Montillo agradece, se desculpa e se emociona no adeus: ‘Foi o último soco’
Agora ex-jogador de futebol, argentino lamentou não ter atingido as expectativas do Botafogo, revela tristeza da família nos últimos meses e mantém torcida pelo clube
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Foi com muita emoção que Montillo apareceu no Estádio Nilton Santos pela última vez como jogador de futebol. E saiu aposentado. O agora ex-atleta não conseguiu segurar o choro ao falar da fragilidade do corpo nos últimos meses, que lhe fizeram desistir da carreira aos 33 anos. Contratado com grande expectativa, ele admitiu, em entrevista coletiva, ser o momento de ser egoísta para não prejudicar o Botafogo, a torcida, os companheiros e a família. Família que esteve presente: a esposa Melina, os filhos Valentim e Santino, e o empresário Sérgio Irigioitia, que o acompanha há 13 anos. Todos com os olhos marejados pelo fim de uma carreira de sucesso. Os problemas físicos atormentavam a cabeça do até então camisa 7, que disputou 503 partidas, marcou 88 gols e levantou cinco troféus.
- Ninguém aceitou (a aposentadoria). Tenho um amigo jogador que sabia o quanto eu estava sofrendo. E ele sofreu muitas lesões como eu. Sentimento parecido. Mas ninguém machucou cinco seguidas. Se machucaram, não conheço. É muito difícil. Por exemplo, minha esposa sabia. Mas se eu tenho um amigo que está passando por isso eu digo: "não, cara". Dessa vez eu fui egoísta. Criei uma expectativa pelo meu passado. Não boto culpa em ninguém. A alegria do jogador e do torcedor é ver o jogador bem. Tentei ajudar, ajudei cada treino, talvez. Contra Colo-Colo... momento de agradecer aos torcedores - ressaltou Montillo, antes de completar:
- Mesmo quando não joguei, me respeitaram. Ganhei pela pessoa que sou. Falei com o segurança (Edson), quando cheguei, e o cara começou a chorar. Levo muitas coisas. Esse carinho eu não pedi para ninguém. O carinho foi pelo dia a dia. Mostrei como sou, com pé no chão e nunca olhando para baixo. Posso ser melhor ou pior, mas respeito todo mundo. Essas coisas me deixam feliz. Entrei pela porta grande e saio pela mesma, mesmo sem jogar. Sábado eu vou vir aqui - completa.
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Algumas palavras soaram fortemente. Como o momento da última lesão, que foi ainda antes do primeiro gol do Avaí, na última segunda-feira. Substituído aos sete minutos, o meia admitiu que as dores começaram aos três minutos da partida, disputada no Estádio Nilton Santos.
- Foi um soco. Foi antes do gol do Joel. Fico até com vergonha. Vou olhar, pedir para sair com três minutos? Não quero ter vergonha de nada. Como citei o segurança, é isso que vou lembrar. Foi o último soco. Senti vergonha segunda-feira, como nunca tinha sentido. Ninguém quer se machucar. Falei com minha assessoria. Não vou alimentar uma morte lenta. Que apareçam muto mais jogadores. Não pode se comparar, mas o futebol precisa e merece mudanças. Mudanças importantes para mim. Vou ficar aqui no Rio, por enquanto. Meus filhos têm escola - explica.
Confira outros trechos da entrevista coletiva:
A DECISÃO
"Essa aí foi a última gota. Fiquei dois meses me recuperando, fazia tudo certo com Jair. Fiquei quatro jogos no banco. Com três minutos senti de novo. Como falei, a vida toda não fiquei numa maca. Sempre fiquei trabalhando, jogando bola. Desta vez, seis meses, cinco lesões. Se não consigo mais, tenho que me reinventar. Não seria bom para mim, para minha família e meus companheiros. Isso me fez pensar e falar: 'Chega. Mais do que fiz não posso fazer.' A idade chega para todos. Chegou para mim, no futebol. Tem gente que a idade chega com 30, 35, 42. Para mim chegou com 33. Fico muito triste porque o Botafogo acreditou em mim e eu acreditei no meu futebol."
OS CALENDÁRIOS DIFERENTES NA CHINA E NO BRASIL INFLUENCIOU?
"Em abril, eu tive uma conversa com a comissão técnica e pensávamos que poderia ser a quantidade de jogos. Falamos: vamos fazer preparação diferente. No começo pensamos: 'Beleza, vamos fazer a pré-temporada certinha'. Voltei depois de dois meses e joguei três minutos. Assumo a responsabilidade, é coisa minha. Você se prepara, fazendo tudo, tomando suplementos. Na hora do jogo, conseguir jogar três minutos. Jair fala que eu não precisava, que ainda ia jogar muito. Falei que não poderia fazer mais. Em casa também fiz tratamentos. O corpo avisa."
ERA O MOMENTO?
"Tinha pensado em jogar um pouco mais. Mas tenho que estar com a cabeça boa. Se eu quero ser treinador, tenho que chegar preparado. Para cada projeto tenho que estar preparado. Não sei fazer outras coisas. Mas acho que estou preparado para outras coisas. Vou pegar um mês para esfriar a cabeça. A decisão mais importante da minha vida. Vou me preparar. Não sei ainda o que vou fazer, se vou ficar no futebol. Mas vou me preparar.
O QUE FAZER AGORA?
"Não vai ser fácil, com certeza. Foi uma coisa que fiz minha vida toda. No começo parece fácil. Na terceira semana, na quarta... mas eu vou procurar fazer minhas coisas, para não ficar sem fazer nada. Meu filho Santino, que tem síndrome de Down, precisa de muito tempo. Vou dedicar para ele. Vou dedicar para ele. Ele precisa ser acompanhado. Estava com a minha esposa, que faz o Ayrton Senna... daqui a três semanas a gente fala. As primeiras semanas serão difíceis. Mas a vida continua. Ninguém morreu deixando de jogar futebol. Vamos organizar uma pelada."
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