Os ídolos em Copas que hoje presidem federações: eles dão conta do recado?
Artilheiro da Copa do Mundo de 1998 pela Croácia, Suker é presidente da federação local e alvo de críticas. Boniek, ídolo da Polônia, recebe elogios após gestão problemática de Lato
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Imagine que Romário estivesse na Rússia como presidente da CBF. Por mais que o Baixinho já tenha manifestado esse desejo, ver um ex-jogador, ídolo, no comando da confederação é algo hoje utópico, num modelo eleitoral dominado pelos cartolas tradicionais e políticas regionais. Pois há dois países na Copa do Mundo de 2018 em que as federações de futebol locais são presididas por ex-atletas que já brilharam no passado com as camisas de suas seleções no Mundial: Croácia, classificada às oitavas, e Polônia, eliminada que se despede nesta quinta do torneio, em jogo contra o Japão, às 11h (de Brasília).
Ídolo e artilheiro da geração que levou os croatas à semifinal na Copa de 1998, Davor Suker comanda a federação do país. A mesma situação vive Zbigniew Boniek, um dos maiores atletas da história da Polônia, com destaque na Copa de 1982, quando fez quatro gols e ajudou a levar a equipe ao terceiro lugar (ele participou também dos Mundiais de 78 e 86).
Suker é o maior artilheiro da história da Croácia: foi o maior goleador da Copa da França, com seis gols. Ex-jogador de Real Madrid (ESP) e Arsenal (ING), aposentou-se em 2003. Hoje com 50 anos, Suker comanda a federação de futebol croata desde 2012 e foi reeleito no ano passado para um mandato de quatro anos. Mas ter um ídolo do campo como cartola não é sinal de sucesso: Suker sofre com acusações de falta de transparência em sua gestão e tem sido atacado por parte da imprensa local pela maneira como conduz a federação.
- Ele é definitivamente o maior jogador croata de todos os tempos, mas a visão dele como dirigente é bem diferente. A primeira impressão das pessoas quando ele assumiu foi: "ótimo, ele é o cara para essa posição". Mas logo todos perceberam que ele pouco fazia para melhorar o futebol do país. O povo reclama que ele nunca está por perto. Por exemplo, em novembro de 2014, o maior clássico da Croácia, entre Dinamo e Hajduk, foi cancelado antes de a bola rolar e ele estava na Ásia. Foram quase 15 dias fora do país com um escândalo acontecendo. A opinião pública sobre o Suker é negativa - afirmou o jornalista Milan Stjelja, repórter e apresentador da croata Nova TV.
Zbigniew Boniek tem 62 anos e teve destaque na Roma (ITA) e na Juventus (ITA) nos anos 80. Ele vestiu a camisa da seleção polonesa de 1976 a 1988, ano este em que parou de jogar. Boniek teve ainda experiências como treinador de clubes menores italianos nos 90 e da própria Polônia, em 2002. Ele assumiu o cargo de presidente da federação após o fracasso do país nas Eliminatórias para a Copa de 2014, no lugar de Grzegorz Lato, outro ídolo, que saiu com a imagem arranhada. Boniek, por outro lado, tem recebido elogios.
- Boniek está com o objetivo de melhorar o nosso futebol como um todo. Isso se reflete na imagem da federação. No passado, era totalmente o contrário. Os dirigentes eram criticados por torcedores. É evidente que sua imagem de ídolo ajuda neste processo de reconstrução, mas poderia não ser uma garantia de sucesso. Antes de Boniek, outra lenda do nosso futebol, Lato, foi presidente da federação e seu trabalho foi um desastre. Agora a seleção tem um local para jogos fixo. Antes o futebol como um todo era uma bagunça, com escândalos - disse o jornalista Maciej Piotr, da polonesa Przeglad Sportowy.
Com a Polônia em crise por conta da eliminação precoce no Grupo H da Copa do Mundo, com duas derrotas para Senegal e Colômbia, Boniek apareceu à imprensa em Sochi, onde a seleção se concentra, para dar explicações.
- Somos uma grande família, no mesmo bonde. Gostaria de avisar que estamos cientes das críticas, devemos aceitar com humildade e procurar soluções - afirmou Boniek, que tem algumas medidas destacadas pela mídia local.
- Ele assumiu nossa federação em um momento muito conturbado, quando não conseguimos a classificação para a Copa passada, no Brasil, com uma campanha pífia na Eliminatória. A imagem da seleção para o torcedor não era de fato boa. Boniek escolheu as pessoas certas para trabalhar em volta dele na federação. Um site foi criado para aproximar a federação e seleção do torcedor - disse o jornalista polonês Sebastian Staszewsk, do Sport.pl.
Ao contrário da Polônia, a Croácia vive grande fase no campo na Copa do Mundo. A seleção fechou o Grupo D na liderança, com 100% de aproveitamento, batendo a Argentina por 3 a 0. A equipe liderada pelo craque Modric encara a Dinamarca nas oitavas de final, no domingo. Se vencer, vai enfrentar o vencedor de Espanha e Rússia nas quartas. Nada disso rende elogios à gestão de Suker na federação do país.
- Oficialmente vão dizer que ele fez muitas coisas. Por exemplo, ele se tornou parte do Comitê Executivo da UEFA, mas não avançou no futebol nacional. A infra-estrutura da liga nacional é ainda muito ruim. A federação se tornou ainda mais fechada para o público. O que se comenta é que quem comanda de verdade é Zdravko Mamić (outro dirigente) e a qualquer hora Suker vai ser destronado - disse Milan Stjelja, que destaca que 80% do comitê executivo do futebol croata, que elege os dirigentes, está nas mão de um único grupo.
Os jogadores da seleção nacional não costumam se manifestar sobre os problemas do futebol local e da federação croata. Dos 23 convocados para a Copa do Mundo, apenas dois atuam na Croácia: o goleiro Dominik Livakovic, do Dinamo Zagreb, e o meia Filip Bradaric, do Rijeka.
- Quando você pergunta aos jogadores o que eles pensam sobre Suker, ou qualquer coisa sobre dirigentes, eles apenas dizem: "não é algo que possamos fazer, não é uma questão para nós". Dá para dizer que os jogadores são totalmente desconectados da federação croata - comentou Stjelja.
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