Os caras das Copas: Ronaldo, um fenômeno de gols e superação
Após duas graves lesões, atacante foi o grande nome do Brasil no título de 2002
Ronaldo e Copas do Mundo: uma história de quatro edições, dois títulos, 19 jogos e muitos gols - 15, para ser exato. Além de tudo isso, a saga do Fenômeno nos Mundiais também é marcada pela superação. Campeão como reserva em 1994 e vice depois de convulsão horas antes da final em 1998, o atacante foi protagonista no pentacampeonato da Seleção, em 2002, após sofrer duas graves lesões no joelho direito entre 1999 e 2000. A volta por cima foi coroada com a taça e a artilharia da competição na Coreia do Sul e no Japão, com oito gols. Em 2006, Ronaldo ainda se tornou o maior artilheiro das Copas do Mundo, marca superada apenas em 2014, pelo alemão Miroslav Klose.
Ronaldo chamou a atenção do mundo da bola muito cedo. Com apenas 16 anos, em 1993, ele já estava brilhando com a camisa do Cruzeiro. Sua primeira convocação para a Seleção saiu em 94 e o atacante conseguiu no "apagar das luzes" uma vaga no grupo do técnico Carlos Alberto Parreira para a Copa dos Estados Unidos. O garoto não entrou em campo naquela edição, mas conviveu com as feras daquele elenco - que faturou o tetra brasileiro - e ganhou bagagem para os anos que viriam. Foi na Copa de 94 que surgiu o diminutivo Ronaldinho, para distingui-lo do zagueiro Ronaldão, companheiro mais velho.
Ronaldinho foi para a Copa de 1998 cercado de expectativa. Medalhista de bronze pela Seleção Olímpica em 1996 e campeão da Copa América de 1997 e da Copa das Confederações no mesmo ano, o atacante viva fase iluminada. O ataque da Seleção na Copa da França teria a juventude de Ronaldo e a experiência de Romário, mas o baixinho foi cortado a poucos dias da disputa e o protagonismo coube ao mais jovem da dupla. Na estreia, contra a Escócia, a Seleção ganhou por 2 a 1, com atuação mediana de Ronaldo - que naquele jogo estreou uma chuteira azul e prata, inaugurando a era das chuteiras coloridas. No segundo duelo, saiu o primeiro gol em Copas, abrindo o placar em vitória por 3 a 0 sobre Marrocos. Os próximos dois gols seriam nas oitavas, em triunfo por 4 a 1 contra o Chile. O Brasil passou pela Dinamarca nas quartas e encarou semi eletrizante contra a Holanda. Logo no primeiro minuto do segundo tempo, o camisa 9 se colocou no meio da zaga rival e finalizou para balançar a rede. Os holandeses empataram e partida foi para os pênaltis. Ronaldo bateu e marcou. Depois, Taffarel pegou duas cobranças e o Brasil foi à final. Ronaldinho tinha crescido na fase final da Copa e o Brasil iria embalado para a decisão.
A final era contra a França, dona da casa. Aquele dia 12 de julho, porém, foi agitado negativamente para o Brasil. Cinco horas antes de a decisão começar, Ronaldo sofreu uma convulsão e foi levado para um hospital de Paris. A história oficial diz que o problema foi provocado por uma injeção de xilocaína (um analgésico) no joelho de Ronaldo e que a decisão de escalá-lo foi exclusiva do técnico Zagallo. A CBF chegou a divulgar uma escalação da Seleção, uma hora antes do duelo, com Edmundo no time titular e Ronaldo no banco, sem dar explicações sobre o fato. Porém, Ronaldo é que começou a partida e, longe de suas melhores condições, praticamente só "fez número" em derrota brasileira por 3 a 0. Mas este não seria o maior drama de Ronaldo nos últimos anos do século. Na temporada 1999/2000, atuando pela Internazionale, o Fenômeno - apelido ganho na Itália - sofreu uma lesão parcial no tendão patelar do joelho direito e ficou afastado dos campos por cinco meses. Na partida do retorno, o pé direito de Ronaldo ficou preso no gramado após lance em velocidade e o joelho não resistiu, se rompendo completamente. Ronaldo só teria condições de jogar dentro de 15 meses. E as dúvidas da torcida brasileira eram muitas.
Ronaldo voltou, após muito tratamento, em julho de 2011. Ele fez apenas dez jogos e sete gols na temporada 2001/2002 pela Internazionale. Diversos eram aqueles que desconfiavam do atacante, mas o técnico Luiz Felipe Scolari bancou a convocação do Fenômeno. Desde a recuperação, foram só quatro jogos pela Seleção até a estreia na Copa da Coreia e do Japão. O mundo do futebol queria ver Ronaldo e lá estava ele em 3 de junho, titular contra a Turquia. O camisa 9 fez o gol do empate em virada brasileira por 2 a 1. Nos outros jogos da primeira fase, ele marcou um diante da China (em 4 a 0 brasileiro) e dois frente a Costa Rica (em 5 a 2 brasileiro). Nas oitavas, mais um gol, em 2 a 0 diante da Bélgica. Nas quartas, passou em branco em jogo com brilho de outro Ronaldo - o Gaúcho, que agora era o Ronaldinho do elenco. Na semifinal, um novo encontro com a Turquia, mas Ronaldo entrou em campo "diferente", com um corte de cabelo que roubou a cena e ganhou o apelido de "corte Cascão": "Minha virilha estava doendo. Eu estava apenas 60%. Então raspei a cabeça. Todo mundo falava só do meu problema físico. Quando eu cheguei para treinar com aquele corte, todos pararam de falar da lesão". Ronaldo decidiu a semi, fazendo o gol da vitória por 1 a 0, e o "corte Cascão" foi mantido para a final, contra a Alemanha. Em Yokohama, o camisa 9 fez história. Primeiro, aproveitando rebote de Oliver Kahn. Depois, finalizando com classe na esquerda do goleiro. Era o penta brasileiro e o ápice de R9. Curiosamente, ele foi apenas o Bola de Prata da Copa, perdendo o prêmio máximo para Kahn. Seria a segunda Bola de Ouro de Ronaldo, que levou a honraria em 1998.
Em 2006, Ronaldo vinha em momento de baixa no Real Madrid e lutava contra a balança, mas tinha grande prestígio na Seleção - comandada por Carlos Alberto Parreira, assim como em 1994. O atacante - com 29 anos - formava junto de Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Adriano a linha de frente que recebeu o apelido de "Quadrado Mágico". O Brasil foi para a Copa da Alemanha credenciado pelo título da Copa das Confederações um ano antes e muito se esperava do poderoso ataque da Seleção. No entanto Ronaldo saiu do zero só na terceira partida da fase de grupos, quando fez dois em vitória sobre o Japão por 4 a 1. O segundo gol foi um marco, porque com ele R9 empatou com o alemão Gerd Müller como maior artilheiro das Copas, com 14 gols. Nas oitavas de final, Ronaldo conseguiu se isolar como recordista, marcando como nos tempos áureos. Arrancada para chegar na bola, pedalada ao driblar o goleiro e bola na rede. No entanto, o sonho de mais um título acabou nas quartas de final, contra um antigo algoz: a França. Porém, Ronaldo já estava na história.