Coluna do Rolim: Abel Ferreira evoluiu no Palmeiras; seus jogadores, também

Felipe Rolim analisa a progressão do trabalho feito pelo técnico português no Verdão e o impacto na capacidade coletiva e individual de seus comandados

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Abel Ferreira é pauta quando ganha e quando perde. Antes, somente dos torcedores de seu time; até bem pouco tempo em debates relacionados a clubes e, se mantendo no alto da tabela, seu nome acaba sendo sugerido para a Seleção Brasileira. Chegou vencedor e assim se manteve. Uma Copa do Brasil, duas Libertadores da América, uma Recopa Sul-americana e um Campeonato Paulista. No momento, no topo do Brasileirão. É o grande técnico da atualidade no futebol brasileiro.

Entretanto, ainda convive com rótulos mal colados, como o de retranqueiro e o de não jogar “mais bonito” com o elenco que tem. São olhares cansados, de quem vê o futebol com os olhos saudosos de uma época que não volta mais – e que o futebol nem era tão bonito assim, mas isso é outra história.

Abel Ferreira chegou em outubro de 2020 e levou o Palmeiras a dois títulos para os quais não era o favorito destacado. Entregou resultado. Passou pelo River Plate na Libertadores antes de ganhar o título do Santos, e ganhou do Grêmio de Renato Gaúcho na final da Copa do Brasil. O time não tinha todas as ideias de hoje e sua execução era mais falha. Era o começo do trabalho.

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O Palmeiras já jogava no 4-2-3-1 e se defendia em jogos mais complicados com uma última linha de cinco bem baixa, bem perto de sua área. O “quinto homem” de Abel era um meia aberto que retornava. Normalmente, o Scarpa pela esquerda (quando já não entrava como lateral) ou Gabriel Menino pela direita.

O Palmeiras ainda não fazia a pressão sufocante que faz hoje e sofria perto de seu goleiro. Acabava resolvendo seus jogos em contra-ataques e bolas paradas. Os princípios de jogo do Abel, com pouco tempo de trabalho, estavam ali: capacidade de adaptação ao adversário, defender em função da bola congestionando o corredor da jogada e verticalidade nas transições ofensivas.

Uma temporada inteira se passou e, em sua segunda final de Libertadores, Abel mostrou um trabalho mais maduro, eficiente e com mais ferramentas. Nos mostrou seu 3-4-3 com um quadrado atrás do centroavante, super povoando a entrelinha adversária e abrindo espaços nas costas dos laterais. Nos mostrou ensaios na saída de bola e movimentos automáticos de pressão, como o que resultou no gol do título.

A pressão palmeirense hoje é melhor que a de 2021. A intenção é induzir o adversário a sair pelos lados e, automaticamente, o time vai encaixando e marcando todos os passes curtos possíveis, forçando o passe para trás ou o passe longo. O passe para trás gera a pressão ainda mais próxima ao gol; o passe longo gera o contra-ataque vertical contra uma zaga desarrumada.


"Abel Ferreira ainda convive com rótulos mal colados, como o de retranqueiro e o de não jogar “mais bonito” com o elenco que tem. São olhares cansados, de quem vê o futebol com os olhos saudosos de uma época que não volta mais"


Os jogadores do Palmeiras também estão performando mais que em 2021. Danilo foi estimulado a tomar decisões ofensivas e foi convocado por Tite; Gustavo Scarpa fez as mais variadas funções sem deixar de se destacar como um grande assistente; Zé Rafael, que veio como meia ofensivo do Bahia, foi convertido em um volante de primeiro nível. Já Raphael Veiga é um caso a parte. O camisa 23 foi o meia aberto pela direita (hoje a posição do Dudu) que centralizava para a subida do lateral. Além disso, é constantemente o meia central circulando em função da bola e entrando na área como um segundo atacante. Também jogou como falso nove, sendo o centroavante na fase defensiva e voltando para armar quando o Palmeiras atacava.

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Os números também não mentem. Com o passar do tempo, o Palmeiras fez mais gols e sofreu menos gols, diminuiu o número de passes dos adversários em suas ações defensivas e vem finalizando, em média, de posições mais próximas ao gol adversário.

Abel Ferreira entrega resultado, evolução coletiva e potencializa seus comandados. Abel Ferreira é comparado a José Mourinho. Vejo claras similaridades, mas acho reducionista. No entanto, considero um elogio em um ponto em especial: a força mental nos jogos decisivos. Dois vencedores.

Abel vem fazendo história no clube (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)
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