Coluna do Bichara: ‘Festa em casa’

Verstappen venceu o GP da Holanda e garantiu a alegria de seus compatriotas 

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Entre 1986 e 2021 a F1 não correu na Holanda. A categoria máxima do automobilismo voltou ao tradicional autódromo de Zandvort ano passado, evidentemente embalada pelo sucesso do herói local, Max Verstappen. Essa é uma pista curta – de pouco mais de 4 km – , estreita e com curvas anguladas, bem à moda antiga.

Um circuito raiz. Com muitas mudanças de direção, os pneus trabalham o tempo todo (segundo Lando Norris ela parece uma montanha russa). Por isso a pista premia carros ágeis, com boa tração.

Meme na internet brinca com erros da Ferrari na temporada (Reprodução: Internet)


Nesse caso a dança das cadeiras levaria a uma vaga na Alpha Tauri, para a qual há muitos candidatos. O suspeito natural para essa vaga seria o Estoniano Iuri Vips, até pouco tempo piloto de testes da RBR – e que chegou a andar de F1 em treinos de sexta esse ano. Acontece que Vips recentemente fez brincadeiras de cunho racista num jogo aberto de vídeo game, o que fez a RBR rescindir seu contrato. Então tudo indica que teremos uma briga aguerrida por esse lugar.

Outra vaga que parece que vai existir é a de Mick Schumacher na Haas. Não se sabe para onde vai o alemão, mas tudo indica que ele não continuará no time americano. Para substitui-lo são cotados o americano Colton Herta, além dos veteranos Nico Hulkemberg, Antonio Giovinazi e o recém desempregado Daniel Ricciardo (cuja ausência na McLaren preencherá uma grande lacuna).

No embalo dessas mudanças, há uma notícia que pode ser alegre para os brasileiros: segundo boatos do pit lane, Felipe Drugovitch estaria cotado para ser piloto de testes da Aston Martin. Se pensarmos que Fernando Alonso já esta com 41 anos, pode ser uma boa nova ter um brasileiro ali no aquecimento. Além de ter sido visto entrando no motor home de Helmut Marko, cabe a nota de que mais uma vez Drugo deu show no domingo e lidera o campeonato da F2 com 70 pontos de vantagem sobre Theo Pourchaire, o 2º colocado.

Na pista, a classificação de sábado trazia alguma esperança para Ferraris e Mercedes, que vinham performando bem, e fazendo tempos excelentes. Mas o dono da casa mostrou que manda, cravando o melhor tempo, seguido de Charles Leclerce Carlos Sainz (com um centésimo apenas separando os 3), Lewis Hamilton e Sergio Perez – que rodou na última volta antecipando o final do treino e tirando a chance dos demais melhorarem seus tempos.

No domingo, muita gente achava que Leclerc ia pra cima na largada – talvez até ele -, seja porque as Ferrari estavam andando muito, seja porque as largadas da F3 e da F2 demonstraram a vantagem de quem partia pelo lado limpo da pista – no caso, o 2º colocado e não o pole. Mas não teve conversa: ninguém ameaça Verstappen, ainda mais em casa. O holandês (que correu com o capacete pintado como o de seu pai, o ex-piloto Jos Vertsppen – um grande pereba) segurou com tranquilidade a ponta.

As primeiras voltas não ofereceram grande emoção, com poucas mudanças de posições no pelotão da frente. Já no 1º pit de Carlos Sainz, a Ferrari nos deu um pungente lembrete de sua incompetência: o mecânico responsável pelo pneu traseiro esquerdo simplesmente o esqueceu que precisava trocá-lo. O italiano devia estar tirando um cochilo, e não apareceu. Só faltou a música de “Os Trapalhões”. Já falamos isso aqui na coluna, mas é preciso reiterar: Matia Binotto é a apoteose da incompetência. Ele só não compromete o futuro de seu trabalho porque ali, todos sabem, se trata de um trabalho sem futuro. A Ferrari precisa urgentemente de um chefe de equipe.

A corrida seguiu morna até que na volta 55 Valteri Bottasparou no final de reta, e o virtual safety car foi despachado. Curioso é que as duas Mercedes retardaram seus pit stops justamente nessa esperança. Mas, além de tudo, Verstappen tem a sorte de campeão, e quando tudo isso aconteceu Hamilton e Russel já tinham parado.

Aí (quase) todo mundo parou de novo, e rapidamente os lances definidores da corrida foram jogados. Hana Schmidt, a estrategista da Red Bull, mandou chamar Verstappen para os boxes e o calçou com pneus macios. Hamilton passou batido, mantendo seus pneus médios. Russel, malandro como Santo Antônio (que casa todo mundo, mas segue solteiro) avisou lá do rádio que queria pneu macio.

Hamilton, como não parou, assumiu a ponta. Mas aí na relargada aconteceu aquilo que até um esquimó eremita com déficit de atenção poderia antever: sua liderança não durou 200 metros. Ele foi rapidamente atropelado pelos holandês voador. Na sequência, com pneus gastos, foi também deixado para trás por Russel e Leclerc.

Não quero ser narrador de páreo corrido, mas se Hamilton tivesse parado e colocado pneus macios ao menos poderia ter dado combate. Ele mesmo se deu conta disso, porque passou o resto da corrida praguejando no rádio. Além da Ferrari, a Mercedes está com um problema sério de falta de estratégia. Como diria o Capitão Nascimento: “em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie... Os senhores estão anotando?”

Na parte final da corrida o taxímetro de estragos da Ferrari continuava a rodar, e ela ainda conseguiu uma punição de 5 segundos para Sainz, ao liberá-lo nos boxes de forma insegura. Com isso o espanhol perdeu mais 3 posições.

No pódio tivemos 3 equipes diferentes (Red Bull, Mercedes e Ferrari) e 3 pilotos de 24 anos (Verstappen, Russel e Leclerc), essa nova geração veio mesmo para ficar. Hamilton terminou em 4º lugar, e um apagado Perez em 5º. Digno de mérito, Fernando Alonso, beliscou o 6º lugar.

Faltando ainda 7 provas para o fim do campeonato, a questão não é mais “se” Verstappen será campeão, mas apenas “onde”. om 10 vitórias em 15 provas, e 109 pontos de vantagem sobre Perez e Leclerc (que, empatados, disputam o vice-campeonato), para o holandês, como disse Pablo Neruda, “a primavera será inexorável”.

P.S. – Na semana passada, para minha surpresa, recebi uma mensagem do nosso grande Felipe Massa, dizendo que curte a coluna. Mando um abraço especial para ele, e digo que receber seu elogio foi uma grande alegria.

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