"Futebol é 11 contra 11 e, no fim, ganha a Alemanha."
A famosa frase do ex-atacante Gary Lineker está grafada em letras garrafais na história do futebol e fez brasileiros provarem dessa maldição em 2014. Ela é tão cruel, que massacrou o ingênuo autor desse texto. Amigos, quando o empate persistia nos acréscimos, cometi o erro de bater a história do jogo em cima de um placar decretado. Castigo. Quando a Alemanha parecia vencida, com um jogador a menos, e praticamente eliminada da Copa do Mundo, os deuses intervieram e coube a Toni Kroos manter a ordem natural das coisas, marcando o gol da vitória no último lance de perigo da partida. O triunfo por 2 a 1, de virada, explodiu o estádio de Sochi de emoção pintada em amarelo, vermelho e preto. As cores que teimam em nos dizer o que é o sucesso.
A ALEMANHA VIVE
O tento de Kroos, que havia errado feio no gol sueco que abriu o placar, impediu que a Alemanha fosse jogada aos leões. Ela, tão acostumada a dar as cartas, iria para a rodada final dependendo de seus principais adversários no grupo. Bastaria um empate entre Suécia e México para as duas avançarem e os atuais campeões do mundo voltarem para casa. Eu fui seco nisso e negligenciei a historia. Resultado: a Alemanha agora encara a Coreia do Sul com grandes chances de passar de fase. E é bem possível que encare o Brasil nas oitavas de final. O fantasma do 7 a 1 assombra.
O JOGO É JOGADO, O LAMBARI É PESCADO
A Alemanha começou com as rédeas do jogo. Posse de bola esmagadora, variações, profundidade. Tudo aquilo que a gente conhece dela. Teve chances no início, não marcou. E a Copa da Rússia tem sido implacável com quem vacila. O castigo veio com requintes de crueldade. Acostumado e ser o cérebro do time e errar um passe a cada seis meses, Kroos errou uma saída de bola fácil e permitiu o ataque da glória para os suecos. Toivonen encobriu Neuer com um belo toque e permitiu aos presentes no Estádio Olímpico acreditar que era possível. Naquele momento, a Alemanha estava eliminada.
MAIORIA SUECA NA TORCIDA
Eram duas contra uma. Os suecos estavam em bom número na arquibancada, mas os alemães, claro, também. Só que a diferença veio por parte da adoção russa. Os muito russos no estádio fizeram coro pela seleção teoricamente mais fraca e ajudavam nas vaias quando os atuais campeões estavam com a bola. Foi um gás a mais para a seleção do técnico Janne Andersson.
O ABAFA E O FATOR REUS
A Alemanha foi para o intervalo derrotada e eliminada. Era preciso mudar o comportamento, ser mais agressiva. As escapadas de Kimmich no primeiro tempo estiveram longe de serem suficientes. Löw, então, lançou Mário Gomez. Mas quem fez diferença foi aquele que por duas vezes não pôde ajudar o treinador em grandes competições. Marco Reus ficou fora da Eurocopa de 2012 e do Mundial no Brasil por conta de lesões. Não estava no 7 a 1. Mas com um toque sutil manteve viva a chama alemã em Copas. O empate veio logo no início do segundo tempo e gerou um bombardeio alemão que só parava no goleiro Olsen.
A FORÇA SUECA E O DRAMA ALEMÃO
Dona de quatro títulos mundiais, nunca eliminada em uma fase de grupos, recheada de grandes jogadores. A Alemanha tinha tudo para virar o jogo, mas sofreu um duro golpe quando Boateng recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso. Os atuais campeões do mundo estavam com um homem a menos, e os suecos com milhões a mais. Uma das favoritas estava por um triz.
OBRIGADO, SUÉCIA?
Na quinta-feira, vagando pelas ruas de Sochi, encontrei uma dupla de torcedores suecos e pedi para tirar uma foto para registrar a presença deles já no local do jogo decisivo. Foram muito educados e, quando me identifiquei como brasileiro, agradeceram em inglês: "Obrigado pelo último Mundial".
No fim do jogo, quando ainda estava com o texto do empate quase no fim, lembrei da cena e pensei: será que agora eu que devo agradecê-los por praticamente tirar nosso carrasco do nosso caminho? Que nada...
A ALEMANHA SEMPRE GANHA
Falta na entrada da área da Suécia. Toni Kroos, o homem que não erra passe, está na cobrança. Eu paro por um minuto. Será? Foi. A cobrança morreu no ângulo e enterrou o texto que nunca será escrita. O meio-campista tocou para Reus e bateu no ângulo esquerdo do goleiro sueco. No fim, a Alemanha ganha: 2 a 1. Apaga tudo.
E AGORA?
Está tudo enrolado no grupo do qual sairá o adversário do Brasil (se a Seleção confirmar a classificação na quarta-feira, claro!). Mesmo o México, com seis pontos, agora corre risco, mas joga por um empate contra a Suécia, que precisa vencer e tirar no saldo. A Alemanha encara a Coréia e avança se vencer por dois ou mais gols de diferença. Só depende dela. Que pesadelo. E que aprendizado: quando se trata da Alemanha, é melhor esperar para escrever. Ela sempre vence, insistem em nos dizer.
FICHA TÉCNICA
ALEMANHA 2X1 SUÉCIA
Local: Estádio Olímpico de Sochi, em Sochi (RUS)
Árbitro: Szymon Marciniak (POL)
Assistentes: Pawel Sokolnicki e Tomasz Listkiewicz (POL)
Data-Hora: 23/6/2018 - 15h
Público: 44.287 pessoas
Cartões amarelos: Boateng (ALE); Ekdal e Larsson (SUE)
Cartão vermelho: Boateng (ALE)
Gols: Toivonen (31'/1ºT - 0x1), Reus (2'/2ºT - 1x1) e Kroos (49'/2ºT - 2X1)
ALEMANHA: Neuer; Kimmich, Rüdiger, Boateng e Hector (Brandt, 41'/2ºT); Kroos
Rudy (Gündogan, 30'/1ºT), Gündogan, Draxler (Mario Gómez, intervalo); Reus, Müller e Werner. Técnico: Joachim Löw.
SUÉCIA: Olsen; Lustig, Lindelof, Granqvist e Augustinsson; Larsson, Ekdal, Forsberg, Claesson (Durmaz, 28'/2ºT); Berg (Thelin, 43'/2ºT) e Toivonen (Guidetti, 31'/2ºT). Técnico: Janne Andersson.