Pela 3ª vez a Fórmula 1 chega à Arabia Saudita, Reino da Casa de Saud, dinastia fundada por Ibn Saud. Esse é o único país do mundo que tem no próprio nome a marca da Família que lá reina.
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Os rígidos costumes do país geraram, mais uma vez, alguma polêmica. Lewis Hamilton declarou não se sentir confortável em correr na Arábia Saudita, em virtude da postura do país em relação aos direitos humanos e às minorias. Sem entrar no mérito da polêmica, temos que lembrar que Hamilton todo ano faz essas reclamações, mas vai lá correr. Ora, um piloto que é o símbolo totêmico do sucesso, poderia muito bem não ir. Ninguém o obrigou a visitar os domínios de Mohammed bin Salman (ou “MBS”, como é mais conhecido o Crown Prince). Foi porque quis. Então talvez não devesse reclamar. Buffet que serve farofa não liga o ventilador.
Polêmica também fora da pista, com as alegações da Red Bull de que o carro da Aston Martin é uma cópia do seu. A coisa chegou a um ponto que, na conferência de imprensa após GP do Bahrein, Sergio Perez disse que estava muito feliz em ver três Red Bulls no pódio (fazendo alusão à Aston Martin de Fernando Alonso). De fato os carros esse ano se assemelham demais. Certamente essa “coincidência” deriva do fato de que Dan Fallow, ex-chefe de aerodinâmica da Red Bull, foi contratado pela Aston Martin. Mas achavam o que? No mundo da F1 segredo guarda quem não o conhece...
A Mercedes também deu o que falar, com sua promessa de reformulação do W14. Após o GP do Bahrein, a equipe até soltou uma atípica e emotiva carta para seus fãs dando explicações pela péssima performance, além de fazer promessas de dias melhores. Pelo visto, Toto Wolf não aprendeu a lição de Benjamin Disraelli: “Never complain, Never explain, Never justify” (Nunca reclame, nunca explique, nunca justifique).
O GP da Arábia Saudita, embora disputado em um circuito de rua, é velocíssimo, só perdendo para Monza, com velocidade média de 252km/h. Mas, como toda pista de rua, não tem área de escape, sendo muito desafiador para os pilotos.
Na qualificação de sábado, parecia que os carros da Red Bull estavam imbatíveis. Mas qual não foi a nossa surpresa quando no Q3 o carro de Max Verstappen quebrou: problema no drive shaft (semieixo). Com isso, a pole parecia ser uma disputa entre Perez e Fernando Alonso, que pela primeira vez em mais de uma década tinha chance de largar na frente. Mas o motor Honda da Red Bull de Checo falou mais alto, e ele acabou cravando a pole. Charles Leclerc ficou em segundo (mas punido com 10 posições em função da troca do câmbio, largou em 12º), sendo a segunda posição herdada por Alonso, seguido de George Russel e Carlos Sainz. Perez recebeu as chaves da vitória. A questão agora era se seria capaz de encontrar a fechadura.
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Uma curiosidade que demonstra muito bem o tipo de piloto que é Alonso: em um gráfico chamado track dominance, disponibilizado pela FIA, podemos ver com extrema clareza que Perez prevalecia nas retas, mas que, mesmo com um carro inferior, Alonso o supera praticamente em todas as curvas e trechos sinuosos. Tendo sido campeão 17 anos atrás, o espanhol ainda nos brinda com uma pilotagem que dá gosto de ver. Mesmo assim fica muito difícil enfrentar os Touros vermelhos. Para se ter uma noção, o carro de Perez fazia 10 km/k a mais que o de Alonso nas retas.
No domingo, Alonso largou muito bem e rapidamente tomou a ponta. No entanto, em mais uma daquelas decisões típicas da F1 Nutella, foi punido com 5 segundos porque se posicionou ligeiramente fora do colchete demarcatório de sua posição no grid. A imagem demonstra que a diferença era mínima, uma coisa ridícula. Essa punição não se justifica. A F1 um tem um encontro marcado com esse tema das punições excessivas que evidentemente vem prejudicando o espetáculo.
Já na volta 4, Perez recuperou a liderança. Na sequência, pouco aconteceu. Até que na volta 18, Lance Stroll parou com problemas no motor. No paroxismo da nutellice, o safety car foi acionado, embora o carro do canadense estivesse parado totalmente fora da pista. Foi uma coisa inexplicável e realmente bizarra. Nunca se havia visto um safety car ser disparado sem que houvesse risco aos pilotos. Dá até para desconfiar que foi feito de caso pensado para animar a corrida, que a essa altura dava sono.
Os carros da Ferrari tinham acabado de parar e se prejudicaram de forma irremediável. E quem não havia feito pit stop ainda? Ele, Verstappen, cativo dos ventos da sorte. O holandês estava 15 segundos atrás de Perez e viu a diferença cair para o visual.
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Na volta 25, Vertappen já era o segundo, beneficiado pela facilidade com que se ultrapassa usando o DRS. Aliás, esse é um outro assunto que em algum momento deverá ser repensado. As ultrapassagens têm se tornado banais com o uso desse sistema que garante velocidade maior nas retas para o carro que vem atrás. Aquele velho bordão de Galvão Bueno - “chegar é uma coisa, passar é outra” - já quase não se aplica mais. Hoje quem chega consegue, em regra, fazer a ultrapassagem.
Daí em diante, as Red Bull se revezaram fazendo a melhor volta e, curiosamente, o holandês voador não conseguiu chegar em Perez, tampouco sendo contemplado com uma ordem de equipe para inverter posições. Verstappen informava pelo rádio ter problemas e com isso se acomodou na segunda posição – mas não sem antes ignorar uma ordem de equipe para que ambos os carros virassem em 1min33seg. Ele seguiu fazendo voltas em 1min32s6. Se Perez tivesse obedecido a ordem, claro que o holandês teria chegado. Essa treta, inclusive, rendeu uma reclamação do mexicano pelo rádio: “Estamos agora acelerando sem necessidade. Isso não é inteligente. Caras, não precisamos mesmo disso”. Enquanto isso, Verstappen fazia silêncio no rádio e ignorava a ordem. Pelo visto na Red Bull há muito malandro para pouco otário...
A corrida seguiu desanimada até o final, sendo vencida por Perez, que dividiu o pódio com Verstappen e Alonso. Ato contínuo, mais um capítulo no drama das punições: Alonso foi punido em mais 10 segundos, porque um mecânico teria encostado em seu carro enquanto ele cumpria a primeira punição. Imagens demonstram que o macaco hidráulico roçou na parte traseira do carro de Alonso. Mesmo assim chegou a ser anunciado que o terceiro lugar havia sido herdado por George Russel. Horas depois, nova reviravolta: a FIA voltou atrás e confirmou a terceira posição de Alonso, que subiu ao pódio pela 100ª vez (6º piloto na história a alcançar essa marca).
Tendo feito a melhor volta, Verstappen lidera o campeonato com 44 pontos, um a mais que o seu companheiro de equipe. Embora ainda estejamos nos idos de março, não há elementos para crer que em breve o holandês não disparará no campeonato. Seu 3º título já tem uma aura de inevitabilidade.