No último final de semana a F1 chegou ao México, no circuito Hermanos Rodrigues, assim alcunhado em memória à tragédia de dois grandes pilotos mexicanos, irmãos que perderam suas vidas na pista. A pista mexicana foi mutilada pela supressão da mítica curva Peraltada - que assombrava pilotos nos anos 80 e foi traiçoeira com ases do naipe de Ayrton Senna, Nelson Piquet e Nigel Mansell.
Na altitude da Cidade do México as equipes usam configuração máxima de pressão aerodinâmica, e ainda assim há um problema de aderência em função do ar rarefeito. Embora a pista seja uma das mais lisas da temporada, pouquíssimo abrasiva, os carros ficam ariscos.
Claro que no paddock todas as atenções se voltavam para o herói local Sergio Pérez. Com os pífios resultados obtidos pelo mexicano esse ano, seu assento na Red Bull virou alvo da cobiça geral. O próprio Christian Horner admitiu que apenas Lewis Hamilton e Fernando Alonso seriam páreo para Max Verstappen, embora tenha deixado claro que jamais os contrataria. O holandês tem mais do que o dobro de pontos que Perez, fixando um novo recorde em termos de distância para o 2º colocado no campeonato.
No sábado de muito sol os treinos começaram marcando a tristeza de Lando Norris, que apesar de estar pilotando uma McLaren em franca recuperação, ficou no Q1 por conta de uma bandeira amarela. Aliás, tivemos no México uma novidade que foi o chamado delta mínimo de volta, criado justamente para que os pilotos não andem tão lentamente pela pista ao ponto de criar situações de risco. Essa novidade causou já o tradicional show de investigações, embora a maioria não tenha dado em nada. No Q3 as Ferrari desabrocharam e fizeram 1º e 2º lugar. Verstappen ficou em terceiro. Mas o holandês realmente é cativo dos ventos da sorte: no México, essa é tida por muitos como a melhor posição de largada, pois é a primeira a dar a vantagem do vácuo - considerando que na primeira fila não há ninguém à frente. Tudo parecia estar dando certo para o holandês, que venceu 5 das 4 últimas corridas no México.
No domingo tivemos uma largada eletrizante. Verstappen confirmou as previsões: largou muito bem e se enfiou no meio das Ferrari para assumir a ponta. Já Pérez nos fez lembrar que há pessoas que parecem preparar meticulosamente seu próximo erro. Ele tentou fazer uma manobra por fora e abalroou a Ferrari de Charles Leclerc. Com isso o mexicano abandonou sua corrida natal nos primeiros metros, comprovando que tem um grau de compromisso com o fracasso.
Esse acidente disparou a entrada do virtual safety car na volta 5, mas ninguém optou por trocar pneus. Verstappen inaugurou os pit stops na volta 20, o que pareceu cedo demais e revelador de uma estratégia de duas paradas. Enquanto isso as Ferrari ficaram na pista claramente apostando na estratégia de uma parada, o que lhes daria uma vantagem de mais de 20 segundos. Parecia uma boa aposta, mas tudo desmoronou, quando, na volta 34, Kevin Magnussen bateu feio por causa de uma suspensão quebrada. Curiosa foi a declaração formal da equipe Haas informando que a suspensão quebrou por força do calor. Essa é novidade! Terá a suspensão derretido?
Imediatamente Verstappen parou suprimindo a vantagem que tinham as Ferrari. A batida foi tão feia que provocou bandeira vermelha e interrupção na prova. Na relargada, não houve mudança de posição, mas logo em seguida Lewis Hamilton deu o bote em Leclerc, numa bela manobra.
Verstappen sustentou bem a liderança, escoltado por Hamilton e Leclerc. Carlos Sainz chegou em quarto, seguido por Lando Norris que fez uma fantástica corrida de recuperação, George Russel e Daniel Ricciardo.
O resultado da prova reforçou a conclusão de que a substituição de Perez parece uma hipótese irresistível. Tudo indica que o veterano Daniel Ricciardo enganou seu destino: desistiu de ir morar no retiro dos artistas, não só classificando sua Alpha Tauri na frente de Perez, como cravando um honroso 7º lugar – com um carro que é dos piores do grid. Não custa lembrar que, quando foram companheiros de equipe, eles disputaram palmo a palmo. Por exemplo, no campeonato de 2018, Verstappen terminou 79 pontos a frente de Ricciardo. Tudo bem, é bastante, mas nada comparável aos 251 pontos de diferença de hoje, sendo que o campeonato ainda nem acabou. Como já está no ecossistema da Red Bull, o australiano aparenta ser um sério candidato à vaga no cockpit mais desejado do grid. Como disse Machado de Assis, “que profundas que são as molas da vida!"
Na semana que vem teremos o GP Brasil. O Lance! estará lá e prometo uma cobertura especial, fiquem ligados!