Copa do Mundo Feminina: Espanha alcança final através das individualidades e ‘apesar’ de treinador

Grande campanha marcada por lampejos de craques da equipe mascara problemas entre elenco, comissão técnica e federação

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Jogadoras espanholas celebram gol contra a Costa Rica na fase de grupos (Foto: Divulgação/RFEF)

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"Apesar de você, amanhã há de ser outro dia. Eu pergunto a você, onde vai se esconder da enorme euforia?". Os versos iniciais da canção "Apesar de Você", de Chico Buarque, traduzem de uma forma perfeita, apesar de involuntária, a situação da seleção da Espanha, comandada por Jorge Vilda, na Copa do Mundo Feminina.

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Existe um péssimo clima na Fúria desde setembro de 2022. Na ocasião, jogadoras pediram a cabeça do treinador, alegando um trabalho ruim e treinos insossos, mas não foram atendidas pela Real Federação de Futebol Espanhola (RFEF). Das 15 que assinaram a nota, 12 não foram chamadas para a Oceania, incluindo peças importantes, como Mapi León e Patri Guijarro. Ainda assim, a Roja empurrou os problemas como se não existissem e vem driblando as rusgas, apostando na individualidade.

A campanha até aqui não foi das mais brilhantes. As vitórias iniciais, contra Costa Rica e Zâmbia, configuraram a equipe como favorita, mas serviram para mascarar um time inseguro. Na última rodada da fase de grupos, os problemas foram expostos: quase 80% de posse de bola, mas 0% de ímpeto no último terço e goleada sofrida por 4 a 0 para o Japão.

Nas oitavas de final, o time voltou a se impor e bateu a Suíça por 5 a 1. Nas quartas e nas semis, nada de vida fácil: vitória já na prorrogação contra a Holanda, em jogada individual de Salma Paralluelo, e nova dose de emoção em duelo eletrizante contra a Suécia, decidido por um lindo gol de fora da área de Olga Carmona.

A equipe de Jorge Vilda não se mostra ser um time encaixado coletivamente. O fato de o treinador rodar demasiadamente as peças em uma competição de tiro curto dá sinais de que as coisas não estão funcionando da forma como gostaria. Alexia Putellas, duas vezes melhor do mundo, vem sendo reserva, devido a problemas físicos e uma contusão sofrida antes do Mundial. O fato de 12 jogadoras recorrentes no ciclo não terem sido chamadas também vem prejudicando o desempenho.

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Alexia Putellas em ação na Copa do Mundo (Foto: MARTY MELVILLE / AFP)

O crescimento das individualidades tem carregado o time espanhol na competição, longe de qualquer brilhantismo coletivo. Aitana Bonmatí, por exemplo, se tornou uma líder do elenco mesmo aos 25 anos, não só mentalmente, como tecnicamente. Com três gols na competição, a meia vem fazendo grande Copa do Mundo e é uma das principais apostas para a final.

A centroavante Jennifer Hermoso é outra que vem jogando muito bem, com os mesmos três gols, e assumindo o protagonismo no ataque. Nomes como Teresa Abelleira, Mariona Caldentey e Alba Redondo também fazem bom torneio e seguram a barra na parte ofensiva.

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A grata surpresa da Roja fica por conta de Salma Paralluelo. A atacante, que fazia atletismo até o último ano, vem chamando a atenção por sua maturidade, mesmo aos 19 anos. Já são dois gols na conta da velocista, além de uma grande gama de jogadas individuais. Foi dela o gol da classificação na prorrogação contra a Holanda, em arrancada veloz, e o gol que inaugurou o marcador na semifinal contra a Suécia. A camisa 18 ganhou os Mundiais sub-17 e sub-20, querendo fechar a trinca com o maior de todos.

A Espanha não costuma jogar de uma forma reativa. Pelo contrário, procura propor sempre o jogo e não desce as linhas na marcação, gostando de atuar de forma ofensiva na pressão pós-perda. Por ser uma final contra um adversário difícil, existe a tendência de que Vilda baixe as linhas, diminua a intensidade e tente não se expor.

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A principal dificuldade tem sido no terço final do campo, com muitos passes, mas diminuta objetividade. O jogo contra o Japão, uma escola de defesa aplicada taticamente, mostrou grande incapacidade espanhola em quebrar as linhas com os toques. Resta apostar em uma jogada rápida de Paralluelo, uma bola sobrando na área para Hermoso ou um chute de longe, como Olga Carmona fez para colocar a seleção na decisão.

Após a vitória contra a Holanda, Jorge Vilda ficou parado cercando as jogadoras espanholas e nenhuma parou para celebrar com o comandante, em imagens flagradas pela geração ao vivo da Fifa. Ao que tudo indica, há um certo sentimento das jogadoras de que o título virá através delas e apesar de ter o madrilenho como treinador.

Neste domingo, o duelo será complicado: a Roja tem pela frente uma embalada Inglaterra, que fez ciclo perfeito e chega como atual campeã da Europa e da Finalíssima, em vitória sobre o Brasil. O duelo acontecerá às 7h (horário de Brasília), no Accor Stadium, em Sydney, na Austrália.

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