Coluna do Bichara: um novo vencedor na Fórmula 1
Luiz Gustavo Bichara analisa o Grande Prêmio de São Paulo da F1
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Pela 50ª vez na história a F1 chegou ao Brasil. Dessa vez com o campeonato já decidido, mas com uma briga muito viva pelo vice-campeonato e grande expectativa pela recuperação das Mercedes. Lewis Hamilton jamais deixou de vencer em uma temporada. George Russel jamais havia vencido. Mas neste domingo se tornou o 113º vencedor da história da F1.
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O final de semana começou animado já na sexta-feira, na classificação para a sprint race. Num dia de tempo instável, típico de Interlagos, a chuva chegou bem no início do Q3. A vantagem obviamente seria de quem conseguisse fazer tempo ainda sob pista seca, mas o céu plúmbeo deixava claro que a chegada da chuva seria uma questão de minutos.
A localização das equipes nos boxes é sempre determinada pela posição delas no mundial de construtores do ano anterior. Assim a 1ª garagem ficou com a Red Bull, enquanto a última foi designada a Haas. E como as vezes costuma acontecer, os últimos acabam sendo os primeiros. Valendo-se dessa posição que excepcionalmente mostrou-se estratégica, a Haas colocou o carro de Kevin Magnussen já na linha de saída, o que deu ao dinamarquês a prerrogativa de iniciar sua volta rápida antes de todos os demais, o que acabou garantindo uma inédita e surpreendente pole para a equipe americana (que abriu e fechou o grid, já que Schumacher largou em último) segundos antes da chuva desabar. Essa pole era tão improvável que as casas de apostas pagavam mil para um. Mas, de vez em quando, o improvável acontece.
No sábado, a sprint race garantiria não só a pole, como daria pontos aos oito primeiros. Sendo óbvio que Magnussen não conseguiria manter a liderança, as atenções se voltavam para os carros da Red Bull e da Mercedes. Russel e Verstappen protagonizaram uma ótima briga, com o inglês levando a melhor em função de uma escolha estranha de pneus da Red Bull (o holandês foi o único a largar de pneus médios). A sprint foi ainda marcada por (mais) uma manobra irresponsável de Lance Stroll para cima de Sebastian Vettel, seu companheiro de equipe, o que por muito pouco não causou um acidente de graves proporções.
Stroll recorrentemente se mostra um piloto sujo, que só está na F1, como sabemos, por força do “paitrocínio”; um verdadeiro Dick Vigarista. Como disse Groucho Marx, ele pode parecer um idiota e agir como um idiota, mas não se deixe enganar: ele é realmente um idiota.
Russel venceu com categoria a sprint após passar Verstappen na volta 15, tendo sido o holandês também superado por Carlos Sainz e Hamilton. Mas como o espanhol tinha uma punição a pagar, as Mercedes fizeram dobradinha na 1ª fila, prometendo um paredão desafiador para Verstappen, que largava em 3º.
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No domingo, as Mercedes se defenderam bem na largada. Já na 1ª volta deu-se uma colisão entre dois pilotos de destino merecidamente incerto: Daniel Ricciardo bateu em Schumacher, disparando o SafetyCar, que ficou na pista até a volta 7. Na relargada outra treta: em pleno S do Senna, Hamilton e Verstappen se engalfinharam, numa batida que fez ambos perderem muitas posições, mas onde quem levou a pior foi o atual campeão, que ainda recebeu uma punição de cinco segundos – essa que pareceu bastante injusta. O que houve foi uma disputa dura de posições que resultou no chamado “acidente de corrida” – aliás típico de quando esses dois campeões se encontram pela pista. Ali um não dá moleza para o outro.
Na mesma volta 7, um pouco mais a frente na curva do Laranjinha, um outro enrosco: Lando Norris deu uma escorregada, acertando em cheio Charles Leclerc. A disputa então parecia ter ficado entre Russel, que seguia na liderança, e Sergio Perez. A Ferrari de Sainz vinha bem, mas teve que antecipar uma parada por força de uma sobreviseira que, descartada por algum piloto, foi parar em seu disco de freio, causando superaquecimento (o que foi identificado por um dos 115 sensores com que os carros de hoje contam).
Nas voltas seguintes, Russel abria um pouco de Perez, enquanto Hamilton fazia uma bela corrida de recuperação, até que na volta 45 passou o mexicano para delírio da torcida brasileira. Impressionante a popularidade do inglês no Brasil. A galera gritou como se fosse um brasileiro na pista (aliás, e até “meio”, já que agora é cidadão honorário da Pátria).
Com a Red Bull tendo problemas com os pneus médios, o dia realmente parecia ser das Mercedes. Faltando menos de 20 voltas para o final, outra vez o SafetyCar foi disparado, gerando a expectativa da relargada. Mas Russel não sofreu ataques de Hamilton. Enquanto isso, Sainz superou Perez.
Na parte final da prova muita atividade nos rádios das equipes. Russel propôs um pacto de não agressão, que foi polidamente recusado pela Mercedes. Já na Red Bull e na Ferrari os contendores pelo vice-campeonato imploraram por trocas de posições, mas seus esforços não encontraram recompensa. A Ferrari não tirou o pódio de Sainz alegando que Alonso, que vinha em 5º, logo atrás de Leclerc, seria uma ameaça. E na Red Bull houve uma ordem expressa para que Verstappen (que não tem nada a perder, pois já respira o ar rarefeito de quem chegou ao Olimpo do esporte) cedesse a posição para Perez, mas que foi indeferida pelo campeão. O holandês, impermeável à razão, disse expressamente pelo rádio que não ia obedecer, e ficou por isso mesmo. Finda a prova, Perez reclamou muito, chegando a dizer que se o holandês tem dois títulos, deve boa parte disso a ele. Também não é assim, Serginho, se acalma...Um leão em idade adulta na savana africana tem sucesso em uma em cada seis caçadas. A vida é difícil mesmo. O copo da dentadura não se pode achar o aquário do peixinho.
A F1 assistiu à vitória – e hat trick - do craque George Russel, que tendo vencido a Sprint e feito a melhor volta, colheu o máximo de pontos disponíveis no final de semana: 34. Atrás dele Hamilton, que curiosamente não tentou o bote, o que tornaria a ladeira do vencedor mais íngreme, e Sainz fechando o pódio. Leclerc chegou em 4º, Alonso – em mais uma grande performance – em 5º, e as Red Bull apenas 6º e 7º.
Leclerc e Perez vão para Abu Dhabi semana que vem empatados com 290 pontos. Matematicamente até Russel está na briga pelo vice-campeonato, embora essa seja uma hipótese que se situa entre o quase impossível e o altamente improvável. De toda forma o inglês deve terminar o ano na frente de Hamilton, o que será um feito memorável. Vamos torcer para que as flechas prateadas sigam evoluindo e nos proporcionem um campeonato mais disputado em 2023. A propósito, a equipe segue viva na luta pelo vice-campeonato, 19 pontos atrás da Ferrari. Com 44 em jogo, parece algo factível, mormente em função da evolução de seus carros. Já na Ferrari, que perdeu muita performance durante o ano, corre solto o boato de que o ineficiente Matia Binotto poderá ser substituído por Fred Vasseaur, chefe de equipe da Alfa Romeu. Já vai tarde...
Uma nota final: em 1972, na 1ª vez que a F1 correu no Brasil, Emerson Fittipaldi fez a pole, mas infelizmente abandonou com problemas na suspensão. Cinquenta anos depois, Emerson estava lá, e deu a bandeirada para Russel. Foi bonito ver nosso bicampeão, pioneiro e querido amigo Emerson lá. Ele merece.
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