Jairzinho foi um ponta-direita com força física privilegiada e impressionante faro de gol. Atualmente com 73 anos, por onde passa é chamado como "Furacão". E é assim desde 1970... Naquele ano, Jair Ventura Filho ganhou da imprensa e de torcedores o apelido de "Furacão da Copa" pelo que fez no México. Ele marcou em todas as partidas daquela Copa, algo inédito e jamais igualado até hoje (antes, em 1950, o uruguaio Alcides Ghiggia até marcou um gol em cada jogo do Uruguai no Mundial, porém a Celeste fez só quatro duelos até o título). Jairzinho marcou sete gols em seis jogos em 70, sendo uma das principais peças da Seleção na conquista do tricampeonato mundial.
Jair disputou três Copas, em 1996, 1970 e 1974, com 16 partidas somando as três edições. Ele foi titular em todos os 16 compromissos, começando por 66, quando - vestindo a camisa 17 - acabou sendo eliminado com a Seleção na primeira fase do Mundial da Inglaterra. Jair jogava pela Seleção desde 1964 e já era um dos grandes nomes do Botafogo duas temporadas depois, quando jogou a Copa com 21 anos. Ele era reserva de Garrincha, porém foi escalado pelo técnico Vicente Feola como titular minutos antes da estreia contra a Bulgária, improvisado na ponta esquerda: "Feola tinha o hábito de escalar a equipe uma hora antes do jogo. Fomos para o vestiário e ele foi citando os nomes desde o Gilmar até o ataque. Quando chegou na ponta esquerda, falou: "Pela esquerda, Jairzinho". Quando ele falou isso, eu pensei: "Meu Deus, vou jogar uma Copa!" Veio essa emoção, essa adrenalina, mas por outro um contraste, porque eu nunca havia treinado com o Feola como ponta esquerda. Só que eu era peladeiro, gostava de jogar em todas as posições para poder sentir as dificuldades que a posição podia proporcionar. Falei: "Vou jogar, não quero saber". E joguei bem. Mas não fomos bem sucedidos nos outros jogos.
Na estreia, vitória do Brasil sobre a Bulgária por 2 a 0, com Jair atuando bem - mas passando em branco. No segundo duelo, 3 a 1 para a Hungria, de novo sem gol de Jairzinho. Por fim, 3 a 1 para Portugal, adeus precoce da Seleção Brasileira e nenhum gol de Jair. Ainda em 66, o ponta sofreu uma grave lesão, que colocou sua carreira em risco. Após entrada do lateral-esquerdo Oldair, do Vasco, Jairzinho teve os seus quarto e quinto metatarsianos do pé esquerdo fraturados. Um retorno depois de longo tempo e uma refratura quase imediata colocam Jairzinho e os médicos numa encruzilhada: ele seria o primeiro atleta a submeter-se a um enxerto ósseo na derradeira tentativa para que ele voltasse a andar direito (sequer se falava mais na sua carreira). O ponta, porém, voltou - apenas no segundo semestre de 1967: "Fui um dos pioneiros a receber um enxerto ósseo. O médico perguntou se eu tinha religião, porque se tivesse, era aquele o momento de apelar para a fé. Quando olho para trás e lembro do que veio a seguir, na Copa do Mundo de 70, nossa, fica até difícil descrever".
De fato, a Copa de 1970 foi mágica para Jair. O time comandado por Mário Jorge Lobo Zagallo tinha em campo cinco números 10 por seus clubes, que faziam a diferença no Brasil: Pelé, Jairznho, Rivellino, Tostão e Gérson. Os adversários sofreram, um a um, com o faro de gol de Jair. Na estreia, contra a Tchecoslováquia, o Brasil ganhava apenas por 2 a 1 quando Jairzinho marcou o terceiro e o quarto. No segundo jogo, jogo difícil diante da Inglaterra, decidido com gol de Jairzinho: 1 a 0. No terceiro desafio, 3 a 2 sobre a Romênia, com Jair balançando a rede quando estava só 1 a 0 para o Brasil: "Seis jogos e sete gols. Desde o lençol no Viktor (goleiro da Tchecoslováquia) até o gol do título contra a Itália. Fiz os gols que, no popular do futebol, esfriavam o adversário.
De fato, foram gols fundamentais para levar o Brasil ao tri. Nas quartas, bola na rede fechando triunfo por 4 a 2 sobre o Peru. Na semi, o gol do desempate em vitória por 3 a 1 sobre o Uruguai. Na decisão, o terceiro gol do Brasil em goleada de 4 a 1 contra a Itália. Além de campeão, Jair foi o segundo colocado na artilharia da Copa de 70, com três gols a menos do que o alemão Gerd Müller. Foi a Copa do Furacão: "Tínhamos um entrosamento à altura daquela Seleção, com muitas variações de jogadas. Tem um gol meu nessa Copa do Mundo que até o câmera da TV foi driblado, mas o Gérson já sabia o que fazer. Eu fingi um movimento, levei o marcador e o Canhota me lançou nas costas, com perfeição. No replay, o lance já mostra eu driblando o goleiro pra fazer o gol. Foram diversos pactos que envolveram aquela equipe. O principal deles: nós decidimos ser Brasil. Não tinha negócio de individualismo. A gente definiu que se fossemos campeões seríamos como grupo, como nação, como Brasil."
Em 1974, Jairzinho tinha 29 anos quando foi para o seu terceiro Mundial. Apesar de ter jogado como titular, o ponta foi para campo longe de suas condições ideais. "Eu já tinha o gosto da derrota, porque pior do que 66 não poderia ser, quando fomos eliminados na primeira fase. Em 74, fomos para a preparação com dois graus, três graus abaixo de zero. Isso influenciou nos nossos organismos e tivemos uma série de sequelas, como contraturas. Alguns jogadores ficaram até fora. Teve o Leivinha, que se machucou, o Zé Maria, com aquela saúde toda, teve contratura, o Piazza teve, Clodoaldo teve, e eu tive contratura no primeiro jogo, contra a Iugoslávia. Joguei a Copa toda com essa dor. E eu chorava porque queria jogar mais do que eu em 70, mas não consegui. Foi uma tristeza inesquecível." O Brasil não fez campanha ruim e acabou com a quarta posição, porém a expectativa era grande pelo tetra - que acabou demorando mais 20 anos. Jair ainda fez dois gols naquela Copa, diante do Zaire e o gol de vitória sobre a Argentina por 2 a 1, na segunda fase. Sem dúvidas, Jairzinho foi um dos maiores nomes da história das Copas do Mundo.