A nova temporada da F1 se aproxima com novidades nos carros. As mudanças no regulamento – principalmente em termos de aerodinâmica – prometem uma temporada equilibrada e disputas mais acirradas.
Teremos também mudanças na direção de prova: sai o confuso e errático Michael Masi e entra uma dupla, que funcionará em regime de revezamento: Niels Wittich (que já auxiliava Massi) e Eduardo Freitas (um português com grande experiência na função em outras categorias). Dado o número recorde de 23 corridas na temporada, o revezamento parece ser uma boa ideia.
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Ainda no pacote de novidades, e sempre buscando evitar o tipo de bagunça que vimos ano passado (literalmente até a última volta do campeonato), Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA, anunciou recentemente a criação de um controle de provas virtual, que ele mesmo comparou a um “VAR” da F1.
Uma equipe de técnicos ficará fora da pista, mas com acesso a todas as câmeras e dados de telemetria. Esse time – que será liderado pelo veterano Herbie Blash, ex-assistente de Charlie Whiting , o longevo diretor de provas da F1 falecido em 2019 – terá a missão de fiscalizar ainda mais qualquer atitude dos pilotos que seja considerada infração ao regulamento. Ou seja, já podemos prever mais punições...
Resta, no entanto, saber se os problemas que vimos ano passado decorrem apenas da postura indecisa de Massi, ou do próprio regulamento – ou melhor, de sua interpretação. Será que esse VAR não vai causar ainda mais confusão?
Muitos fãs pelo mundo estão a se perguntar se esse excesso de interferências da direção de prova na corrida – punindo a toda hora condutas que durante décadas foram toleradas – não acaba por tornar a F1 burocrática. Menos raiz e mais nutella.
Por exemplo, não conheço fã de F1 que não se irrite com a chatice das punições pelo uso do “excesso de pista”. Ora, pista é para ser usada! Se não querem que assim seja, que se coloque muros ou barreiras que poderão – aí naturalmente – punir os pilotos que se excederem. Como já acontece nos emocionantes traçados do Azerbaijão, Cingapura, Jeddah e outros, onde não há espaço para erros – isso para não falar nos inclementes muros de Monaco.
Aliás, anos atrás, Bernie Ecclestone já havia sugerido algo semelhante, lembrando que o risco faz parte do esporte. Ao comentar os acidentes, Bernie lembrou que isso “é um pouco de showbiz, as pessoas amam”.
Claro que a Liberty Media vem fazendo um ótimo trabalho no sentido de tornar as corridas cada vez mais apoteóticas. Mas mesmo com todos os recursos midiáticos e inovações, o público que acompanha a F1 jamais vai se esquecer dos lendários pegas outrora vividos: Senna x Prost, Piquet x Mansel, Lauda x Hunt, Schumacher x Montoya etc.
Basta lembrar que no caso Senna x Prost, dois campeonatos mundiais consecutivos terminaram em colisões espetaculares. Seria a história da F1 mais interessante sem isso? Custo a crer.
Claro que não se está a defender uma corrida sem regras, com ameaça à segurança dos pilotos. Mas será que não deveríamos refletir sobre a tese da interferência mínima? Durante muito tempo valeu a máxima “let them race”. E não há muita dúvida de que tínhamos um espetáculo melhor.
Não há elementos para crer que os protagonistas do ano passado – Hamilton e Verstappen – vão arrefecer seus ímpetos, de forma que devem continuar a se encontrar pela pista. Vamos esperar que o VAR não atrapalhe o espetáculo!