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Opinião: numa tarde de domingo, o flerte com a morte, o sangue e a guerra

Repórter do LANCE! revela detalhes e sensações das duas horas anteriores ao clássico entre Botafogo e Flamengo. Faltou segurança e sobrou vontade de ver tragédia a muita gente

Briga no Engenhão antes de Botafogo x Flamengo
imagem cameraFoto: Armando Paiva/AGIF
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 13/02/2017
00:54
Atualizado em 08/11/2019
00:50

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Quando o Botafogo alertou para o que entendia como falta de segurança para a realização da partida, comecei a rodar o Estádio Nilton Santos. No Setor Norte, às 17h30, ainda não havia a primeira confusão, que começou 15 minutos depois. No Leste, soube que policiais até de Cabo Frio foram convocados para o jogo. Manifestações justas, que viraram rotina no estado desde os últimos dias da semana passada, impediam a saída de viaturas e de oficiais do batalhão responsável pela área do jogo, no caso, o bairro do Engenho de Dentro.

No Setor Sul, organizadas chegavam sem escolta. Não que todos os presentes ali tivessem a violência como objetivo, mas não eram poucos os que a buscavam. Estava ali anunciada a barbárie que eu presenciei perto da entrada do Setor Oeste. Centenas de membros de torcidas organizadas entrando em confronto, primeiramente entre si, depois com policiais militares. Todo mundo bateu, todo mundo apanhou.

Eu vi gente sem camisa com todo tipo de objeto na mão. Barras de ferro, vidro, lixeiras, pedras, parte de catracas. Centenas de pessoas. Eu vi policiais castigarem uns de tanto bater, e depois liberá-los. Eu vi e ouvi de outro: "Ganhamos a guerra!". Eu vi tudo isso escondido, também me protegendo.

Parece banal chegar em casa, sentar no sofá e comer. Normalmente até é. Mas se você voltar ao parágrafo anterior, atente para o fato de eu ter me escondido. Eu consegui me refugiar e agradeço a quem me deu abrigo. Tive sorte. E se você retornar ao primeiro parágrafo deste mesmo texto, vai perceber que por conta de 15 minutos eu não estive na área onde tiros foram disparados. Eu tive sorte. Poderia ser eu. Poderia ser você que passou por ali também pouco depois. Poderia ser você que lembra já ter passado pelo portão Norte.

Eu vi cenas de um anseio pelo sangue alheio que é primitivo. E eu vi isso por parte de quem se diz torcedor dos dois clubes e de quem deveria fazer a proteção do evento. Não consigo entender por que alguém merece morrer por ter opiniões ou paixões diferentes das de seu assassino.

Se não há segurança que garanta um evento, esse evento não faz sentido. Mas, principalmente, se matar tem alguma coisa a ver com torcer, não há razão para tal entretenimento existir. Não há justificativa que se sobreponha às lições que o esporte ensina. O que eu vi foi sede de sangue. Foi uma guerra que precisa ter fim.

Mas as mortes não costumam parar guerras.

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