Coluna do Bichara: A luta é pelo 2º lugar. O 1º tem dono

Luiz Gustavo Bichara analisa o GP da Espanha

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No último final de semana a Fórmula 1 chegou ao que muitos consideram a sua “casa”: o circuito de Barcelona. Desde que os treinos privados foram proibidos, só restando os oficiais, a maior parte deles é feita na pista catalã. Porém esse ano o traçado sofreu modificações: foi suprimida a chicane antes do retão e reintroduzida uma curva de alta. Esse era um traçado utilizado até 2006, que torna a pista mais rápida, e fez seu desenho ficar parecido com o do finado circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro (com dois blocos de curvas lentas separados por um retão e por uma reta oposta mais curta).

 As Mercedes trouxeram um pacote de modificações e chegaram à Espanha com grandes expectativas - contrariando o axioma de Schumpeter, segundo o qual “não se chega ao novo por sucessivos incrementos do velho”. Também uma corajosa esperança embalava o piloto da casa, o audaz Fernando Alonso, que, dez anos após seu último triunfo, finalmente chegava ao GP natal com chances – senão altas, ao menos concretas - de vitória. Foi o suficiente para que ele e o outro local (Carlos Sainz) garantissem a presença maciça do público espanhol.

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No sábado a chuva chegou no meio da 3ª sessão de treinos. Mas ela passou e a classificação já foi feita com pneus normais. Logo no Q1 o treino foi suspenso porque vários carros saíram da pista aquaplanando – inclusive Alonso, que danificou o seu assoalho. A confusão do Q1 fez uma vítima fatal: Charles Leclerc não passou para o Q2 e restou condenado ao penúltimo lugar no grid. Na Ferrari, atualmente temos coisas novas e boas! Mas as novas não são boas, e as boas não são novas. 

Como as desgraças soem existir aos pares, outro que segue numa maré péssima é Sergio Perez. Ficou pelo Q2, amargando um 11º lugar no grid. Enquanto isso, claro, Max Verstappen seguiu suave na nave para a pole, quase meio segundo a frente de Sainz. Destaque para o intimorato Lando Norris que conseguiu um 3º lugar, dando pinta que dias melhores virão para a McLaren.

Para o domingo os pneus pareciam ser a chave da corrida. Como quase todas as curvas em Montmeló são para a direita, haveria muito desgaste especialmente nos dianteiros esquerdos, e por isso a previsão era de 2 ou 3 paradas. Aliás esse é outro tema que, em algum momento, terá que ser repensado. O impagável Jeremy Clarkson noutro dia comentou: “me pergunto quantas pessoas assistiriam ao atletismo se pensassem que metade dos competidores não estava indo tão rápido quanto podiam para prolongar a vida de seus tênis”.

Apenas as duas Red Bull vinham de pneus médios, enquanto todos os demais carros estavam calçados com os macios. Mesmo assim Verstappen se defendeu bem de Sainz na largada, mantendo a ponta. A largada foi tranquila, menos para Lando Norris que tocou Hamilton e precisou parar nos boxes, jogando fora sua corrida. Lance Stroll superou Hamilton, que deu o troco na volta 8.

Daí em diante a corrida seguiu morna, ficando praticamente todas as ultrapassagens por conta do DRS, aqui tantas vezes criticado. Não quero ser repetitivo, mas realmente a asa móvel infantilizou a F1. Há muitas ultrapassagens, mas raras disputas efetivas de posição. A manobra para se pegar o vácuo, que exige grande perícia, hoje é totalmente desnecessária.

A superioridade ampla de Verstappen também tem desanimado um pouco os fãs da F1. Nesse domingo a coisa foi tão acintosa que o holandês parou, fez seu pit stop, e seguiu na ponta. Não deixou de liderar em momento algum.  Em sua 3ª parada, estava 39 segundos à frente de Hamilton. Faltando 4 voltas para o final, indagou pelo rádio qual era o tempo da melhor volta, e ato contínuo o pulverizou. Enfim, covardia. Um desafio para os outros pilotos e para o pobre colunista aqui.

Enquanto isso, Perez vinha tentando recuperar posições, mas o fez de maneira lenta, sem chegar a ameaçar os ponteiros. A coisa anda tão ruim para o mexicano que essa semana vazou para a imprensa a notícia de que Daniel Ricciardo (piloto reserva da Red Bull) fez um molde do assento do carro. Para piorar, o plenipotenciário Helmut Marko disse que “Perez precisa acordar do sonho de ser campeão e se concentrar mais nas corridas”.

Verstappen venceu mais uma corrida, com calma de faquir. Merece destaque a Mercedes, que cravou 2º e 3º lugares com Hamilton e Russel (que largou em 12º), fazendo crer que voltou a ser a 2ª força no campeonato – aliás, o time alemão superou a Aston Martin na competição pela 1ª vez (152 pontos, contra 134). Mas temos que levar em conta que na Aston Martin Alonso tem levado o time nas costas.

Perez chegou em 4º, seguido de Sainz. Mas quero voltar aos pilotos da Aston Martin: pela vez primeira Lance Stroll (6º) chegou na frente de Alonso (7º). O que aconteceu? Alonso, vitimado pelo acidente nos treinos, fez uma corrida difícil, e mesmo assim chegou perto do filho do patrão faltando 6 voltas para o fim. Mas curiosamente preferiu se abster do ataque. Logo ele, sempre implacável! Se tirarmos uma radiografia da próstata de Lawrence Stroll periga vermos Alonso por lá, pendurado...O saco do chefe é o corrimão do sucesso.

Embora a temporada esteja ainda no seu primeiro terço, o título está obviamente definido. Ninguém é capaz de segurar o holandês, que além de ter uma máquina muito superior às demais, simplesmente não erra. Resta acompanharmos a disputa pelo best of the rest.

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