Um sertanejo na Rússia: de ‘Feira de Mangaio’ ao funk em Kazan
Nosso repórter paraibano traz o relato da passagem pela cidade da eliminação do Brasil, Argentina e Alemanha. Muita diversidade, e a experiência de sair do estádio ao amanhecer
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'Ontem eu sonhei que estava em Moscou..."
...E na verdade estava em Kazan vendo a eliminação da Seleção Brasileira da Copa do Mundo. Quem dera fosse sonho. Ô cidadezinha zicada, hein, bicho?! Já tinha derrubado a Alemanha, depois Argentina. Cemitério das grandes. Mas calma lá. É preciso dizer que Kazan é uma cidade encantadora para quem chega, talvez a mais especial que encontrei na Copa até agora. E não é que teve uma pitadinha de Nordeste por aqui?
Dando um rolê por um dos grandes pontos turísticos da cidade, o Kremlin, me deparei com duas moças tocando sanfona. Por si só, uma cena muito bacana e animadora para os brasileiros presentes. No começo, tocavam músicas russas, árabes, da forte cultura local. Até que anunciaram que o próximo hit seria uma homenagem ao Brasil. Fiquei na expectativa e meus olhos se encheram quando ouvi uma pegada muito conhecida. Era um forrózinho, não havia dúvida. Eu só não tinha certeza de qual música era, porque elas não disseram, mas o ritmo lembrava muito "Feira de Mangaio". Será possível? Logo essa marcante canção de Sivuca, paraibano como eu? Eita Copa especial. O ritmo era mesmo muito parecido e comecei a cantar junto "Ele tinha uma vendinha no meio da rua..." Vocês já sabem como a comunicação em russo é complicada, né? Então saí de lá sem tirar a dúvida, mas o que importa era que na minha cabeça eu tinha ouvido Sivuca em Kazan. Assista ao vídeo abaixo e diga se eu estava errado.
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O Kremlin é um passeio que vale muito a pena e lá encontrei diversos brasileiros, das mais variadas partes. Quando você chega, seu olhar vai diretamente para a belíssima e imponente Mesquita Kul Sharif, um dos tantos templos muçulmanos da cidade capital da região do Tartaristão. Kazan tem uma pluralidade de religiões incríveis, então andando na rua você encontra todo tipo de igreja e templos. A formação cultural e histórica da cidade aponta para a convivência com a diferença, eles aceitam muito mais as coisas do que em outros lugares da Rússia. A tolerância é um motivo de orgulho para a população e por isso a integração com brasileiros e outros povos foi muito forte durante o Mundial.
Quer ver mais uma prova disso? A outra cena marcante na cidade aconteceu depois do jogo, já com o Brasil eliminado pela derrota com a Bélgica. Obviamente, tinha sido um dia muito cansativo de trabalho, repercutir derrota sempre é mais desgastante, ainda mais uma queda em Copa. Eu e o Thiago Salata, companheiro de LANCE!, assim como a maioria dos profissionais brasileiros, saímos do estádio por volta das 2h30 da madrugada no horário local (o jogo terminou às 23h). Isso muito por conta da demora para os jogadores da Seleção deixarem o estádio, como foi durante toda a Copa. Mas acabou rendendo um momento curioso, único. Foi a primeira vez na minha carreira que deixei o palco de uma partida no amanhecer de um dia, já que em Kazan, isso ocorre por volta das 2h no verão.
Quando estamos saindo, já exaustos, paramos para registrar a linda fachada da Arena Kazan com seu telão de LED e eis que começa a tocar outro som bem familiar. Era um funk. Mas daqueles pesados mesmo, inconfundível! Vinha da caixa de som de uma das voluntárias russas que fazem serviço para a Fifa. Observamos com alegria, quando de repente começa a cena que fecharia aquele dia histórico em Kazan. A moça do som e seus amigos começam a dançar o ritmo famoso no Brasil com toda empolgação. Estavam felizes, rindo à toa, desfrutando do melhor que é a Copa. Essa diversidade de ritmos, rituais, magias e pessoas. O Brasil perdeu, mas a vida segue e ela pode ser muito mais feliz com música, seja forró, sertanejo, árabe, ou funk. Kazan foi célebre em mostrar isso.
"Ontem eu sonhei que estava em Moscou..." Não era sonho, não! E a próxima parada é em São Petersburgo, onde nunca fica de noite. Simbora!
*Marcio Porto é repórter do LANCE! desde 2008 e está em sua segunda cobertura de Copa do Mundo - a primeira foi no Brasil. Paraibano de São Sebastião de Lagoa de Roça, cidade de pouco mais de 11 mil habitantes, irá desbravar as terras russas com a sede e fome do sertanejo. Cabra da peste que é, trará os relatos aqui para você!
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