Calor, cerveja e pagode: a viagem de brasileiros de Samara a Kazan para ver a Seleção nas quartas de final
Reportagem do LANCE! acompanhou grupo de 40 torcedores que foram de ônibus da cidade onde o Brasil eliminou o México para a que receberá o jogo contra a Bélgica
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"Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz..."
A letra é da célebre canção de Luiz Gonzaga, e esse país para um grupo de 40 brasileiros, no caso, é a Rússia. Eles querem descansar com o hexa, mas antes fizeram de ônibus o trajeto entre Samara e Kazan, de onde a Seleção Brasileira eliminou o México nas oitavas de final da Copa do Mundo para onde jogará as quartas contra a Bélgica na próxima sexta-feira. Foram cerca de 360 quilômetros e mais de seis horas de viagem, acompanhadas pela reportagem do LANCE!, que também estava no busão - que ficou colorido de verde amarelo.
A saída de Samara se deu na terça-feira por volta das 10h30, horário local, às 3h30, de Brasília. Os torcedores conseguiram o ônibus por intermédio de uma agência de viagem de Samara com a ajuda de uma brasileira que estuda engenharia aeroespacial na cidade. É Ohana Berger, natural do Distrito Federal, moradora da terra do astronauta Yuri Gargari desde fevereiro do ano passado, quando largou a Universidade Federal de Brasília (UnB) para se aventurar nos estudos na Rússia. Como já falava o idioma com certa precisão, ela divide o tempo entre os livros e a tarefa de ajudar brasileiros que passam pelo local. Com a Copa do Mundo, então, foi um prato feito.
Assim que o ônibus pegou a estrada, a maioria do grupo dos quarenta desabou nas poltronas. O cansaço fruto da festa na véspera, com a vitória de 2 a 0 sobre o México, batia à porta. Uns caíram logo no sono, enquanto outros tentavam dormir, mas brigavam com o primeiro desafio da viagem: o calor.
Durante toda a passagem do Brasil por Samara, a temperatura bateu na casa dos 35 graus. Nesta terça não foi diferente e por isso, no grupo de WhatsApp criado para organizar a partida, a pergunta sobre se o ônibus tinha ar-condicionado foi frequente. A informação era que tinha. Quando chegou na hora, porém, falhou. A viagem então teve de ser feita num forno. Os rostos suados denunciavam a dificuldade, e garrafas de água foram empilhadas. O corpo clamava por hidratação de tempo em tempo. No fim, o problema com o ar virou até piada. Brasileiro consegue rir nas situações mais adversas.
Para fugir do sol, valeu até improvisar uma bandeira do Brasil na janela do ônibus. Pode não ter resolvido, mas deixou o ônibus com mais cara de brasileiro, ao passo em que o veículo cortava as rodovias do interior da Rússia rumo a Kazan.
A passagem era bucólica, com muito verde. É louco imaginar que na maioria do tempo essas mesmas árvores e plantas que fazem do trajeto uma viagem agradável estão rodeadas de gelo.
Gelo que faltou na cerveja. Bom, é claro que o brasileiro não iria abrir mão de uma cerveja, ainda mais com o forte calor. No caminho alguns se aventuraram, mas a reclamação era de que a bebida não tinha a temperatura que estavam acostumados a ver no nosso país. Essa, aliás, é uma tônica na Rússia.
O jeito foi apelar para a música a fim de descontrair. Um dos passageiros teve a ideia de pegar uma caixa de som e o pagode rolou solto durante um trajeto da viagem. Ajudou a passar o tempo, embora o ritmo não fosse do gosto de todos.
No percurso, foi possível notar pelo menos três povoados pequenos, com casinhas de madeira, típicas na Rússia. Em cada um, chamava a atenção o cemitério, e cruzes cravadas no mato. Um dos vilarejos ficava nas margens do imponente rio Volga, que corta praticamente toda a Rússia. O sol forte e aquela imensidão de água formavam uma paisagem interessante.
No ônibus, aos poucos os torcedores foram se soltando, na medida em que conheciam. Houve três paradas para alimentação, compra de águas e mantimentos. Oportunidade para conhecer lugares bem específicos do país da Copa, como um restaurante no qual uma pele de urso descansa em uma das paredes, em típico cenário de filme de Sessão da Tarde. Deu tempo também para ver o jogo do Brasil. Em uma das paradas, a TV estava ligada no replay do jogo e alguns dos brasileiros aproveitaram para dar mais uma espiada no gol de Neymar e nas jogadas de Willian. Como é bom ganhar.
Havia brasileiros de toda a parte no ônibus. Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Velho, Malásia... Sim, um casal que mora no país asiático também segue a Seleção em busca de ver o hexa.
O motorista do ônibus era uma figura à parte. Oleg vestia uma camisa à moda havaiana que chamava a atenção. Os primeiros botões soltos, de modo que era possível ver seu crucifixo pendendo ao peito. Logo na primeira parada, o condutor aproveitou para se refrescar com uma garrafa de refrigerante, que muita lembra os nossos de maçã ou tutti frutti.
Aí você pergunta: e cadê a alegria e agitação dos animados brasileiros, cuja seleção está a três jogos do título? Cansados, estavam mais preocupados em repouso, conversa e líquido, seja lá qual fosse. Tudo bem, a festa pode ficar para sexta no duelo com a Bélgica. O importante foi que, depois de seis horas, todos chegaram bem, superando inclusive duas paradas policiais. A revista foi rápida, apenas solicitação de passaporte.
Essa é a vida de viajante na Clopa, guardando as recordações das terras por onde passa. E a vida do brasileiro é andar pela Rússia com gosto de hexa. A próxima parada é Kazan.
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