar-lhe boa sorte, feliz recuperação e deixar em aberto a possibilidade de voltarem a falar, quem sabe, no futuro, quando o momento se apresentasse menos conturbado.
Mas, já que resolveram insistir, garantiram a vaga de Díaz, faltou a dignidade de manter o compromisso até o fim.
As situações são absolutamente diversas, que fique claro. Mas cabe aqui um paralelo com o caso de Domenèc Torrent no Flamengo. A diretoria rubro-negra, se buscava alguém com o perfil de Jorge Jesus, jamais poderia ter contratado o catalão. Era óbvio que não daria certo pois não há nada em comum entre os dois. Uma vez feita a opção, contudo, deveria ter dado a Dome o tempo que ele precisava. Mas faltou, no Flamengo como no alvinegro, a dignidade de manter o compromisso até o fim.
Mais amadora e inconsequente do que essa história de Ramón Diaz no Botafogo, só mesmo a opção pela volta de Eduardo Barroca ao comando do time. Apostar que um técnico demitido há um ano, em outubro de 2019, possa ser o salvador da pátria é desafiar o bom senso, brincar com o torcedor, reconhecer o desespero.
Vale lembrar que em sua primeira passagem por General Severiano, Barroca comandou o time por 27 partidas, com 14 derrotas, três empates e apenas 10 vitórias, um aproveitamento de Série B. A mesma Série B onde ele estava agora, e onde não conseguiu cumprir no Vitória sequer as metas que ele mesmo se estabeleceu para melhorar a vida dos baianos.
O Botafogo está à deriva. O futuro é incerto. A queda, cada vez mais desenhada para a Segundona, ameaça o promissor projeto de fazer do clube uma empresa. Atrair investidores para a Botafogo S.A, já não será tarefa fácil. A sobrevivência do Glorioso parece que, como nas últimas décadas, vai continuar dependente da ajuda de seus apaixonados torcedores-mecenas. Até que um dia eles também se cansem, e a paixão dê lugar à razão. É triste, é uma tragédia anunciada. Que a sucessão de erros no comando do futebol pode tornar ainda mais próxima de acontecer.