Sócio que jogou sal grosso no Nilton Santos promete mais: ‘A gente usa as armas que tem’
Henrique Forlan esteve no estádio na última sexta-feira, e pôs em prática a superstição que os jogadores presenciaram quando chegaram para o jogo do último domingo. E venceram
A vitória do Botafogo sobre o América-MG, no último domingo, foi concebida com gol de Rodrigo Lindoso, com um primeiro tempo elogiado, com sustos defensivos na segunda etapa e 25 mil pessoas na arquibancada. Mas o alívio da crise e o fim da série de três jogos sem vencer se deu também com uma preparação especial. Ao entrarem no Estádio Nilton Santos, ao desembarcarem do ônibus e ao acessarem as dependências do local do jogo, a delegação se deparou com sal grosso. Coincidência ou não, deu certo. E o responsável pela ação promete mais.
- Fui fazer uma entrevista na loja (oficial, dentro do estádio), na sexta-feira, aproveitei e joguei ali onde o ônibus estava. Fui lá fora e taquei também lá perto da imagem do Garrincha com o Nilton Santos, na entrada da Norte. Fui tacando e pedindo (o fim da má fase). Às vezes, o time está jogando bem, mas o goleiro começa a agarrar tudo, a bola não entra, bate na trave... então a gente usa as armas que tem para tirar a energia ruim, essas coisas que só acontecem ao Botafogo. E antes da viagem à Bahia eu quero fazer de novo - revela, ao LANCE!, Henrique Forlan.
Henrique é sócio-torcedor há dois anos e, por incrível que pareça, não esteve no jogo em questão. Não pôde. Mas, aos 27 anos, o desempregado leva a histórica superstição botafoguense como mantra para a vida. E quis reativá-la com um quilo do sal. Um dos maiores ídolos do torcedor é o ex-presidente do clube Carlito Rocha, considerado um dos mais importantes da história da Estrela Solitária.
- Carlito Rocha para mim é o que significa o Botafogo: amor e superstição. Ele amarrava as cortinas e dizia que ajudava a amarrar as pernas dos adversários. Sal grosso no vestiário, em General Severiano... foi onde começou o "Time supersticioso", e isso acabou sendo esquecido. Eu tinha meu lugar fixo durante a última Libertadores. O pessoal deixava, apoiava e deu certo. O único jogo que eu perdi foi contra o Barcelona-EQU, e foi por causa da superstição de antes de entrar no jogo. O caminho que eu fiz, onde parei para tomar cerveja... tenho as minhas superstições - afirma.
Pela quantidade de sal grosso que ainda tem por aqui, se quiserem deixar vai ter até... pic.twitter.com/yjDjviZYP2
— Felippe Rocha (@28FelippeRocha) 16 de setembro de 2018
Carlito Rocha, de fato, foi histórico. Em diferentes décadas do século passado, foi jogador, técnico e presidente do clube. E era cheio de manias que viraram lenda no clube alvinegro. A do sal grosso, especificamente, não tem registro, como explica abaixo o jornalista Rafael Casé, autor do recém-lançado livro "Somos todos Carlito", sobre o emblemático personagem da história alvinegra. O que não diminui o ato de Henrique, que terminou com a vitória sobre o América-MG no último domingo. Até porque deu certo.
Confira a explicação de Rafael Casé:
"Carlito Rocha, o pai da superstição alvinegra, sempre buscava formas de fazer com que as forças ocultas ajudasse o seu Botafogo. Foram várias as manias e crendices, como amarrar as cortinas da sede para que as pernas dos adversários também ficassem amarradas ou mesmo adotar o cãozinho Biriba como mascote do clube, pois sempre que o vira-latas invadia o campo, o Botafogo vencia.
Os jogadores também sofriam com as manias do cartola. No intervalo de uma partida, Otávio foi tomar um café e, por acidente, derrubou açúcar em cima dele próprio. O Botafogo, que estava empatando, ganhou. Razão de sobra para que Carlito passasse a jogar açúcar no jogador em todo intervalo em que o time não estivesse à frente no placar. O pobre jogava o segundo tempo todo melado.
Carlito também apelava para os céus. O bolso vivia cheio de imagens de santinhos e um alfinete de segurança guardava dezenas de medalhinhas. O
cronista Nélson Rodrigues, criador do personagem Sobrenatural de Almeida, era um dos poucos jornalistas que nunca debochou da fé de Carlito Rocha: "Eu sempre entendi e sempre louvei a posição de Carlito Rocha. Os lorpas, os pascácios e os bovinos barram a entrada de Deus no Maracanã. Mas o velho Carlito, nunca... Ele, com a maior sabedoria, tratava de aliciar os santos para o lado botafoguense. Quantas vezes, nas batalhas dos alvinegros ocorreram cínicos e deslavados milagres."