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Com peso da História, Nigéria joga ’em casa’ na Bahia

Dia 01/03/2016
03:38

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Quando pisar o gramado da Fonte Nova para enfrentar nesta quinta o Uruguai, às 19h, a seleção da Nigéria estará reescrevendo um roteiro iniciado no século 18. Entre os anos de 1750 e 1850, nenhum outro país africano exportou mais escravos para as lavouras de  cana e de fumo de Salvador. A estimativa de estudiosos do tema é de que 800 mil tenham sido enviados para a Bahia durante o período.

A presença nigeriana nas ruas da capital baiana, hoje restrita a uma   colônia de 100 pessoas, é, no entanto, perceptível até hoje (leia lista). O ponto de encontro deste grupo é a Casa Nigéria, construção de dois andares situada no Pelourinho, coração cultural de Salvador. Com o apoio financeiro da Embaixada da Nigéria em Brasília, o local abriga  cursos  e palestras que são ministrados para que a presença ancestral africana seja ainda preservada.

Astro maior dos Super Águias, o volante Obi Mikel foi pego de surpresa quando informado sobre os traços que unem a Bahia ao seu país. Ao saber, o jogador do Chelsea tratou de trazer a torcida para seu lado.

O desconhecimento do camisa 10 nigeriano é lamentado por Adelson Britto, colaborador da Casa. Para Britto, o ignorância em relação à História é algo que transcende as quatro linhas do gramado.

– A seleção virá e não poderá sentir essa identidade que vem das nossas raízes. Muitos não querem potencializar esta história – opinou Britto, que disse que o governo da Bahia perdeu boa oportunidade de reverenciar a nação irmã.

As autoridades, contudo, festejam a presença da seleção nigeriana. O secretário da Copa na Bahia, Ney Campello, fez questão de atribuir o jogo de hoje a uma sorte que 'pode ter vindo dos búzios', mas nenhuma solenidade ou ação que resgate a memória do país que ajudou a forjar a cidade foi agendada.

Com ou sem cerimônia, Stephen Keshi, técnico da Nigéria, prometeu encarar de frente o Uruguai. Com a força de todos os orixás, a missão pode ficar mais fácil.

Com a palavra

Jeferson Bacelar Prof. do centro de estudos afro da Universidade Federal da Bahia

'O caráter simbólico é muito significativo'

'Houve um afluxo grande de escravos entre 1750 e 1850. Foram 800 mil só em Salvador.  Grande parte veio da Nigéria, Benin e Togo.  A culinária que se manteve aqui não se manteve em lugar algum do mundo. Há ainda o candomblé, a culinária e a capoeira.  O caráter simbólico de ter a Nigéria é significativo, seria uma ótima ocasião para homenagearmos a influência nigeriana, mas a Copa é feita por um pequeno grupo que só está preocupado com o dinheiro'.

A Nigéria é aqui!

Culinária

Com certeza o acarajé foi a maior herança deixada pelos escravos, que introduziram o acará na culinária local. O azeite de dendê também foi importado pelos africanos.

Religião

Na Bahia, os escravos fundiram o culto a todos os orixás em uma só religião, o que originou o candomblé.

Cultura

Misto de dança e luta, a capoeira foi desenvolvida pelos escravos em Salvador. O samba de roda, variante do ritmo que é mais marcada por palmas e canto, é outro traço marcante da cultura afro.


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