É curioso que em um time que tem Lionel Messi, apontado por muitos como o maior jogador da história do futebol, a guerra interna que se desencadeou no Paris Saint- Germain nada tenha a ver com ele.
Parece que o time tem agora dois “reis”: Neymar e Mbappé. Para azar dos potentados do Qatar Sports Investment, as duas majestades estão em franco desacordo.
Quem vai para o trono?
Para resumir as muitas notícias que chegam da Europa, o ponto crucial é que Mbappé assinou um contrato com o PSG que lhe dá praticamente o direito de veto sobre quem deve pertencer
ao clube .
E Mbappé quer ver Neymar pelas costas.
Mas um fator inesperado parece ter surgido para complicar os desejos de Mbappé: Neymar passou a jogar bem, muito bem, começou a fazer gols, cobrar faltas no ângulo, dar assistências.
Em suma, Neymar começou a mostrar o que pode fazer tecnicamente. E, tecnicamente, se levar a profissão a sério, deixar de se atirar ao chão em cenas espetaculosas, aplicar-se em benefício do time, esquecer festas e badalações, Neymar é um grande jogador.
Para a Seleção Brasileira, é ótimo que isto esteja acontecendo a três meses da Copa no Qatar.
Deveria também ser ótimo para o PSG, cujo grande projeto é ganhar a Champions League. Para isto contratou Neymar a peso de ouro, tirando-o do Barcelona onde, por melhor que ele fosse, seria sempre o “segundo violino” da orquestra, onde o primeiro era indubitavelmente Lionel Messi.
Já escrevi no passado que isto ficou evidente, mais do que nunca, na noite da célebre “remontada” no Camp Nou, onde Neymar foi a grande, exponencial figura no gramado, mas a ovação da torcida, ao fim, foi mesmo para Messi.
Registre-se que Neymar e Messi sempre tiveram a melhor das relações em campo e fora dele. Eram, juntamente com Luis Suárez, “los tres amigos”.
Nada disto porém acontece na relação de Neymar com Mbappé.
Nesta recente partida contra o Montpellier, houve a desavença na hora de cobrar o segundo pênalti, depois que Mbappé desperdiçara o primeiro. Neymar cobrou e cobrou muito bem. Mbappé só olhou.
Houve a inacreditável cena em que Mbappé parou em campo, irritado porque Vitinha não lhe passara a bola. Se tivesse ao menos acompanhado a jogada, teria feito um gol fácil.
Numa demonstração de que Mbappé tem mesmo um “status” privilegiado no PSG, o novo técnico, Christophe Galtier, se apressou em desculpá-lo, por panos quentes. Estranhamente, definiu Mbappé como um “competidor”.
Um competidor que para em campo?
As notícias de Paris dizem que o clima no vestiário é péssimo e quem vem aparecendo para apaziguar os ânimos é Sergio Ramos. Mas Ramos pertence ao grupo que “fala espanhol”, onde despontam Messi e Neymar, enquanto Mbappé está na turma dos “francófilos” - os que falam francês.
Falta quem fale a linguagem do bom senso.
Só ela fará com que dois reis em um só reinado cheguem a um acordo.