Emocionado, Tite não fala sobre o futuro e lamenta: ‘É duro de engolir’
Treinador diz estar sentindo dor imensa, elogia futebol do Brasil e da Bélgica e exalta goleiro adversário por atuação na partida que encerrou o sonho do hexa na Rússia
Tite segurou-se, mas ficou com os olhos marejados mais de uma vez na entrevista coletiva após a derrota por 2 a 1 para a Bélgica, que resultou na eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 2018. O treinador repetiu que sente muita dor pela forma com que a Seleção Brasileira perdeu e não quis falar sobre o futuro - seu contrato com a CBF é até o fim do Mundial. A entidade tem o desejo de manter o treinador por mais quatro anos, até a Copa de 2022, no Catar. O presidente Coronel Nunes deixou a Arena Kazan sem falar a respeito: não respondeu sobre o possível convite a ser feito para que Tite renove.
- Estou aflorado. Não quero ser demagogo, o meu sentimento eu externei para a comissão, do orgulho de trabalhar com eles. Talvez tenha faltado algo, mas dedicação não. Temos orgulho do trabalho, um sentimento da derrota. Não tenho condições de projetar nada. Não falo nada de futuro, é inapropriado, momento de emoção. Não tenho condição de responder essa pergunta. Se eu disser que o legado é bom, vão dizer que estou valorizando. Fica a emoção do jogo. Daqui a 15 dias, tem discernimento maior para avaliações - disse Tite.
A emoção do técnico ficou ainda mais aflorada quando foi feita uma pergunta sobre o comportamento da torcida, que apoiou até mesmo na derrota.
- Vou dizer uma coisa: eles sabem avaliar. A gente às vezes despreza o conhecimento da torcida. Eles têm discernimento, aflora a dor. Está muito difícil falar com vocês, fica amargo, pesado. Pesa os 30 anos de carreira, mas o torcedor sabe avaliar o que aconteceu no campo - afirmou Tite, ao lado dos auxilares Cléber Xavier e Sylvinho e do coordenador Edu Gaspar na entrevista.
Ao falar da dor que estava sentindo, Tite chegou a segurar o aparelho de tradução simultânea disponibilizado pela Fifa e bater com ele na mesa. A visão do treinador é de que a Seleção Brasileira jogou bem contra a Bélgica e parou no goleiro Courtois, que foi o melhor em campo em sua avaliação. A Fifa deu o prêmio do jogo para De Bruyne, autor do segundo gol dos belgas.
- O aleatório existe, faz parte do futebol. Falar em sorte é depreciativo. O que eu gostei é que mesmo tomando o gol, tomou o segundo, a equipe manteve, criou, criou. Nós somos 8 ou 80, é extraordinário ou nada. Não é assim. O aleatório, o acidental, às vezes acontece. Hoje isso bateu. Dói estar falando isso. Não é desprezo. A Bélgica é uma grande equipe, o aleatório foi cruel demais, duro de engolir, duro, duro... - afirmou o treinador.
- A Bélgica teve competência, finalizou bem, é do jogo. Courtois não teve sorte, esteve bem. Fazer o quê? Falar em sorte é maneira de desprezar competência. Para mim o Courtois foi o melhor jogador em campo - completou Tite.
O Brasil finalizou 26 vezes, de acordo com os números da Fifa, e acertou o alvo em nove oportunidades. A Bélgica chutou oito vezes, três delas no gol. A Seleção ficou com a bola em 57% do tempo, contra 43% do adversário. Confira a íntegra da última coletiva de Tite, que sofreu a segunda derrota (a primeira por competições) em 26 partidas à frente da Seleção Brasileira.
Os erros de Fernandinho
"Eu quero fazer uma análise geral, é desumano falar em individualidade. Entendo futebol e vida como contexto, conjunto. Foi um grande jogo, contra um time de qualidade. Dominamos grande parte, criando. A Bélgica foi mais efetiva. O futebol tem efetividade como marca. Não é marcar pontos e vencer. Às vezes você está desequilibrado, às vezes pega um goleiro iluminado."
Teve pênalti em Gabriel Jesus?
"Falar de arbitragem soa como choro. Eu só gostaria de ter visto o VAR no lance do Gabriel, apenas isso."
Mais sobre o jogo
"Os números são compreensões apenas. É muito duro falar, um puta jogo. Duas equipes com qualidade técnica impressionante. Com toda dor que estou sentindo, com toda dificuldade, tenho discernimento. Quem gosta de futebol vai ter prazer de ver esse jogo. Quem não estava emocionalmente envolvido, deve ter falado: que jogo! Transições, pivô, que jogaço. Me dói falar isso, foi um grande espetáculo.
Sem Casemiro, suspenso
"Fernando exerce a mesma função, ele joga muito. Joga no City, que joga parecida com a gente. Tivemos dois terços do jogo na nossa mão. Quase que todo segundo tempo. Tivemos equilíbrio emocional com 2 a 0 atrás. Tenho de ter o discernimento, para passar as atletas, a capacidade de absorver o golpe."
Mais do jogo
"O futebol tem muitas variáveis. Tem de ver de forma global. Tem aspectos táticos, físicos, emocionais. A equipe deles tem jogadores tarimbados, Lukaku, De Bruyne, Hazard, Kompany, Courtois... Iluminado! O Neymar bateu aquela bola, ele tirou de mão trocada. Qualidade técnica. Não gosto de falar em sorte, o futebol tem um aleatório, mas não gosto de falar de sorte."
Trabalho na Seleção
"Como ideia, toda vez que um técnico consegue desenvolver o trabalho com tempo, ele consegue ir melhor. Não é só na Seleção, é no clube também. Quanto mais tempo você tem, você mexe com o emocional do atleta. Entre o ideal e o real, não dá. A minha realidade foi assumir em determinado momento e fiz de coração aberto. É o primeiro jogo oficial que a gente perde."
O time
"Uma ideia de futebol ficou clara. O Brasil sabe marcar alto, médio e atrasado. Ele tem contra-ataque e tem futebol construído. Ela mostrou isso. Talvez seja a equipe que mais tenha finalizado no gol. Uma das que menos sofreu finalizações, e está fora da Copa do Mundo."
Neymar e problemas físicos
"Neymar vem numa franca evolução, chegou no ápice das condições. Ele voltou na plenitude. A gente consegue perceber quando a cabeça pensa e o corpo responde. Voltou acima do que eu imaginava. Ele é muito bem dotado em termos físicos. O Fred teve uma pancada... A equipe voou fisicamente, não dá pra falar. Não foi isso que fez diferença, a equipe fez transições."