Em uma carta enviada à FIFA, um grupo de atletas iranianos pediu para que a entidade máxima do futebol, excluísse o país da Copa do Mundo. No comunicado, é solicitada a suspensão da seleção, alegando que a Federação Iraniana de Futebol fortalece a opressão e exclusão das mulheres no esporte. O documento foi assinado pelo renomado advogado esportivo Juan Dios Crespo.
Em meio às tensões que ocorrem no país, a defesa do grupo alega que a federação local segue as diretrizes do governo, contrastando com a premissa de ser uma organização independente. O documento também diz que se a Fifa não está ciente da influência do governo na proibição da presença de mulheres nos estádios, a Federação Iraniana é responsável por desrespeitar os direitos humanos.
O documento relata casos de jogadores e ex-atletas da seleção, entre eles, o maior ídolo do futebol iraniano Ali Daei, que apoiou o movimento e teve seu passaporte confiscado ao voltar da Turquia. Ali Karimi, Hossein Mahini e Aref Gholami também sofreram assédio e ameaça do governo, segundo o relato.
Em setembro, o grupo ativista de direitos humanos em esporte Open Stadiums também pediu a exclusão do Irã do Mundial, alegando que não há confiança de que as mulheres poderão frequentar os estádios depois do torneio.
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Neste ano, mulheres puderam assistir a um jogo da 1ª divisão após 40 anos, e em janeiro também foi permitida a presença de público feminino em um jogo da seleção contra o Iraque, pelas Eliminatórias para a Copa. Em abril, as autoridades decidiram não permitir a entrada de mulheres em um jogo da seleção no leste do país, o que causou muita indignação
O Irã vive um momento bastante tenso. Em setembro, a jovem Mahsa Amini de 22 anos morreu após ser presa pela polícia a moral, por ser acusada de não cobrir a cabeça de maneira correta, violando os códigos de vestimenta feminina do país, que exige o uso de roupas discretas.
A morte da jovem gerou revolta e uma onda de protestos que já duram um mês no país e que tiveram violentas repressões por parte do governo do país. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khomenei acusa EUA e Israel de influenciar nos distúrbios. O Irá está no grupo B da Copa com Inglaterra, EUA e País de Gales
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VEJA NA ÍNTEGRA A CARTA À FIFA
Um grupo de personalidades do futebol e esportes iranianos anuncia que, com a orientação e colaboração do escritório de advocacia Ruiz-Huerta & Crespo (de Valência, Espanha), um pedido formal foi enviado ao Conselho da FIFA e seu Presidente, Gianni Infantino, para suspender a Associação Iraniana de Futebol, Federação Islâmica de Futebol da República do Irã, com efeito imediato e, portanto, proibi-los efetivamente de participar da próxima Copa do Mundo, a partir de 20 de novembro de 2022.
A brutalidade e a beligerância do Irã em relação a seu próprio povo chegou a um ponto de inflexão, exigindo uma desassociação inequívoca e firme do mundo do futebol e do esporte. A abstinência histórica da FIFA em relação aos conflitos políticos tem sido muitas vezes tolerada apenas quando essas situações não se encontram na esfera do futebol. A situação das mulheres no Irã é profundamente desagradável no quadro político e socioeconômico mais amplo. Tragicamente, os mesmos males e injustiças são perpetuados dentro da esfera do futebol, significando efetivamente que o futebol, que deveria ser um lugar seguro para todos, não é um espaço seguro para as mulheres ou mesmo para os homens. As mulheres têm sido constantemente negadas a ter acesso a estádios em todo o país e sistematicamente excluídas do ecossistema do futebol no Irã, o que contrasta fortemente com os valores e estatutos da FIFA.
Se as mulheres não podem entrar nos estádios em todo o país, a Federação Iraniana de Futebol está simplesmente seguindo e impondo diretrizes governamentais; elas não podem ser vistas como uma organização INDEPENDENTE e livre de qualquer forma ou tipo de influência. Isto é uma violação do (Artigo 19) dos estatutos da FIFA. Esta disposição foi, no passado, a premissa para a suspensão de associações de futebol como a FA do Kuwait, a FA da Índia e até mesmo a Federação Iraniana no passado. A situação no Irã não é diferente do governo de um país que exige que a Associação de Futebol imponha uma proibição de estádios a pessoas de uma determinada raça ou etnia. Não é diferente de um governo que exige que uma associação membro mude a regra de impedimento em todas as ligas do país. Nesses outros casos, a FIFA provavelmente se moveria rapidamente para suspender tais associações membros, especialmente na segunda situação hipotética relativa às "Leis do jogo". A Federação Iraniana de Futebol claramente carece de autonomia para aplicar os Estatutos da FIFA pela carta, seus Regulamentos e, o mais importante, seus valores caros.
Se, entretanto, a FIFA pensa que a Associação Iraniana de Futebol não está sob a influência de seu governo, e está agindo unicamente como uma organização independente, então proibir todas as mulheres de entrar nos estádios e participar da Copa do Mundo viola os Artigos 3 e 4 dos Estatutos da FIFA (a FIFA respeitará e protegerá os direitos humanos reconhecidos internacionalmente). Pelo artigo 16 dos mesmos Estatutos, o Conselho da FIFA está estatutariamente habilitado a tomar medidas drásticas e imediatas contra eles. O Conselho da FIFA pode e deve suspender imediatamente o Irã.
A FIFA deve escolher um lado. A neutralidade da FIFA não é uma opção, dado que a FA iraniana não tem sido neutra, mas tem sido mobilizada para fortalecer a opressão e a exclusão sistemática das mulheres no ecossistema esportivo. Além das mulheres, o governo iraniano também abafou as vozes de vários atletas no país e impediu seus direitos de falar diante do mal em exibição. Jogadores da equipe nacional como Hossein Mahini, Aref Gholami e ex-jogadores proeminentes como Ali Karimi e Ali Daei, foram alvo de prisão, assédio ou ameaças do governo. Chegou a hora de a FIFA agir; basta.