Após 22 provas, chegou ao fim, em Abu Dhabi, a temporada de 2022 da F1. Embora o campeonato já estivesse há muito decidido, pilotos e equipes chegaram ao Emirado com motivações especiais: Sergio Perez e Charles Leclerc na luta pelo vice-campeonato, Lewis Hamilton e George Russel disputando quem terminaria na frente, quatro pilotos fazendo suas despedidas, Ferrari e Mercedes disputando o 2º lugar entre os construtores, assim como Alpine e McLaren duelando pelo 4º .
No ar também muita expectativa em torno da postura de Max Verstappen. Após se negar a trocar de posições com Perez no Brasil, com direito a piti no rádio (“nunca mais me peçam isso”), iria ele ajudar o mexicano? Esse tema dominou a F1 na semana passada, com direito a especulações acerca de que a bronca de Verstappen viria desde Mônaco, onde supostamente Perez teria batido de propósito para assegurar um lugar de largada privilegiado, na frente do Holandês. A Red Bull chegou a jogar um pano quente em forma de nota oficial dizendo que Verstappen estava comprometido com Perez e que iria fazer tudo para que a equipe conseguisse também o vice-campeonato.
Abu Dhabi marcou a aposentadoria de quatro pilotos: Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo, Nicolas Latifi e Michael Schumacher. A do primeiro foi bastante celebrada, seja pelo fato de se tratar de um tetracampeão, seja pela simpatia de Vettel. É verdade que muita gente entende que seus quatro títulos tenham decorrido da total hegemonia que a Red Bull teve naquele início da última década. Mas melhor deixar isso pra lá. Depois que o futuro vira passado, todos ficam muito melhores. Vettel disse que vai cuidar da família e largar o automobilismo. Alguns acham que ele não vai aguentar e tentará voltar. A conferir. Afinal, como disse Joaquim Nabuco, “bem diferentes são os dois climas - do passado e do futuro. Feliz o espírito que pode passar de um a outro sem sair de si mesmo.”
Para a F1 essas aposentadorias são salutares – uma mudança de 20% do grid. Afinal estamos falando de dois veteranos cansados (embora Ricciardo ainda tenha conseguido um bico de piloto reserva na Red Bull) e dois pilotos fracos – Latifi e Schumacher. O primeiro, múltipla e merecidamente aqui já criticado; o segundo vai com a melancolia de ter perdido algo que nunca lhe pertenceu.
Ano que vem teremos quatro (que dizer, três...) bons novatos que tiveram até agora ótimas carreiras (felizmente nenhum piloto pagante): Logan Sargeant na Wiliams, Oscar Piastri na McLaren, e Nick de Vries na Alpha Tauri. Todos prometem uma lufada de ar fresco na F1. Já o mesmo não se pode dizer do escolhido pela Haas: o time americano optou pelo veterano Niko Hulkenberg, detentor do vexaminoso recorde de mais largadas sem sequer um pódio. Hulk correu 184 vezes, jamais tendo respirado o ar rarefeito daqueles três degraus. Por que a Haas, com tanto novato bom na praça, optou por um veterano mal sucedido é algo que escapa às minhas ferramentas de tradução.
Falando em novatos, no TL1 tivemos uma bela visão: dois brasileiros na pista. Felipe Drugovitch e Pietro Fittipaldi (respectivamente reservas na Aston Martin e na Haas) treinaram. Em outra boa notícia para o Brasil, Enzo Fittipaldi (filho de Emerson e 6º colocado na F2), se tornou o mais novo membro da Academia de Pilotos da Red Bull.
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A pista árabe nunca oferece ao público grandes corridas. O circuito é travado e com poucas chances de ultrapassagens, o que faz com que a posição de largada torne-se ainda mais importante. Apesar disso o grid se formou no sábado sem surpresas. Duas Red Bull (sendo desnecessário dizer quem ficou a frente), duas Ferrari, com Sainz à frente de Leclerc, e duas Mercedes (mas dessa vez com Hamilton antes de Russel), fecharam as seis primeiras posições.
No domingo, uma largada limpa, com Verstappen disparando, e Hamilton ultrapassando Sainz numa manobra dura (semelhante àquela que gerou a confusão de 2021), que depois o obrigou a devolver a posição. Perez conseguiu manter o 2º lugar, mas sem se distanciar de Leclerc, sempre sob sua alça de mira. Na volta 29, o mexicano estava mais de 2 segundos atrás do líder e disse pelo rádio que não conseguia se distanciar de Leclerc porque estava sendo contido por Verstappen. Foi o momento mais divertido da prova. Fiquei pensando se isso seria algum código... Não é possível que o mexicano realmente acredite nisso. Só se ele estivesse “emaconhado”, como diz meu Pai.
Nesse momento, houvesse mesmo um esforço de equipe, duas coisas poderiam ter sido feitas. A 1ª – radical – seria uma inversão de posições, para que Verstappen segurasse Leclerc. A segunda – mais light – seria que o líder deixasse Perez se aproximar para que, a menos de um segundo, ele pudesse abrir a asa móvel. Isso deixaria o mexicano aproximadamente um segundo mais rápido por volta. Mas nada disso foi feito.
Você deve estar se perguntando: ué, mas não havia o compromisso de Verstappen em ajudar Perez em sua luta pelo vice-campeonato? Algumas pessoas acreditaram. Segundo Elio Gaspari, estima-se que de cada 100 pessoas, 27 não acreditam que os astronautas americanos foram à Lua, e 20 em cada 100 acham que a Terra é plana. Cada um crê no que quer.
Nesse momento, já se podia antever que a estratégia de pneus seria determinante. Perez parou na volta 34 e Leclerc ficou na pista, claramente partindo para uma só parada.
Faltando 14 voltas para o final, o mexicano vinha de pneus novos e tirando quase um segundo por volta. Tudo indicava que conseguiria chegar em Leclerc nas últimas. Chegou mesmo, mas somente na derradeira. E aí o toque gelado da mão do destino: Perez perdeu mais de meio segundo tentando ultrapassar o retardatário Pierre Gasly, que fazia sua última corrida pela Alpha Tauri, subsidiária da Red Bull. Terá o piloto francês se lembrado de sua cruel demissão do time principal no meio da temporada de 2018? Jamais saberemos.
Assim, Verstappen seguiu tranquilo para a vitória. Já Leclerc chegou em segundo e conquistou um improvável vice campeonato. O holandês voador sagra-se assim campeão com uma diferença de 146 pontos sobre Leclerc (quase 50% do total de pontos obtidos pelo monegasco). Perez teve que se contentar com o terceiro lugar no campeonato, seguido do bravo George Russel, que terminou a temporada 35 pontos à frente de Hamilton – um feito e tanto. Entre os construtores, a Ferrari conseguiu o vice campeonato superando a Mercedes, e a Alpine firmou-se como a quarta força, batendo a McLaren.
A F1 entra de férias até o início de março, quando dará início à maior temporada de todos os tempos: 24 corridas (e 6 sprint races). Vamos torcer para que as outras equipes evoluam e tenhamos brigas melhores em 2022.
Fico por aqui, desejando um bom final de ano a todos, agradecendo aos leitores e esperando que vocês tenham se distraído um pouco lendo essas bobagens – eu me diverti muito nesse 1º ano como colunista, e espero continuar, se o Jornal LANCE! for irresponsável o suficiente para assim permitir. Abraços!