CAMPO NEUTRO: o boné e a bronca

José Inácio Werneck fala sobre assuntos em alta no mundo do esporte

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Na semana passada um correspondente do New York Times no Brasil, Jack Nicas, foi ao Amazonas para uma reportagem sobre garimpagem ilegal de ouro na reserva Ianomani. Muitas coisas o impressionaram lá, mas talvez nenhuma tanto quanto o que ele viu pendurado em uma árvore: um boné do New York Yankees, clube de beisebol dos Estados Unidos.

Como, em plena floresta, no meio de uma reserva indígena que ocupa uma área do tamanho de Portugal mas é esparsamente habitada, se explicava a presença de um boné de um time de beisebol norte-americano?

A curiosidade levou-o a três constatações: a primeira é de que o boné do New York Yankees é, de longe, o mais vendido artigo esportivo no território brasileiro. Supera não apenas artigos esportivos de outros times norte-americanos como os de qualquer outro clube do mundo, aí incluídos os brasileiros.

A segunda constatação é de que mais de 90% das pessoas que compram o boné do New York Yankees não sabem que ele é do New York Yankees, não sabem o que significa New York Yankees, não sabem que o New York Yankees é um time de beisebol e/ou nunca ouviram falar em beisebol ou ouviram mas não gostam do jogo e nem o entendem. Algumas pessoas, ao serem informadas de que estavam usando o boné de um clube dos Estados Unidos, perguntavam: “Ah, é time de basquete?”. O que os usuários brasileiros gostam é daquele boné com aquele logo que mostra duas letras entrelaçadas: o N e o Y.

Há uma terceira constatação: a de que nove entre dez bonés do New York Yankees vendidos no Brasil são imitações, fabricadas mesmo em território nacional.

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Com boné ou sem boné do New York Yankees, acho que o beisebol jamais atingirá no Brasil o nível de popularidade que conquistou em outros países, como a Venezuela, Cuba, República Dominicana ou Japão. Mas cabe a pergunta inversa: o futebol, paixão brasileira, um dia vai se tornar mesmo popular nos Estados Unidos? Eu diria que já se tornou: a Major League Soccer continua crescendo, os estádios têm público, os Estados Unidos vão sediar a Copa América do ano que vem e a Copa do Mundo, pela segunda vez, em 2026.

Será uma Copa do Mundo dividida com México e Canadá, mas a grande maioria dos jogos - e sobretudo os mais importantes - acontecerá mesmo nos Estados Unidos. A julgar, porém, por um artigo que Eric Wynalda, ex-jogador da Seleção Americana (Team USA), escreveu para o jornal inglês Guardian, falta ao país o principal, que é o desenvolvimento de uma nova e boa geração.

Ele culpa a Federação Americana, dizendo que ela está mais interessada em arrecadar dinheiro de pais que pagam para ver seus filhos em times do que em atrair crianças mais habilidosas, embora residentes em áreas carentes. Wynalda o chama de sistema “pay to play”. Joga quem paga.

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