Luiz Gomes: ‘Kalou e Honda juntos, só podia acontecer no Botafogo’
Com Kalou, mais uma vez o Botafogo surpreendeu o mundo da bola. Essa história começou em 2012 quando o clube anunciou a contratação de Seedorf, multicampeão na Europa
Tem coisas que só acontecem com o Botafogo é um velho ditado, um mantra quase sempre associado a momentos em que o time se dá mal. É a expressão de um pessimismo folclórico que tem como antídoto a superstição arraigada no casarão da sede de General Severiano desde os tempos do cachorro Biriba e do folclórico presidente Carlito Rocha. Mas, nos últimos anos, mais precisamente na última década, o Botafogo tem dado um outro sentido à essa frase, e a chegada de Salomon Kalou, confirmada na sexta-feira, é mais um capítulo nessa nova história.
Sim, tem coisas que só acontecem com o Botafogo. Afinal, que outro clube no Brasil foi capaz de inventar uma fórmula quase mágica de trazer nomes importantes do futebol internacional para vestir sua camisa. O holandês Clarence Seedorf – nem vamos contar uruguaio Loco Abreu, um pouco mais cedo, em 2010 – o japonês Keisuke Honda e agora o marfinense Kalou, são contratações quase inimagináveis para um clube que, segundo as últimas pesquisas do LANCE! e do DataFolha tem algo em torno de 4 milhões de torcedores, não figura no TOP 10 dos maiores públicos do país e convive com a maior dívida do futebol brasileiro, em torno de R$ 900 milhões.
Com Kalou, mais uma vez o Botafogo surpreendeu o mundo da bola. Essa história começou em 2012 quando o clube anunciou a contratação de Seedorf, multicampeão na Europa em clubes como o Ajax, o Real Madrid e o Milan. Quando as notícias começaram a surgir, pouca gente acreditava que seria uma negociação para valer. Mas o clube avançou e fez renascer a paixão e a vontade de torcer que andavam lá meio adormecidas entre seus fãs.
A era Seedorf durou dois anos. O holandês fez 24 gols em 81 partidas disputadas, conquistou a Taça Rio, a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca de 2013. Sob sua batuta, o alvinegro conseguiu vaga na Libertadores, após 17 anos de jejum. Casado com uma brasileira, o craque fez do alvinegro seu último clube como jogador, aposentando-se no começo de 2014 para assumir o Milan como técnico.
Ao trazer Honda, sete anos depois, o Botafogo pôs em prática uma tentativa de repetir o fenômeno Seedorf. Venceu a descrença e ainda tentou ir mais longe negociando com o também marfinense Yaya Touré, uma conversação frustrada que virou meme de internet. Mas nem a pandemia do coronavírus freou o ânimo alvinegro que agora dobra a aposta com a chegada de Kalou. Os próprios dirigentes parecem não acreditar no que está acontecendo: “Estamos montando um time que nem o torcedor mais otimista pensou ter”, comemorou Ricardo Rotemberg, um dos gestores do futebol. Vale lembrar que o clube já fechou com mais três jogadores de bom nível: o zagueiro Rafael Forster, ex-Ludogorets, da Bulgária, o lateral-esquerdo Victor Luís, ex-Palmeiras, e o lateral-direito Kevin, ex-Goiás,
Em processo de implantação de uma nova gestão, empresarial e aberta a investidores, o Botafogo respira. Afogado em suas dívidas, sufocado por ações trabalhistas e encalacrado para honrar os compromissos do Profut, o programa federal de socorro aos clubes, o alvinegro vive, dentro e fora do campo, momentos decisivos. Mais do que, ou tanto quanto os resultados em campo, é sua sobrevivência que está em jogo.
Com um salário que não foge à realidade do clube – ganhará menos do que Diego Souza recebia ano passado – Kalou, ainda que em fim de carreira e há algum tempo sem jogar, tem potencial para se juntar à Honda numa dupla que precisa dar retorno rápido e constante ao clube. Na chegada do japonês, 40 mil camisas foram vendidas, número que se espera superar agora. Assim como espera-se uma explosão do programa de sócios-torcedores. Quando Honda assinou, o clube saiu de 18 mil para 30 mil associados, número que caiu um pouco durante a pandemia. Com o marfinense, a meta é alcançar pelo menos 40 mil inscrições. Oxalá, dê certo. Botafoguense que se preza precisa fazer sua parte.