Copa Tática: Japão e a preparação que não poderia ter sido pior
Seleção é a última das 32 da Copa do Mundo a trocar de técnico, apenas dois meses antes da competição: Vahid Halilhodzic deu lugar ao japonês Akira Nishino, ex-diretor
O Japão foi a última seleção a trocar de técnico antes da Copa do Mundo. Em março de 2018, Vahid Halilhodzic foi demitido após empatar com Mali e perder para a Ucrânia em amistosos. Os questionamentos sobre o desempenho eram coerentes, mas a decisão pareceu atrasada. Apesar de ter se classificado como líder do grupo que tinha Arábia Saudita e Austrália, o nível apresentado foi pouco convincente e o desgaste com os jogadores era irreversível.
A dois meses da Copa, Akira Nishino foi escolhido como o comandante. Na realidade, ele era o diretor de futebol e herdou o cargo. Símbolo de um dos momentos mais marcantes do futebol nacional, foi o técnico da vitória japonesa sobre o Brasil na primeira rodada dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. O discurso otimista contrasta com a sensação deixada pelas primeiras escolhas. A lista de convocados desperta muitos questionamentos. A clara aposta inicial é nos veteranos. Kagawa, Honda, Okazaki e Nagatomo ganham prestígio.
Se o resgate de referências pode apontar um caminho de reconciliação, ignorar o nível de nomes menos pesados significa descartar os poucos pontos positivos dos últimos anos. Embora a seleção principal viva anos delicados, o trabalho na base tem sido bom. Ritsu Doan, Shoya Nakajima e Yuya Kubo são alguns dos exemplos de nomes que despontaram nos últimos dois anos, conseguindo algum destaque em ligas europeias. Os três ficaram fora até da pré-lista. Outras ausências notáveis são Ryota Morioka, Hiroshi Kiyotake (sofreu com lesões) e Masato Morishige. Toshihiro Aoyama ainda foi cortado por lesão.
Ao longo das eliminatórias, dois nomes se destacaram em um coletivo que não funcionava. Yosuke Ideguchi foi um grande achado e imprimiu intensidade ao centro do campo, dando maior ritmo e chegada ao ataque. O problema é que a transferência para o Leeds em janeiro de 2018 acabou não sendo o salto esperado. Foi emprestado ao Cultural Leonesa, da segunda divisão espanhola, e quase não atuou desde fevereiro. Outro foi Yuya Kubo. Em 2017, se transferiu do Young Boys para o Gent e teve impacto imediato no futebol belga. O bom momento se refletiu nas atuações pela seleção, se tornando um destaque como ponta. Mas a novidade passou e Kubo perdeu espaço no segundo semestre de 2017. Ambos ficaram fora dos 23 para a Copa do Mundo.
A temporada 2017/18 também teve outros japoneses de destaque na Europa. Takashi Inui é um deles. Referência técnica na ponta esquerda do Eibar, disputará a próxima Europa League pelo Betis. Fora da lista, Nakajima foi uma das revelações do Campeonato Português pelo Portimonense, enquanto Ritsu Doan foi de promessa do Mundial Sub-20 a destaque do Groningen na Eredivisie. Ambos poderiam acrescentar bastante na linha dos meias, mas foram ignorados por Nishino.
Diante de mudanças radicais, o time vira uma grande incógnita para a Copa. É possível que a equipe titular apresente uma média de idade mais alta, com até seis jogadores acima dos 30 anos. Ao acreditar no potencial de peças mais rodadas, Nishino chama a responsabilidade e abre as portas para inúmeras críticas. Entre os veteranos, quem fez boa temporada pelo clube foi Makoto Hasebe. No Eintracht Frankfurt, funcionou como parte de um trio de zaga, ideia que Nishino pretende implementar na seleção. O problema é que o primeiro teste foi desastroso, com a derrota do Japão para o time misto de Gana. No amistoso seguinte, contra a Suíça, o técnico voltou a utilizar a linha de quatro na defesa, sistema de todo o ciclo. Outro problema é a insegurança recente do experiente goleiro Ejii Kawashima.
No meio, a disputa pode determinar a faixa de campo em que Honda atuará. Titular absoluto, pode ser o meia atrás do centroavante se a ponta tiver Usami ou Inui, ou partir dos lados para dentro caso Kagawa seja o escolhido. Em caso de 3-4-2-1, é Haraguchi quem passa a disputar a posição de ala com Hiroki Sakai, com o derrotado dando lugar a mais um meio-campista para compensar o recuo de Hasebe para a primeira linha. Neste caso, Oshima e Yamaguchi poderiam atuar juntos no centro do campo.
No ataque, não há um goleador confiável. Yuya Osako parece ter vencido a disputa, mas Okazaki é o maior artilheiro da seleção em atividade e, embora não tenha a finalização como principal virtude e nem tenha feito boa temporada pelo Leicester, pode ajudar a iniciar a marcação mais avançada, já que Nishino chegou a citar a pressão no campo ofensivo como um objetivo.
A sensação é de que o Japão vai ao mundial para tentar evitar um desastre. Seja pelo pouco tempo de trabalho ou pelas decisões discutíveis do novo treinador, a impressão é de que seria possível convocar e escalar um time mais competitivo do que a provável equipe titular da Copa do Mundo.
Diferentemente de copas passadas, em que o país tinha a realista missão de passar de fase (só conseguiu em 2002 e 2010), agora entra, teoricamente, como o mais fraco do grupo, ainda que seja uma chave sem muito peso. O equilíbrio é o que mantém as mínimas chances de classificação, mas qualquer ponto pode ser tratado como lucro, diante de um cenário tão pessimista.
Jogos no Grupo H
19/6 - 9h - Colômbia x Japão
24/6 - 12h - Japão x Senegal
28/6 - 11h - Japão x Polônia