Luiz Gomes: ‘Irmãos Moreira Salles são mais do que luz no fim do túnel para o Botafogo’
Estudo encomendado pelos botafoguenses ilustres é capaz de impedir que o túnel alvinegro desabe de vez, soterrando para sempre um passado de 115 anos de glórias
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São, certamente, bem poucos os clubes da elite do futebol brasileiro que têm hoje uma situação financeira mais deteriorada do que a do Botafogo. Sem meias palavras, estrangulado por uma dívida que supera os R$ 700 milhões, com gastos que ultrapassam em cinco vezes as suas receitas e dificuldades para arcar com o pagamento das parcelas do Profut e ações trabalhistas, o clube de General Severiano vive uma situação de pré-insolvência.
Neste cenário, o estudo encomendado pelos irmãos Walter e João Moreira Salles, divulgado na sexta-feira, não é apenas uma luz no fim do túnel. É, bem mais do que isso, uma solitária pilastra capaz de impedir que o túnel alvinegro desabe de vez, soterrando para sempre um passado de 115 anos de glórias erguidas por alguns dos nomes mais marcantes do futebol brasileiro em todos os tempos, de Garrincha e Nilton Santos a Gérson e Jairzinho.
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Em resumo, a consultoria contratada pelos Moreira Salles prevê a formação de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), empresa a ser constituída como uma sociedade anônima. Por 30 anos, essa nova organização teria o direito de gerir o futebol do Botafogo, recebendo todos os ativos do futebol profissional como o futuro CT, os direitos econômicos dos jogadores e as receitas de televisão e patrocínio, assumindo, em contrapartida, a totalidade das dívidas de curto e médio prazo que hoje atormentam o clube levando à penhora de receitas e à falta de crédito.
Não é a primeira vez que botafoguenses ilustres como os Salles - ou menos ilustres como o finado presidente-bicheiro Emil Pinheiro, no início dos anos 1990 - se envolvem em tentativas, profissionais como essa ou apaixonadamente amadoras como outras, de tirar o Botafogo do buraco. Também não é a primeira vez que o clube faz uma tentativa de tornar o futebol uma empresa separada de suas atividades sociais: Bebeto de Freitas tentou um modelo parecido durante sua gestão entre 2003 e 2008. Talvez tenha fracassado por não ter encontrado o apoio e o respaldo técnico que agora é oferecido.
O plano atual de resgate é ousado. Se executado como aparece no papel, obtendo os recursos que o viabilizem, pode levar o alvinegro do inferno ao céu nos próximos anos. Seria um salto da iminência de um desastre ao pioneirismo de tornar-se de fato um clube-empresa, gerido de forma profissional por executivos profissionais com objetivos, regras e metas a cumprir e o compromisso de entregar bons resultados - financeiros aos investidores, esportivos, em campo, aos torcedores.
Com variações na forma, alguns com ação em bolsa, outros em sociedades fechadas, o clube-empresa é um modelo vencedor, um dos fatores que contribuíram nas últimas décadas para o fortalecimento das ligas nacionais europeias e a consequente ampliação do abismo organizacional, econômico e técnico que separa o futebol dos dois lados do Oceano Atlântico.
Botafoguenses de bom senso não têm como não abraçar essa ideia. Um Botafogo mais forte no futebol - estão previstos investimentos iniciais em torno de R$ 30 milhões para reforçar o time já na próxima temporada com a aquisição de jogadores -, um clube social altamente sustentável no futuro, após a equalização das dívidas, é o que se pode esperar seguramente desse negócio. Um ganha a ganha para mudar de vez a história alvinegra.
É, assim, alentador, que o presidente Nelson Mufarrej tenha divulgado ainda na sexta, logo após ser apresentado ao plano, uma nota oficial mostrando a posição de sua diretoria favorável ao projeto, comprometendo-se inclusive a colaborar com sua implementação cedendo profissionais do clube. Que os novos tempos venham em um reluzente e uníssono preto e branco.
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